segunda-feira, dezembro 15, 2008

Onde estás Saly?

Fiquei surpresa quando me disse que já tinha sido uma famosa bailarina de cabaré. Era impossivel para mim, acreditar que aquele frágil corpo com um espirito tão forte dentro de si, já tivesse usado da exuberancia dos corpetes cobertos de pedras, dos cintos de ligas, e de uma sedução selvagem para conquistar homens durante a noite.
Para mim ela não passava de alguém que fugindo da guerra em Berlim, estava agora a trabalhar na loja de fruta no cimo da minha rua. Questionei-a tentando compreender como é que tudo aquilo era possivel. Ela sabia mais que ninguem sobre pessegos, maçãs, bananas e até ananáses que não eram muito comuns numa altura como esta. Disse-me que tinha aprendido com um amigo judeu em Berlim. Antes da guerra e quando ainda trabalhava como bailarina, tinha um amigo que explorava uma pequena frutaria junto da residência onde habitava com o seu escritor americano. A confusão começava a alastrar-se cada vez mais. Estou certo que a guerra levou ao desmoronamento de muitas familias e muitos impérios, mas que fazia aqui na frutaria do lado, uma antiga bailarina de cabaré que tinha um amante americano?
Saly tinha vindo para a Holanda logo após Berlim se ter deixado afundar pelas teias da aranha nazi. Ainda resistiu ao moviemento por uns anos, segundo me contou, mas era impossivel conseguir manter sua profissão tão mal vista e desdenhosa, numa altura que Hitler era o unico que podia recorrer a este tipo de serviço mascarado de luxuria.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Amanhã, como hoje.


Observo-nos em outro momento,
que não este.
As mãos juntas e cansadas pelos dias.
A pele que deixou de estar engomada,
como hoje.
E as lentes dos oculos mais grossas.
Algo se mantem: continuas a não conseguir
ler as placas quando andas na estrada.
Continuamos juntos com a mesma intensidade
de hoje.
A minha cabeça cai sobre o teu ombro,
estamos pesados pelo tempo e
as conversas não são sobre futuro,
como hoje.
Vemos nos livros empoeirados
as fotografias de uma vida toda,
os sorrisos e a juventude,
os lugares e as histórias,
de hoje.
Reconhecemos nessas memórias que mudamos,
mesmo assim ainda vejo nos teus olhos
a luz de outros dias.
Ainda se sente o abraço apertado entre nós,
como o de hoje.
A certeza permanece intacta até ao final.
Como hoje e ontem, a tua rabugice
é a forma mais bonita de te contemplar.

terça-feira, novembro 04, 2008

Agora.

Abri a gaveta dos sorrisos
e olhei bem lá para o fundo.
Antes de poder reagir ao que vi
agarrei naquele que pensei não utilizar mais.
Limpei-lhe o pó e ajeitei-lhe os contornos
para que também isso fosse perfeito.
Fechei os olhos e ao ouvir o convite para
mais uma dança deixei-me levar.
Agora sorrio enquanto a voz me chama,
sorrio como se fosse este o momento,
o momento de todos os "para sempre".
Deixo-me levar devagarinho no caminhar,
deixo que os passos se elevem,
mesmo sem saber onde vou chegar.
Escondo o medo debaixo dos contornos imaginários
do bater do coração.
Agora é tempo de acreditar,
que o momento é o acaso,
que as coisas acontecem na velocidade certa,
que os olhares não se cruzam sem motivo.
Aqui estamos, agora,
no momento certo.
Porque é sempre possivel,
fechar os olhos, sonhar, e sorrir no ritmo do coração.

quarta-feira, outubro 29, 2008


Repara,
o coração ainda bate.
Depois do fim.
No calor dos dias cansados.
Ainda sinto o seu mover
o frágil batimento,
das cordas.
Marionetas,
de sorrisos pintados,
detalhes elaborados.
Mas olha agora,
Ainda bate,
Aquele que nunca vive,
o coração.
Da marioneta mutilada.

sexta-feira, outubro 24, 2008

João sempre foi um nome

João sempre foi um nome,
não sei se o teu.
Por momentos pareces ser,
uma outra pessoa possivelmente.
A escrita sempre foi uma paixão.
O amor dura sempre, para sempre
Até terminar.
Os anos, esses não contam.
Nunca te os contei.
Encontrei-te e perdi-te.
Que importa?
João sempre foi um nome
de alguém que conheço.
Outro alguém que não tu.
Nunca terás o nome,
se não for esse o teu rosto.
São as leis. As pessoas de
gravata no metro são
todas iguais e também
são sempre demais.
Mas tu não, João.
No dia em que descobrir o
teu nome, casaremos.
Numa cerimónia de mentira
- Eu Joana aceito...
e no teu lugar verei
a vela arriada
com medo de nunca encontrar
o porto de abrigo mais proximo.
E que importa?
João é apenas um nome.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Sinceridade - carta de suicídio.

A minha vida pode ser resumida como um conjunto de problemas que tive de resolver, mesmo sem querer. Não é minha intensão escrever uma carta que vos esclareça, como se tivesse enumerado todos os motivos. Nada disso. Amanhã morro e pouco haverá a fazer para me despertarem de novo. Tenho a certeza que mais uma vez vou tomar a decisão certa.
Gostaria hoje de declarar um conjunto de acontecimentos do meu quotidiano que me fizeram encurtar um caminho que deveria completar até ao final. Mas na verdade qual é objectivo de levar uma vida até ao fim? aos que sentem afecto à sua condição de mortais lamento dizer que, apesar de não ter morrido ainda, nada há a temer na morte. Vi isso nos olhos de todos aqueles que vi morrer.
A minha vida vai terminar e mesmo assim sinto remorços de permanecer vivo na memória daqueles que ainda verão na minha cara traços de alguma familiariedade. A esses, suplico que abandonem as minhas memórias e me deixem embarcar finalmente da verdadeira transcendencia.
Despedi-me da minha familia ainda novo. Desde que nasci que desejo acabar com tudo, mas a maldita da vida impediu-me sempre dando-me que fazer. Tudo começou com a minha mãe. Depois de algumas complicações durante o parto, a pobrezinha não resistiu e abandonou-me a mim e aos meus seis irmãos. Toda a familia ficou infeliz excepto eu. Eu sim, fui o melhor que aconteceu à minha mãe livrei-a de uma vida de sacrificio e trabalho. Pouco tempo depois despedi-me do meu pai e dos meus dois irmãos mais velhos. Por não ter força suficiente para segurar a corda durante a limpeza do poço, deixei cair as pedras e o lixo que tinha nas mãos em cima do meu pai. Os meus irmãos foram vítimas de um acidente. Sim, fui eu que os matei. Sempre senti que os meus dois irmãos eram infelizes. Trabalhavam dia e noite para ajudar o meu pai, que por sua vez passava os dias a embebedar-se e a bater nos filhos. Eu também apanhei muitas vezes. Mas ele levou a pior. O corpo morto e enorme do meu pai a cair em cima do suporte onde estavam os meus dois irmãos, eles os tres dentro de àgua cobertos com coisas que lhes levavam o corpo para baixo, mesmo até ao fundo do poço. Nunca esquecerei as suas caras.
Hipocritamente, os meus quatro irmãos ficaram desolados com a notícia. Nunca suportei gente hipocrita e por isso senti que devia lutar contra o sentimento mesquinho que era o deles. Resolvi assim vingar todas as falsas lamentações e acima de tudo, o facto destes não mostrarem qualquer tipo de agradecimento à minha pessoa. Desejava morrer mais que tudo, mas a vida, mais uma vez, obrigava-me a tomar medidas pelos que iam ficando.
Sim, fui eu. Tranquei a minha irmã dentro do forno de onde toda gente da minha familia comeu pão. E continuaram a comer, o pão e os restos dela. Um a um. A minha irmã desapareceu misteriosamente logo após o acidente. Andou a lamentar-se por aquela desgraça durante meses, passou dias a chorar na beira do poço, não aguentei e resolvi acabar com aquilo. Os meus irmãos~não compreendiam o porquê dela ter desaparecido, e eu apenas lhes disse: Vamos comer o pão que o diabo amassou. Estamos todos condenados pela vida.
Eramos apenas quatro à mesa agora. Gente viva sem motivo, pessoas a mais que me incomodavam, não queria morrer com assuntos inacabados. Não podia deixar aqui pessoas condenadas à morte, sangue do meu sangue, a viver uma vida errante à procura de objectivos e motivos para prolongarem a vida a um infinito inexistente.
Uma vez um dos meus irmãos perguntou-me porque é que eu tinha esta atitude tão derrotista com a vida. Apenas lhe respondi que não nasci para trabalhar até morrer, não nasci para fazer pessoas felizes e levar estalos como resposta.
No dia em que a minha mulher me disse que estava grávida fiquei fora de mim. Ela tinha feito com que atentasse contra as minhas convições. Convidei-a para colher flores flores numa tarde quente de verão. Foi descoberta por uns homens dois dias depois junto ao rio. Todos lamentaram que uma mulher tão nova e grávida tivesse um final daqueles. Dei-lhe tudo o que desejava. bati-lhe com uma pedra na cabeça e afoguei-a no rio juntamente com as flores que tinha apanhado, ela sempre me disse que queria morrer no campo. Não importava como, mas no campo. Libertei a minha mulher de um peso enorme que é condenar mais uma vida e ao mesmo tempo consegui liberta-la de existir. Os problemas somos nós e amanhã de manhã eu serei apenas um corpo numa casa vazia.
Da minha familia, sangue do meu sangue, ninguém mais causará problemas, ninguém tentará dar um novo sentido à existencia, apenas eu, corpo frio com um tiro na cabeça. Só eu tive o discernimento de adoptar um comportamento inteligente dando sentido à vida daqueles que me rodeavam.
A minha irmã que restava morreu em casa com toda a sua familia por causa de um acidente de gás. Todos disseram que Deus estava comigo porque naquela noite me senti enjoado e resolvi apanhar ar. O ar que apanhei foi de facto, o ar que saía da casa após eu ter aberto todos os bicos do fogão. Todos jaziam tranquilamente nas suas camas quando dei o alerta pela manhã.
Restavam apenas dois irmãos e se um deles não tivesse problemas de coração de certeza que ainda estava vivo após eu ter desabafado com ele.
A vida obrigou-me a estar farto de viver. quero acabar com tudo rapidamente, desejo a morte mais que tudo na minha vida.
Amanhã de manhã tudo terá finalmente um destino favoravel. O meu irmão a ser morto na aldeia vizinha e eu com esta carta entre a minha cabeça e a ponta da pistola.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Nunca recebi um livro com dedicatória.

terça-feira, outubro 14, 2008

O cantor melancólico.


No tumulto dos dias calmos
exploro o perimetro duvidoso dos teus gestos.
Procuro o instante em que vais ceder,
em que a corda, num dia de brincadeira
largará para sempre o que és, sem nós.
No cárcere dos dias furiosos
talvez encontre outro tu, outro eu
E um mundo diferente do outro,
Onde nos escondemos por de trás
de nós mesmos.
A ansiedade determina o vagar dos
ponteiros do relógio, e a cada
passo estamos mais perto de ver
o verdadeiro debaixo do nevoeiro nocturno.
A agitação do orgão mestre
e o incómodo da cadência determinada
de cada batimento indica a distância
de duas almas que não se encontram por
mais descobertas que estejam.

sexta-feira, outubro 10, 2008

silêncio criativo


Com a força de duas mãos taparam o grito
O impulso escondido atrás de um olhar apatico
A incerteza de escrever a palavra certa, a certeza
de se saber que não era nada disto que deveria ser feito.
O abstracto incomodativo de uma alergia sem causa
A doença como desculpa, hoje e sempre e mais uma vez.
Sempre a doença, de não ser, de não poder, de não nada.
Simplesmente é, e existe definitivamente
Dentro do lado colossal do meu ser,
Um desastroso mas necessário:
Silêncio criativo.

segunda-feira, setembro 29, 2008

Quero ser o António Lobo Antunes.

Um presente/conselho de um amigo chamado Carlos Vicente.
=)


Faltam alguns minutos para a hora que espero. Mesmo assim sinto que tenho todo o tempo do mundo para escrever algumas linhas sobre assunto nenhum. Sempre foi assim: a inspiração ou a falta dela, chegam sempre em cima da hora. Não me preocupo com isso, nunca me preocupei. Como daquela vez em que resolvi participar num concurso de poesia. Não ganhei nada. Pudera, os bons poemas vieram todos depois da hora da entrega. E foram tantos, tão bons e tão maus, mas sempre imensos. Não ganhei nada, nem uma estrofe se salvou. Talvez fosse um problema de inspiração, ou talvez o universo não estava sintonizado no mesmo canal que eu. Paciência.
Cá continuo à espera. No jardim onde se ouve água a correr de uma fonte e o trânsito infernal dos aviões para a portela. Sempre gostei destes contrastes embora aprecie muito mais os dons musicais da natureza. Não estou sozinha, uns bancos mais à frente uma mulher permanece apática. Sempre tive problemas com pessoas apáticas. Preocupa-me o que se passa lá dentro e é indecifrável cá fora. A apatia é como um presente vazio, alguém que não transmite nada cá para fora. Uma pessoa com inspiração invisível, que não se traduz em letras, nem em música, nem em nada. Tem os lábios vermelhos e fuma um cigarro com um vagar quase invejável. Não tivesse eu esta ideia de que sou diferente de todos os extraterrestres do mundo, que gostava de ser assim e fumar um cigarro com aquela delicadeza e indiferença ao mundo. Quem me dera não me preocupar com o tempo.
Essa é uma questão que consigo contornar com alguma astúcia. É por isso que escrevo, para condensar o tempo para todo o sempre. Cada linha é um momento meu em que o tempo não contou, mesmo sem inspiração nenhuma. Quando eu for velha, vou ler as minhas ideias alteradas da juventude e voltar a sentir o mesmo. Juventude condensada e mais um comprimido para as dores nas costas, lidas com mais cinco dioptrias em cada vista.
Agora que vou chegar atrasada ao compromisso a que me propus no inicio desta divagação, confesso porque escrevo: um dia quero ser interessante e culta como o António Lobo Antunes.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Literatura tua, completa.


Que sentimento é este que nos visita?
Prometi que não te escrevia mais palavras
em forma de poema, não prometi sentimentos.
E cá estamos nós, no meio de toda gente
a olharmo-nos como se o coração ainda quente
nos tornasse num só sem o tempo mudado.
O passar dos dias fez de nós, palavras de outros versos
das mãos do escritor vindo de outro universo.
Já vivemos o nosso tempo de miúdos apaixonados
Já nos amamos jovens, e saimos magoados
Agora julgamo-nos adultos que a vida ensinou a viver.
Acreditamos em possiveis recaidas
Mas não dormimos descansados sobre elas.
O possivel não muda nada.
E hoje é possivel, que no meio de toda gente
onde trocamos palavras e nos tocamos em poemas de olhares
Sentir o medo de avançar, até mesmo de perguntar:
Que sentimento é este que nos visita?
Agora que não me reconheces pelos olhos
Restos de amor que não se usou.

domingo, setembro 21, 2008

Há dias...



Eu juro, por todas as coisas sobre as quais não se deve jurar, que se eu mandasse em coisas que não são de ninguém, era a ti que dava o meu coração. [ Mas não posso]

Eu gostava de acordar o coração deste sono demorado e manda-lo a correr ao teu encontro, mas o meu coração só se sabe perder.

[Todos os dias a toda hora]

Eu quero acreditar que um dia me vais voltar as costas e lançar o teu coração ao céu. Quero acreditar que esse amor que desperdiço todos os dias, um dia se vai transformar numa estrela, o amor mais brilhante de todos os amores.

[Todas as noites procuro o meu coração num lugar perdido]

Se há dias em que me apetece esquecer que penso e que és tu quem me pode fazer feliz, também há dias em que me doí cá dentro o simples facto de te ver existir assim.

[mas todos os dias agradeço a tua presença]

sexta-feira, setembro 19, 2008

Across the universe

Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true
And then while I'm away
I'll write home ev'ry day
And I'll send all my loving for you.


Um dos filmes mais divertidos dos ultimos tempos.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Luz


Todos temos um pedaço dela
e ela é um pedaço em cada um de nós.
No sorriso trás pendurada a leveza
de nunca se deixar levar pela tristeza,
mas como nós também cai e se levanta.
Ela sabe voar num sentimento inebriante que a define.
Ela podia ser uma luz pequenina no céu do universo,
mas é a magia que faz girar o mundo.
O seu andar leva na nossa direcção
os passos demorados que não deixam o tempo passar.
Momentos rápidos, sempre a fugir
registados um a um como se fossem fotografias imaginárias
que guarda com carinho na memória.
Se o mundo fosse só dela, era um jardim encantado.
Nós seriamos flores, beijadas uma a uma
tocadas como se fossemos o bem mais precioso.
Da mesma maneira que somos tocados agora.
O nosso melhor lado é o teu.
O teu sorriso uma felicidade nossa.
(que não nos importamos de dividir com o mundo.)
Para a Raqéu.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Uma questão de sensibilidade


Trago no corpo o abecedário da sensibilidade
Em todos os recantos meus, apresento
uma nova maneira de interpretar os gestos.
Os lugares perdidos a caminho do coração
parecem já não vir nos mapas.
Hoje exploramos lugares diferentes, procuramos
sem chegar a lado nenhum, os caminhos
perdidos a caminho de nós.
Não nos encontramos nunca, e não deixamos
nada em nós vacilar. Desejamos um pouco
mais de nós, um pedaço disperso pelos olhares.
Desprezamos o mundo inteiro, [amo-me mais a mim]
e tu, do outro lado errante da vida
desejas-me de uma maneira tão ardente e solitária
que nunca me conseguirás amar.

sexta-feira, agosto 22, 2008

A letra A


Como se o sol nascesse mesmo à minha frente.
E nos braços cansados se encaixasse o calor dos raios quentes.
O Abraço.
Como se todos os dias vividos acontecessem hoje.
E a minha vida não fosse nada mais, que um filme de Amor.
Só me apetece sorrir, levantar os cantos da boca até às estrelas.
No cair demorado das horas há lagrimas nos olhos.
- Alegria. - Diz alguém que desconheço e me acompanha.
Como se a vida fosse um céu infinito.
Na mão outrora vazia, eis que surge o peso de outra vida.
Uma vida qualquer.
Histórias. Lugares. Silêncio. Segredos. Magia.
- Amigos. - digo eu.
Em forma de flores, cantados em músicas, espalhados pelo mundo inteiro.
Como se hoje todas as palavras necessárias começassem pela letra A.
Exactamente pelo ínicio.

quinta-feira, agosto 14, 2008

Aprender a andar II


Eu sei. A cada passo a vida corre mais depressa. Cada vez o cair é mais rápido e o levantar menos sofrido. Mas eu queria saber andar sozinha, sem escorregar mais uma vez em boas palavras, em sorrisos sem sentimentos. Já devia saber que é sempre um pé a seguir ao outro, saber que saltar de um lugar para o outro é mais complicado do que avançar calmamente. Olhar para a frente e vislumbrar o caminho calmo, sem grandes interrupções, era isso mesmo que eu queria hoje. Mas não. Hoje o que eu queria era ser outra pessoa e mudar o meu caminho de uma vez por todas.

segunda-feira, julho 28, 2008

28 de Julho.


Nos lugares de sempre perdi o rumo da vida, de quem eu sempre fui, de quem eu julgava ser. Noite após noite, de jardim em jardim, pousou em mim a nova realidade, o novo rumo. O destino traçado nas nossas mãos não é o mesmo que vemos à nossa frente, e acreditámos, como se fosse a ultima coisa possivel na vida. A vida terminou, aquela em que a esperança se concentrava em musica. Hoje sou tão livre, de jardim em jardim, flutuo como se não houvesse mais amanhãs, como se o amor estivesse a acontecer dentro de todos nós ao mesmo tempo. O meu olhar mais límpido sobre as palpebras pesadas da vida, não viaja agora sozinho. Nunca mais volto a acreditar no futuro sem acreditar em mim. A importancia de ser tanto para mim como para os que estão à minha volta. Amo todos os meus irmãos. Adoro os mil sorrisos todos de uma vez. Deixo-me levar e deixo a magia acontecer. Sorrio. Amo o dia de hoje e todos os dias de ontem. Hoje sou mais feliz. Hoje sou muito mais feliz. Mais eu. Passo a passo, na cedência certa. No demorar das noites, perco-me no teu sorriso iluminado pelo coração. Perco-me a sonhar.

sexta-feira, julho 25, 2008

O amor é aquilo que nós queremos que seja.

segunda-feira, junho 30, 2008

Peça de coração


1. Posso pôr-lhe o meu coração aos pés.

2. Se não me sujar o chão.

1. O meu coração está limpo.

2. Isso é o que vamos ver.

1. Não consigo tirá-lo.

2. Quer que a ajude.

1. Se não se importa.

2. É um prazer - Também não o consigo tirar.

(1 chora)

2. Vou tirar-lho com uma operação.

Para que é que eu quero um canivete.

Vamos já conseguir. Trabalhar

e não desesperar. Bom, conseguíriamos.

Mas afinal é um tijolo.

O seu coração é um tijolo.

1. Mas apenas bate por si.


H. Müller, 1982

quarta-feira, junho 18, 2008

Rasto do tempo.


Estranho, esse teu cair fora de tom,
magoado sobre o corpo frágil, sem dor.
Mesmo em cima de todas as costuras da
alma energica que te serviu na perfeição.
Hoje ainda és, mas a noite que chegar
tornar-te-á irreconhecivel aos teus olhos.
O barulho dos teus passos na minha direcção
vai desabar e apagar o rasto no tempo e
do mundo, nada mais restará de ti.
Uma estrada incompleta, o final de mais um caminho,
tens na mão toda a diferença,
entre um Hoje e um Amanhã.

segunda-feira, junho 09, 2008

E assim se fez o amor...

There I go, there I go, there I go There I go..
Pretty baby, you are the soul who snaps my control
Such a funny thing but every time you're near me
I never can behave
You give me a smile and then I'm wrapped up in your magic
There's music all around me, crazy music
Music that keeps calling me so very close to you
Turns me your slave
Come and do with me any little thing you want to
Anything baby, just let me get next to you
Am I insane or do I really see heaven in your eyes?
Bright as stars that shine up above you in the clear blue skies
How I worry about you
Just can't live my life without you
Baby come here, don't have no fear
Oh, is there a wonder why I'm really feeling in the mood for love?
So tell me why stop to think About this weather, my dear?
This little dream might fade away
There I go talking out of my head again, oh baby
Won't you come and put our two hearts together?
That would make me strong and brave
Oh when we are one, I'm not afraid, I'm not afraid
If there's a cloud up above us
Go on and let it rain
I'm sure our love together will endure a hurricane
Oh my baby
Won't you please let me love you
And give a relief from this awful misery?
What is all this talk about loving me, my sweet?
I am not afraid, not anymore, not like before
Can't you understand me?Now baby, please pull yourself together, do it soon
My soul's on fire, come on and take me
I'll be what you make me, my darling, my sweet
Oh baby, you make me feel so good
Let me take you by the hand
Come let us visit out there In that new promised land
Maybe there we can find
A good place to use a loving state of mind
I'm so tired of being without
And never knowing what love's about...
James Moody, you can come on in
And you can blow now if you want to
We're through.

George Benson Moody's Mood

terça-feira, junho 03, 2008

Se é isto o amor.



Nunca soubeste o que era o amor; o que
eu quero dizer é que tu sabias ler o amor
mas o amor é mais que isso: saber ler é
outra coisa que não é o amor; tu sempre
tentaste compreender o que os olhos diziam
mas tinhas as mãos a complicar-te a vida; As mãos
seguiam as letras; os dedos colados no papel
iam atrás das palavras para não te perderes;
Se tu soubesses o que era o amor deixavas-te
perder para a vida; o amor é perder tudo e
ser ultrapassado pela vida; sem esperança de voltar;
Não tiveste amor, nunca tiveste o amor na vida;
Querer ganhar, é no amor saber que se vai
sempre perder; e tu sempre quiseste ganhar;

sexta-feira, maio 30, 2008

"Etrange comme je t'aime..."


Saiu de mansinho para não a acordar. Ela estava na cama deitada de barriga para baixo e com um pé de fora. Espreitando da cozinha, só lhe conseguia ver o pé direito com as unhas pintadas de vermelho. Bebia café lentamente, enquanto pensava na noite anterior. Aquela tinha sido a noite por que sempre tinha esperado. Amava-a mais que tudo no mundo, desde que se tinham conhecidos ainda em crianças. Havia uma cumplicidade entre eles que o deixava muitas vezes paralizado e descrente da possibilidade de tal sentimento. Tinha medo que aquilo fossem sintomas da paixão, aqueles que desaparecem passado algum tempo porque as pessoas se despem e perdem as capas. Mas com ela tudo parecia diferente. Era um sentimento avassalador. Quando via o seu sorriso de felicidade por estarem juntos, sentia o mundo parar. Ela tinha o poder de o alienar de tudo o que acontecia à sua volta. Achava-se capaz de beija-la horas e horas seguidas, de passar dias inteiros na sua companhia, de passar o resto dos seus dias a conversar, no entanto tinha medo. Uma medo que não sabia explicar, uma insegurança que era o sentimento oposto ao que ela o fazia sentir.
Quando ela lhe bateu à porta, ele esperava o homem da pizza. Tinha ligado à meia hora e a entrega já estava atrasada. Abriu a porta com a carteira na mão e ficou a olha-la surpreendido. Ela abriu o seu sorriso ao mundo, ao seu mundo e agarrou-se a ele num abraço de cumplicidade. Quando o homem da pizza chegou o abraço teve forçosamente de terminar.
- Jantas comigo...
Jantou, fumou um cigarro na varanda, conversou de pernas enrroladas no sofá e beijou-o. Como se fosse a primeira vez, como se o mundo se desiquilibrasse e todo o amor lhes caisse em cima. Amaram-se mesmo ali, na suspensão temporal daquele sentimento. Não prometeram nada um ao outro, mas em segredo ela jurou ser feliz para sempre e esquecer todas as inseguranças. Ouviu um telemóvel a tocar e despertou de repente. Da cozinha alguém atendia:
- Bom dia amor! Como estás?

quarta-feira, maio 28, 2008

Comunhão.


As nuvens brancas que sobem pelo tubo da minha caneta
invertem o nascimento da escrita.
São terra que se desfaz nas mãos com o calor.
A terra misturada na erva. Qualquer uma. Palha. Seca.
E é nessa brisa que nasce do nevoeiro nocturno
que encontro o teu olhar atento. Apatico.
Os olhos estão escondidos dentro da cabeça e
observam somente ideias vagas.
A natureza alheia-nos dos problemas do mundo
e faz-nos sentir demais. O amor.
Num instante de maior lucidez vemos restos
de terra sobre a linha do destino e do coração.
Sentimos o odor do corpo a queimar.
Em plena comunhão sorrimos sem conseguirmos pensar,
na escrita manipulada pela natureza.

segunda-feira, maio 26, 2008

Julgamento das palavras. Acusação das pessoas.

Escondidas atrás das palavras andam as pessoas que não têm rostos. No dobrar das letras sobre as superficies várias, as pessoas vão desenham os contornos ideiais. As linhas perfeitas nem sempre são aquilo que nelas vemos. A mesma palavra pode ser lida da mesma maneira e entendida de dez maneiras diferentes. Dez mil maneiras onde se incluem outras dez mil palavras. Uma palavra julgada não é uma palavra acusada, até porque todas as minhas palavras aqui não te vão causar qualquer sensação a não ser estranheza e, essa é só uma palavra para um texto inteiro.
Tento compreender os significados, faço o esforço para entender o que me querem dizer. Nesse esforço encontro outras palavras em tom de julgamento. As palavras julgam-se umas às outras. As pessoas não tem esse direito. É por isso que nem sempre nos compreendemos, é por isso que muitas vezes vemos o mal e não o conseguimos resolver, o mal está nas palavras. As pessoas limitam-se a usa-las em vão.


"Pode ser que ela assim perceba." = "Quem não se entrega às palavras não faz a digestão dos meus poemas."

domingo, maio 18, 2008

O meu silêncio. Hoje.

Queria que soubesses ao me olhar, que este sorriso é feito de coisas boas. Tenho novamente um brilho nos olhos e uma alegria que pulsa a cada instante em que o coração teima em bater. É a alegria de viver, a alegria de continuar a sorrir para a vida. Porque eu sou feita disto, e tu sabes. Preciso de amor para sorrir sem parar. O amor que está no sorriso e nas mãos dos meus amigos, o amor dos dias de chuva e dos dias de sol, o amor nas músicas que me entram no corpo, na melodia, na letra, na sintonia. O amor da outra pessoa que me quer fazer feliz. Independentemente da quantidade de sois que possamos vir a ver juntos. É o amor que vivo hoje. O amor do momento e das coisas boas que me acontecem. Pequeninas e Grandes. Porque é disto que eu vivo e tu sabes.
Porque teimas em me tirar isto tudo? Porque teimas em me guardar para ti, em me proteger como se eu fosse frágil e não soubesse viver? Não foste livre sempre? Não sonhaste com a tua vida? Com um futuro feliz? Posso ser eu a tentar o amor desta vez, por muito errado que isso te possa parecer? Deixa-me errar sozinha. Julga-me depois, como fazes constantemente, culpando sempre os outros. Desta vez sou culpada. Culpada por querer tentar ser feliz, da maneira mais errada de todas. Mas tu não compreendes. Não fazes um esforço, o esforço que fazias sempre. E condenas-me com todas as forças que tens. Prendes-me a existência, quando podias falar comigo sobre tudo e sermos felizes as duas. Porque o meu amor é o teu amor, e a nossa felicidade é uma só.

É tão dificil chegar a ti, agora.....

terça-feira, maio 06, 2008

Sintonias cubicas de um mais infinito

Andei sem ver os passos largos de toda a caminhada,
passei sem querer por caminhos sinuosos sem nunca soltar a palavra.
Aprendi os dias e as horas, os minutos e o tempo.
Sei agora que andar para a frente não é igual a andar para trás.
E continuo, porque sei que amanhã continuarei a aprender
Mesmo quando o teu rosto deixa de se ver e os meus braços
não são compridos o suficiente para te agarrar.
Na planicie arrastada de mais um dia sei, que mesmo depois
dos vales e dos mundos, és tu que encontro nas primeiras
horas da manhã. Porque somos sintonia do universo.

quarta-feira, abril 30, 2008

Psicanálise

Hoje escrevo para não chorar.

Hoje o papel vai borrando letra a letra as lágrimas presas com força na ponta da caneta. E escrevo sem parar. Porque preciso de desabafar, porque é inutil gritar para o ar o que me apetecia cantar. É dia de não saber o que sinto, é dia de não me saber sentir. Bem. Mal. Mais ou menos, nunca. Não gosto de coisas mais ou menos. Aborrecem-me de morte coisas que estão para ser, coisas que nunca vão ser. E morro. Porque eu sim, posso morrer a cada palavra que mastigo calada. Engasgo-me. Antes morrer do que chorar. Que chorem depois por mim quem sobreviver. Se é que o sabem fazer. Dúvido. Que gritem então, que soltem para o ar gargalhadas cinicas. Mas não me deixem morrer descalça. Por favor. Sapatos de salto alto. Já que não choro ao menos que me deixem entrar no inferno a ouvir o barulho dos saltos no chão.


Hoje escrevo para não chorar.

quinta-feira, abril 24, 2008

A neta do meu avô.


Só me dei conta que já não era criança quando comecei a ver as pessoas morrerem. Quando somos mais novos a morte é algo absurdo com o qual imaginamos somente lidar quando crescermos e tivermos tempo para pensar. Quando a morte de alguém nos afecta o suficiente e sentimos necessidade de nos despedir deixamos de lado a infância. As crianças não lidam com a morte, as crianças respeitam-na mesmo não sabendo ao certo do que se trata.
Sempre imaginei que a morte fosse uma coisa boa até porque as pessoas que sabia mortas tinham sido vítimas de doença prolongada ou de velhice. Era natural interpretar as coisas como um ciclo, e não era por me dizerem na catequese que as pessoas depois de morte iam se encontrar com Jesus que achava tudo aquilo melhor. Era natural e acontecia a toda gente, chegava a hora e lá íamos nós, porque merecíamos não ser velhos e não estar doentes em outro lugar. Era bom pensar assim. Até que um dia o meu avô paterno resolveu se suicidar. E agora? Para onde vão as pessoas que morrem e não estão doentes? Porque é que ele não queria viver mais se, para uma criança de seis anos viver é a melhor coisa do mundo? Temos a mãe, o pai, os amigos, os brinquedos, a escola e o gato. Não percebi, e apesar não compreender que aquilo era mesmo uma despedida, estava mais preocupada em perceber como é que tinha acontecido. Eu sabia que havia um motivo. Foi a descoberta desse motivo que fez com que passasse do mundo das crianças para o mundo inexplorado dos adultos. Fui compreendendo a morte do meu avô ao longo dos anos. Gosto de pensar que morreu de desgosto, que se matou por amor. Morrer por amor é uma forma bonita de nunca abandonar a infância, afinal o amor é sempre possível. O meu avô suicidou-se por saber que a minha avó estava com um cancro terminal que em breve lhe tiraria a visão e também a vida. A minha avó não morreu da doença, a minha avó morreu para ir ter com o meu avô, porque depois da morte a criança que eu fui, acreditava que não havia mais nada além da paz de se estar como sempre se desejou.
Não fui ao funeral de nenhum dos meus avós paternos, estava ocupada a descobrir a morte e ainda não tinha noção do que seria uma verdadeira despedida. Como era de esperar vi muito mais gente morrer, pessoas velhotas, pessoas doentes e outros que morreram por amor.
Só com 11 anos descobri que a morte envolvia uma despedida e que isso era o mais difícil de tudo, depois de compreender os motivos. O meu avô materno adoeceu com um problema nos pulmões e passou muito tempo no hospital. Ainda não era muito velhote, mas era meu avô e por isso tinha de ser considerado assim. O problema da morte do meu avô estava ligado ao saber que isso ia acontecer e também ao facto de isso demorar tanto para acontecer, o que me arrastou num processo de adiar despedidas . Até um dia. Foi desolador. Depois de descobrir o que é a morte com seis anos, foi muito mais complicado aceita-la e conseguir despedir-me de quem não morre por amor, mas “por favor”.
Senti muitos remorsos de não ter ido ao funeral do meu avô despedir-me dele como fizeram outras pessoas que até gostavam menos dele que eu. Mas o meu avô deu uma ajudinha para se despedir de mim e nesse mesmo dia fez com que eu corresse sem parar atrás dele que ia num autocarro vazio. Corri até não ter forças. Ele ao ver-me parar, disse-me adeus e sorriu. Ele estava feliz, e disse-me para ser feliz como sempre fazia, chamou-me de neta. Foi um sonho. Nunca me cheguei a despedir do meu avô, tento o mais possível mantê-lo vivo dentro de mim e isso só é possível sendo feliz, como ele pediu. Hoje ainda há uma criança que vive escondida dentro de mim: A neta do meu avô.

terça-feira, abril 22, 2008


Espera por mim.
Deixa-me maquilhar as feridas antes de sair.
Não quero que me olhes com pena.
Não quero que repares que tenho passado.
Olha-me nos olhos e segura-me nas mãos.
Sorri, muito, com vontade.
Da mesma maneira que sorriem as crianças.
Sê solto de costumes e entrega-me a vontades.
Tenho tanta vontade de sentir.
Tanta vontade de destapar o corpo.
Que me arranhem com garras no amor.
Que me retalhem de novo o coração ao vento.
Espera por mim.

quarta-feira, abril 16, 2008

Ciclo vicioso


Estava sentada no sofá e fumava um cigarro. Pensava na vida. Pelo menos ela pensava que estava a pensar na vida. Estava alienada de tudo naquele momento devido ao que tinha fumado com os amigos na jardim em frente à sua casa. Os amigos, o jardim, os olhos vermelhos, a droga escondida no bolso, o furo no nariz, e os sorrisos. Nunca imaginou que a sua vida pudesse mudar tanto num ano só, mas o facto é que mudara imenso.
Os amigos eram parte importante da sua vida. Era com eles que bebia os cafés intermináveis depois do almoço, era com eles que falava de discos e de livros. Foram eles que a incentivaram a escrever poemas que eram lidos de barriga para o ar na relva do jardim frente à sua casa. O jardim era uma espécie de habitat onde eles se concentravam horas a fio, mesmo que não houvesse assunto, discos, livros ou poesia para conversar. Talvez por falta de assunto alguém trouxe a droga no bolso para ver o que acontecia. E aconteceu, muitas mais horas a rir sem parar de tudo, a falar de nadas que pareciam tudo, a contar o que não se tinha coragem, a criar laços transparentes entre eles ou baços,caso a memória do dia anterior persistisse. Foi numa dessas tardes animadas com droga no bolso que foram todos ao bairro alto fazer o piercing no nariz. Era um sonho desde sempre. De um sempre recente que não sabia ao certo onde tinha começado. Nesse dia quase todos fizeram qualquer coisa para satisfazer as hormonas ainda adolescentes e já cheias de estimulos.
Finalmente sou quem sempre quis, pensara. Estudava ainda para não ouvir o sermão dos pais, que cegos, nada viam mudar à sua volta. Fotografia é uma área bonita, dizia a mãe. O pai não dizia nada, vivia ausente afogado no copo do whisky que já tinha uma marca permanente na mesa da sala. Também ela bebeu muitas vezes das garrafas que encontrava escondidas na sala e na cozinha. Também ela se ausentava por minutos da vida, da sua vida, enquanto observava detalhadamente o comportamentos dos outros. Sorria. Sorria sempre que via alguma coisa de extraordinária como os sentimentos. A sua poesia era feita dos seus momentos ausentes e da vida dos seus amigos deitados na relva do jardim de barriga para o ar e com a droga no bolso.
O cigarro apagou-se pendurado na mão enquanto as cinzas jaziam no seu colo. Adormecera, cansada do ciclo vicioso da vida.

terça-feira, abril 15, 2008

Hoje é o meu dia mais feliz...

un, deux, trois, quatre, cinq, six, sept, huit, neuf, dix, onze, douze, treize, quatorze, quinze, seize, dix-sept, dix-huit, dix- neuf, vingt, vingt et un, vingt-deux...







Quem diria que aos 22, eu ia dar numa de Bad Girls...

terça-feira, abril 08, 2008

Tortura quotidiana


Era terça-feira. Passavam poucos minutos das nove da manhã, e contrariamente à sua habitual predisposição para dormir até tarde, não tinha sono. Muitos dos seus hábitos estavam de um momento para o outro a mudar drasticamente, e por muito que ela tentasse contrariar essa mudança o facto é que não tinha sono. Ainda na cama, virou-se de barriga para cima e quase sem forças levantou-se sem olhar para trás. Ficou sentada na cama. Observava as suas mãos. A pele estava seca e com manchas. Por mais que se quisesse esquecer de tudo o que se passava, havia sinais por todo o lado que mostravam que as coisas não estavam bem.
Entrou na casa de banho e evitou o espelho em todas as posições que se colocou. Olhou para a escova do cabelo durante alguns segundos e sorriu. Aquela era sempre a primeira coisa que fazia, pentear o seu longo cabelo ruivo. Mas hoje não. Agarrou na escova de dentes e abriu a torneira. Assim que começou a escovar os dentes, uma dor atravessou-lhe as gengivas e viu-se obrigada a parar. Os filamentos suaves da escova comprada de propósito para não a magoar entranhavam-se na pele e abriam feridas. As lágrimas pararam aquela rotina. De repente o espelho abriu o rosto à sua frente. A boca em sangue. A dor. A pele branca, seca e magra. E o cabelo que desaparecia de dia para dia. Enquanto se olhava no espelho chorava. Não tinha pena de si, mas também não aguentava aqueles sentimentos todos que a assombravam sempre que tentava fazer a sua vida normal. Estava esgotada, e todas as forças pareciam agora empurra-la em sentido contrário ao que queria seguir.
Lavou a cara e a boca e saiu de novo em direcção ao quarto. Pôs um lenço cor-de-rosa na cabeça que tinha sido oferecido pelas antigas colegas de trabalho, que agora só ligavam a perguntar como ela estava. Gostava de se ver assim, com aquela cor toda na cabeça enquanto deixava à vista algumas mechas de cabelo que lhe restavam. Eram mechas de cabelo que provavam que nem tudo estava perdido. Como se se tratassem de pedaços de esperança que viviam ainda agarrados a ela, pedaços de um eu agora em decomposição. Vestiu uma túnica de linho verde clara, um tecido leve e fresco, que lhe aconchegada o corpo, de todas as torturas que podiam neste momento ser as roupas para si.
Já na cozinha, tomou os comprimidos e sentiu as náuseas que desde ontem lhe aconchegavam o estômago. Era normal. Já estava a ficar habituada a toda aquela nova rotina, mas fazia tudo para a contrariar. Durante uns tempos ainda manteve o hábito de ir correr para a praia. Hoje não era capaz dessas proezas, o tratamento deixava-a fraca, os vómitos e a má disposição eram uma constante nos dias seguintes ao tratamento. Alimentava-se como se fosse uma criança, nada de comidas fortes e pesadas, tudo muito ligeiro, muito líquido, nada de fritos, nada de ácidos, só coisas frias ou à temperatura ambiente. Era como se fosse um passarinho, pouca comida de cada vez e várias refeições por dia, refeições essas que nos dias seguintes ao tratamento eram um autêntico suplicio.
Nunca se queixou de nada. Sempre que tinha de explodir tentava faze-lo quando estava sozinha e longe dos olhares de pena dos que rodeavam. Estava farta da frase “vai tudo correr bem!”. Era este o sintoma da doença que afectava os outros, as limitações de discurso. Sempre a ilusão, sempre a mentira, todos os dias o mesmo esperar. A mesma tortura quotidiana.

quarta-feira, abril 02, 2008

Turvar

Gostar demais
Sentir demais
Pensar demais
Errar demais
Esquecer demais
Provocar demais
Maré demais
Luz demais
Amar demais

As ilusões turvam o amor.

segunda-feira, março 31, 2008

Nas folhas infinitas do meu poema

Nas folhas infinitas do meu poema
faço rebentar o coração
partindo-o em pedaços de coisas vãs
Por palavras não se sente a dor
no corpo, a dor das àrvores
a dor da alma da natureza.
Amor em pedaços invisiveis.
Nas folhas infinitas do meu poema
estilhaçam-se nos ouvidos
as relações e as solidões sem gentes
é na alucinação dos sentimentos
que ambos o deixam de ser.
São só palavras e não coisas
desumanizadas
Sem alma, sem sentir
Nas folhas infinitas do meu poema
faz-se de conta no existir.

segunda-feira, março 24, 2008

Eu ou Eu

Sorrisos sinceros Sapatos Cores vivas Música dos anos 80 Heat of the moment Flores na Primavera Túlipas Brancas Bouquets Dançar sem ninguém estar a ver Olhares atrevidos Livros apaixonantes Músicas de uma vida inteira Rir de piadas sem graça Os melhores amigos do mundo Encontrar dinheiro esquecido Presentes feitos por quem oferece Tardes no café Ouvir música no mp3 Paris Vodka Preta Roupa de Verão Nadar Andar descalça Andar de carro à pendura Dar beijos na boca com o pezinho levantado Amor Abraços apertados Your Love O silêncio Escrever O solo de uma guitarra Poesia Mandar sms’s Acordar com ataques de sinceridade de alguém Fazer asneiras O cigarro perfeito Sinceridade Bryan Adams Tricot Malas Meias giras Bolinhas Tim Burton Tarantino Amélie Cinema Francês Miminhos Fotografia A minha máquina Lomo Artes do Espectáculo Teatro Shakespeare À Espera de Godot Johnny Depp Andar de Metro Correr Dormir Pianos de cauda O som dos pianos Cartas Escrever no meu Moleskine Conversas interessantes Cultura Psicologia Festivais de Verão Momentos de Introspecção Trapos Borboletas na barriga Ginásio Praia Segredos Miúdos pequeninos Placebo Blog Lugares e Luares Meus Jardim da Memória Pessoas Especiais Encontrar pessoas de quem tenho saudades Comprimidos para as enxaquecas Post Blue Straight From The Heart Pés Não dar conta das olheiras Rockeiros Estrelas Pôr do sol A lua cheia em boa companhia Acordar acompanhada e com beijinhos Lamechice discreta Bad Boys António Lobo Antunes José Luís Peixoto Reunião Toilette Conversation PiniWorld M80 Prima reguila Singstar Maquilhagem Cantar no Banho Massa Canetas Pretas Cadernos Pacotes de Açúcar Cenas Zen Bacalhau com natas Beijinhos da mãe A Fnac A palavra Solidão Melancolia Estar rabugenta com sono Limão em tudo Cariocas Lisboa Sair para beber café Viagens O mundo todo Tradições diferentes Saudades de casa O primeiro amor Artesanato Ir ao teatro com a mãe Grease Paixão Noites loucas de copos Ilha Hard Core Viseu A palavra mágica Concertos na Aula Magna Boas notas Falar sem dizer nada Bolo de Chocolate Avelãs Lixias Amar sem ter noção disso A Tainted Love para dar ideias arrojadas e tantas, mas tantas outras coisas para ser feliz…

domingo, março 23, 2008

Uma luz


Não estamos sós,
somos sozinhos um do outro
por de trás das portas onde escondemos
o recordar. Há uma luz que brota
de um sorriso sincero.
O amor.

segunda-feira, março 17, 2008

(Uma futura peça de teatro)


Celeste: Alguma vez olhaste para esta janela sem ver o que está lá fora??

Marques: O que estás para ai a dizer?!

Celeste: Estou a perguntar se alguma vez conseguiste olhar para a janela sem ver o que está lá fora? Não é fácil... Mas depois de tanto tempo aqui sentada acho que já consigo olhar em frente sem ver nada.

Marques: Cada vez estás mais complicada de perceber Celeste...Acho que deviamos pedir ao João para nos levar a ver as coisas lá fora de vez enquando. Faz-te mal ficar tanto tempo aqui fechada.

Celeste: Achas mesmo? Entre mim e a minha imaginação só está uma janela de quatro vidros transparentes. Mesmo assim, sou feliz por dentro. E olha que hoje em dia ser feliz é uma tarefa complicada.

terça-feira, março 11, 2008

Rua dos Morangos

A primeira coisa que vejo quando saio do metro são sempre os pombos. Ao contrário de toda gente, eu gosto de pombos. Encaro-os como uma espécie de tempero característico desta cidade que a cada dia que passa fica mais velha e adormecida em si mesmo.Ao subir a avenida, antes da rua dos morangos encontro de tudo. É como se fosse um centro comercial ao ar livre onde estão representadas quase todas as pontas do mundo. Pastelarias, todas com os mesmos doces nas vitrinas, talhos, que exibem gloriosos animais mortos pendurados por um gancho, frutarias, onde existem todos os frutos que se desconhecem, retrosarias, com artigos parados no tempo, sapatarias....O particular de todos estes cubículos é que metade dos comerciantes que se instalaram ali não são portugueses. Deve ser esse o motivo pelo qual penso sempre que aquela rua me faz lembrar uma Marrakech limpa e organizada. Depois de observar todo este andamento internacional, onde tenho de abrandar o meu passo cheio de pressa porque alguém leva a idade a pesar nos joelhos estou finalmente ao cimo da rua. Atravesso a estrada e entro num jardim, onde faltam flores no meio de algumas árvores que se vestem com calma para o início da estação. Contraditório a este pensamento do renascer da Primavera, este jardim é povoado por velhos. São tantos que por vezes nem noto a presença dos pombos quando ali passo. Estão sentados em bancos de jardim, em mesas onde jogam às cartas, ou mesmo de pé conversando uns com os outros a memória de outros tempos. Sempre que ali passo atravesso o jardim na diagonal onde me cruzo com aquela flora dominante e onde encontro sempre a figura particular. Essa figura particular é um velhote que se veste com fatos de treino de tecidos estranhos usados nos anos 90 e que fala sozinho como se fosse um deputado. Tem dias em que anda de pé de um lado para o outro para mostrar o seu descontentamento, em outros dias está sentado a olhar para o chão e a falar baixinho. Junto dele existe sempre um cão castanho, grande e fiel. Suponho que seja o seu cão, o seu fiel amigo que o escuta em todos os momentos e assim se integra naqueles pedaços de representação do real. É um quadro vivo, que além de mim, poucos dão atenção.Ao atravessar a estrada entro na rua dos morangos. A rua dos morangos não se chama rua dos morangos, mas gosto de pensar que sim. Nesta rua há imensas lojas de comércio tradicional, o comércio português adormecido que contrasta com a rua anterior dos meus passos. Aqui parece que nada andou nas linhas do tempo. As mercearias fazem lembrar as lojas da aldeia com tudo pendurado à porta. Existe, mais a baixo, uma senhora que faz arranjos de costura numa máquina antiga a pedal, e onde podemos ver pela janela um pequeno atelier cheio de bordados e coisas que eu pensava já não existir. Há pequenos cafés com apenas duas mesas lá dentro para clientes, duas padarias onde numa estão sempre três mulheres à conversa, e a outra está sempre fechada à hora que passo. Quase no fundo da rua há uma loja de mobílias que parece ter ido buscar todos os artefactos às casas das nossas avós, no entanto as mobílias estão imaculadas e ainda não estiveram em casa de ninguém. A rua dos morangos parou no tempo. Mas na rua dos morangos começou agora a primavera. Em todas as frutarias ou mercearias ao longo da rua existe pelo menos uma caixa de morangos na porta. São essas caixas de morangos que todos os dias mudam de preço devido à fragilidade do fruto e que dão um cheiro característico à rua dos morangos. Metade das vezes são frutos pequeninos, já meio pisados de tantas escolhas. A rua dos morangos parece ter adormecido há vinte anos para despertar agora com rugas. Há pessoas nas janelas que vêm passar os carros, velhotes que se arrastam pela calçada a cima com pequenos sacos de compras, por vezes morangos, muito poucos morangos no saco.

quarta-feira, março 05, 2008

Colagens

Do que é que precisas?
Harmonia perfeita num só lugar
grandes dias pequenos mundos, que fizeram história
A estória, porque é bom ler. Cartas
Livros, a palavra mágica... ninguém vive sem plavras.
para grandes males a arte do José Luis Peixoto e o
Johnny Depp requintadamente belo, envolvente e apaixonado
Os sonhos, as ilusões, wings
Ser criança! mais mimos sem fim
Paixões fortes, olhar sem medo
A desordem da sua vida, a mudança.
O lado selvagem da vida e da morte
O tempo, as horas, a janela e o vento
A amizade é já um manual de sobrevivencia. A única
Grande receita que talvez não resolva o
que não costuma fazer sentido mas
muito relevante
A amizade não tem preço. Não tem mesmo.
E cá estamos nós de maõs dadas, Fipa dançando o universo da alma.
bi-jou-x


[Isto são pedaços de revistas colados de modo coerente, que serviram para colocar sorrisos na cara de uma pessoa]

Partida --------------Chegada


Vesti a camisola vermelha que deixa o umbigo de fora.
Corri pela rua, descalça, com o maior sorriso que conseguia segurar.
Agarrei as tuas mãos e olhei-te nos olhos de uma só vez.
Tocamos todas as músicas que amamos num só olhar.
Dissemos as palvras através das notas de um reportório do passado.
Aquilo que o coração sente é música, o compasso certo de uma arritmia apaixonada.
É nessa cadência agora ritmada pelas ideias descansadas que corro de novo.
Com a barriga a sentir o vento que já não se cola no corpo presente encoberto.
Ficaste ao longe, muito perto da memória, na efemeridade que foi tudo aquilo que passou.
A viagem, finalmente, encontrou o seu destino.

domingo, março 02, 2008

Um.




Há um silêncio que anoitece o nosso encontro.
A espera arrastada no comunicar dos corpos
Na ousadia contida na ponta dos dedos
A noite que cai sobre o nosso encontro.
Faz-nos mais sós do mundo, a escuridão.
O equilibrio das palavras amarradas
nas bocas, transparece a harmonia
Do bater do coração
Sem palavras, o grito abafado do abraço
Uma única emoção no acender da luz
Há uma noite em nós
Onde começamos dois e acabamos,
Um.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Céu



O céu de retalhos brancos
de nuvens mal semeadas
faz florir a Primavera desta manhã.
O azul contraste que é o céu
de verdade, concretiza-se
como o fundo da questão.
A resposta de uma existência
em plenitude, mesmo com
nuvens cinzentas que fazem pesar
a incerteza da estação.
Pedaços de calor a variar
com as horas, e as cores que
se alteram na iluminação dos dias.
Eu, confusa, no céu de retalhos brancos
de nuvens mal semeadas,
pedaço de Primavera indefinida
num quadro impressionista.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Paris


Passaram o dias devagar. Os dias agarrados aos nossos momentos. Os nossos momentos agarrados às luzes toscas dos candeeiros nocturnos. No chão estava marcado o roteiro imaginário sujo pelos passos dos desconhecidos. Depois há música a todos os instantes. Nos olhos, nas mãos, nos gestos, nos pés. Nos pés que nos fazem caminhar sobre as luzes, enquanto apagamos o rasto de outros que passaram antes de nós. Nos momentos que nos condenam a instantes vagarosos que recordaremos para sempre haverá Paris.

domingo, fevereiro 17, 2008

Olhos do Mundo


Reconheço os teus olhos em todos os olhares.
No meio de multidões inteiras é único o teu brilhar.
Na tua maneira de ver há outro mundo.
Aquele que existe por de trás dos teus olhos.
Uma história que podia ser contada em silêncio
Se os teus olhos falassem, e se os nossos olhares
um dia se cruzassem.

sábado, fevereiro 09, 2008

Quebrar um verso de amor.


Devoramos palavras inteiras, dias e noites
de beijos roubados, de amor trocado por
alimento. da vida não podemos pedir mais que poesia.
Palavras equilibradas em amor.
Gestos cheios, porque nos bastamos na luz que
anoitece. Porque somos medida suficiente
do amanhecer.E somente porque amamos.
não rimamos. Somos palavras do mesmo verso
em branco. Não temos música poética,
silênciamos a palavra num beijo, por ti
seria capaz de quebrar um verso de amor.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Bilhete para colar no frigorifico



Ocupa os espaços deixados em branco no meu ser, vem devagar e trás contigo a paz, aquilo que eu procuro parece difícil de encontrar no universo. Podes acordar mal disposto, eu retirarei o que disse na noite anterior. Amar-te-ei. Que me resta mais se não amar? Deitado no sofá pareces tão distante, pareces vindo de um lugar diferente. És tão importante por seres assim, por teres o cabelo fora do lugar e um aspecto desarranjado. Na tua t-shirt verde alface que já vi tantas vezes encontro-me a mim, molécula que se agrega a ti e te esconde o corpo perfeito. Trouxeste-me tudo, tudo, tudo. E eu ainda ouso pedir-te mais. Não vás. Nunca me deixes. Nunca me deixes partir zangada a dizer disparates. Que não preciso de ti. Que o meu coração já não bate. Quando isso acontecer corre atrás de mim. Agarra-me contra uma parede. Aperta-me os braços com jeitinho e lança o teu olhar para dentro do meu. Diz-me baixinho. Olhos nos olhos. Amo-te. Só isso. Basta. Só quero que me ames mais um bocadinho. Que não me deixes fugir. Ouço os teus passos na noite. Chegas tarde tantas vezes. Eu não me importo de te ir dormindo a presença ausente. Não fazes barulho. És quase invisível na tua presença. Entras na cama devagarinho e beijas-me o mais possível. No fundo eu sei que me queres acordar. Despertar para o amor. Como sempre fizeste. Tirar-me da vida latente. Abraças-me e dizes que sentiste a minha falta. Depois há os dias. Os dias. Em que falamos alto porque não nos conseguimos ouvir. Ralhamos. Eu sempre mais que tu. Eu que sou mais fraca. Preciso de falar ainda mais alto. Falo na linguagem do disparate e não sei o que digo. Tens ciúmes. Eu também. Tens razão. Eu também. Temos amor. Pois temos. Acabamos encostados à mesa da cozinha. Encostados um no outro, com o coração próximo. Temos um só coração. Com os ritmos cardíacos a suavizar um no outro. Com os corações a aquecerem-se. Temos um só coração. Um coração sem voz. E duas bocas que falam demais a língua dos disparates. Vemos filmes. Falamos sobre os filmes. Tu cantas músicas no meu ouvido. Eu leio-te poemas enquanto finges dormir. Sei que finges. Vejo o teu sorriso a abrir. Palavra a palavra. Gesto a gesto. Somos o amor todo. Umas vezes mais outras menos. Mas sempre amor. Gosto de dormir na tua barriga. Tu gostas de dormir no meu peito. Gostas de falar e rir. Deitado de barriga para o ar. Os dois em cima da cama. Rimos até doer a barriga. Fazemos de conta que somos crianças apaixonadas. Nós somos crianças apaixonadas. Nem sabes o bem que me fazes, digo. Vem deitar-te de novo comigo, respondes. Não posso. Estou atrasada. Eu tenho de sair. Saio sempre mais cedo. Deixo-te um bilhete escrito no vidro da casa de banho. E tu envias sms quando o encontras. Quando eu chegar terei um miminho teu. Eu sei. Obrigada por teres aparecido. Por teres existido sempre. Por me abraçares. Por não dizeres nada quando os silêncios não são para preencher. Por compreenderes. Por desatinares. Por me fazeres ouvir a mim mesma. Por tudo. Só mais uma vez.

"Amo-te quase demasiado."




Destinatário ausente.

Marie et Julien

Há um abismo entre mim e ti
Não sei como o contornar.
Não me deixes dormir, peço-te.
Amo-te e sinto-me perdida.
Faz de conta e eu continuarei a acreditar.
Não compreendo, e o que não compreendo assusta-me.
As diferenças nos gestos, no olhar, no sentir.
Nunca reparaste. Mas eu sabia.
É uma tortura.
Sou eu e não o sou para ti.
Rasgas-me em duas cortada de alto a baixo.

É preciso fugir de pessoas infelizes.
É umas questão de sobrevivência.
[Por isso te libertei]

domingo, fevereiro 03, 2008

Café com tempo

Encontro nos cheiros das coisas de hoje o conforto dos momentos de outrora. É muito mais fácil assim recordar, sorrio. Esta espécie de alegria que me encerra o sorriso sincero ajuda-me mais uma vez, hoje. Agito o café vagarosamente com a colher. É nele que está o cheiro dos dias, é neste aroma que oiço as conversas que tive sentada em mesas de muitos lugares. Aqui o tempo arrasta-se pelo chão e demora a passar. É no vagar de hoje que encontro as significações dos dias agitados, do telefone a tocar, das combinações. Agora a pressa está no arrefecer do café. Não há horas para encontrar, não há autocarros para apanhar, nem estradas para percorrer. O horizonte está todo condenado aos diâmetros da janela. É nesse brilhar de luz que se esmorece ao final da tarde que o fumo do café se atrvessa.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Aprender a andar

Não há limites para o teu amor.
Nem barreiras que contenham a água.
As lágrimas de correr,
Salgadas no doce do teu rosto.
Como os fios, os rios
do teu cabelo sobre os ombros
que chegam às mãos guardadas
nos bolsos.
Onde escondes os tesouros
e pões as migalhas do pão
no sitio onde tens também o coração
Nos bolsos, rotos
onde perdes paixões que
descem as pernas, que caem
nos sapatos e não te deixam correr.
O limite está no andar, nos passos do coração.
Dentro dos sapatos sem atacadores.

domingo, janeiro 27, 2008

O teu único Poema.


Fiz a tua digestão,
momento por momento,
fotograma a sorriso.
Atravessaste todo o meu organismo de uma vez,
Eu nunca te quis consumir assim
Sou-te doente, eu fiquei doente de ser
como de sentimentos flutuantes.
É por isso que agora escrevo.
Para te gastar as palavras pela primeira vez.
Estas palavras são unicas e têm nelas
os restos de nós, os olhos e o coração.
Foste uma virgula na minha vida,
marcaste o ritmo e fizeste-me odiar pontuação.
Quebraste a minha velocidade de sentir,
abrandaste a pulsação dos dias compridos.
Paraste o relógio de corda, por não saberes ler.
Condenaste-nos. A ti, nem mais uma palavra,
das pouco sentidas. Exactamente como admiras.
Afogaste-me na tua vacuidade intrinseca,
no teu estado latente de felicidade.
Este é, e será, o teu único Poema.
Sou livre.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Memória

Senta-te no meu coração de pernas cruzadas como faziamos
antes do tempo.
[da tua ausência]
Abre o livro da vida e lê-me
as histórias
as que esqueço sem querer
as que o tempo não perdoa.
[em mim]
Deixa-te ficar aqui comigo
no aconchego das palavras
no tempo nosso agora suspenso
[na memória]
O meu coração é uma sala vazia
aqui
imortalizaremos a doçura das recordações
Um dia esqueço os contornos do teu sorriso
de vez. Se não vens.
O sorriso das tuas fotografias.
[O único que lembro]



Um poema dedicado à memória das nossas ausências mais sentidas.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Batalha de corações


No dia do desmantelamento do coração,
a alma deixará de pesar.
O sentimento amorfo dentro do corpo
baixará para sempre as armas
à nostalgia mórbida das recordações.
O abarracamento serve para pousar o pó
e para sentir o aficamento definhar.
O coração aguerrido não quer parar de bater,
mas a artilharia ficou dispersa nos terrenos,
e as armaduras destruidas pelo fogo
jazem agora sem vida por dentro.
Sobre o levantar da bandeira lavada,
dos lençóis suspensos no arame,
abandonaremos o amor no campo de batalha.


Perdemos para sempre esta guerra.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

O primeiro poema da manhã


Dos dias maus apago tudo,
apenas te acendo o cigarro perfeito.
Lanternas toscas é o que somos,
iluminando os rostos para acreditar no reflexo do espelho.
Todos os dias procuramos uma coisa diferente
nos dias menos bons viramos o reflexo ao contrário
e perdemos esperança na alegria.
Dos dias maus apago-te a morte
e acordo-te para a vida.
Como se fosse um sabão sentimental
que dá para esfregar a alma.
Fosse eu alguma coisa para ver que
os dias apenas nos atiram terra para cima.
Dos dias maus guardo o pó
e deito-te fora as perfeições,
cada vez somos mais sós,
cada vez somos mais o que somos.


[Fipinha, as palavras são tuas! a inspiração és tu!]

domingo, janeiro 13, 2008

Palavras com cheiro a tempo.

Incerteza. dúvida.pensamento que divaga ao sabor do que se quer,
do que nunca se terá, porque tudo se transforma quando é real.
Incerteza dos dias, se chove, se faz sol, se é hoje e amanhã.
Dúvida. mistério. Busca. procuro-te no tempo, no hoje e no ontem
(eu já me cruzei contigo e perdi-te por nada) no amanhã.
Nunca te encontrei perto da janela, encostado à ombreira da porta
com um sorriso solto deixando escapar gargalhadas mudas com os olhos.
E eu sei que não te consigo ler. No dia em que decifrar a tua linguagem
conhecer-te-ei como os dias conhecem as noites, amando-se demoradamente.
Busco-te em todas as linguagens, a das palavras, a dos gestos, a dos olhos,
a das mãos e a do silêncio.
Busco-te para que me preenchas os silêncios e os tornes preciosos.
Sem palavras, sem nada. com tudo.
Busco-te.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Somos


Aplico-te a minha literatura estranha sem pontuações.

Escrevo-te poemas com os olhos só para chamar a tua atenção.

Na ponta da caneta estrangulo palavras até ao último suspiro.

A última hipotese das minhas palavras são os teus olhos.

Tudo é confuso e indefinido entre nós.

Escrevo-te sem regras, agarro-te a mim sem costuras.

Somos mais que palavras ordenadas, somos o caus e a magnolia

que tudo suga e liberta.

Le Revenat, le Fantôme et le Fantasme


No meio de uma rua sem ninguém iam os meus medos.
Do lado direito do passeio ia o Revenant, no meio o Fantôme e na outra ponta o Fantasme.
Revenant tinha o seu rosto muito pálido e as olheiras bastante acentuadas que em tempos lhe deveriam sobressair imenso os olhos meio verdes. Usava uma boina de campones e em tempos fora uma pessoa muito bem disposta com tendencia para muitos sorrisos e lengalengas. Era um medo bem disposto, mas hoje somente restavam em si palavras que ficaram por dizer qm dias passados. A sua voz não pode ser mais ouvida e o seu corpo não consegue encontrar um lugar em mim onde encostar a cabeça e descançar.
No meio ia o Fantôme. Esse era o meu medo mau. Este era um medo muito muito misterioso que não se dava facilmente a conhecer, a menos que isso envolvesse muito sofrimento e esforço da minha parte. Era o único medo com o qual eu raramente falava, conhecia a sua existencia, mas sempre tive muita tendencia em ignora-lo durante os dias felizes. Sem duvida alguma, o Fantôme era o mais inoportuno de todos os medos e aparecia sempre sem avisar previamente. Visitava-me sem avisar e em alturas em que não era muito bem vindo.
Era um homem de estatura média e tinha o cabelo oleoso, muito agarrado à cabeça. A sua pele era grossa e brilhante, não tinha um aspecto bonito. Era um medo de poucas conversas, e o seus silêncios, pouco eloquentes, perturbavam-me a existencia.
No lado esquerdo, junto à beira da estrada seguia Fantasme. Este era um medo exibicionista por excelencia. aparecia muitas vezes junto a mim quando era apenas uma criança. Lembro-me das minhas amigas também me falarem da existencia dele, mas sempre com cotornos muito diferentes da precepção que eu tinha dele. Lembro-me que, a maior parte das vezes que me vinha visitar, trazia umas orelhas compridas muito grandes e escondia-se atrás da porta do meu quarto para a minha mãe não o encontrar.
O Fantasme é o mais cobarde dos meus três medos. É facilmente ignorado quando começamos a deixar de ter medo do escuro e começamos a perceber que afinal ele faz parte da nossa imaginação. Quando crescemos e isso acontece, o Fantasme pede ajuda ao Reverant e tenta socorrer-se dos seus poderes de metamorfose para nos criar situações complicadas. Este é o unico medo que me põe a rir, talvez por ser o mais antigo e ter mais histórias para contar.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Lixeiras sentimentais para Ama-dores




Quem não se entrega às palavras, não faz a digestão dos meus poemas.