quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Céu



O céu de retalhos brancos
de nuvens mal semeadas
faz florir a Primavera desta manhã.
O azul contraste que é o céu
de verdade, concretiza-se
como o fundo da questão.
A resposta de uma existência
em plenitude, mesmo com
nuvens cinzentas que fazem pesar
a incerteza da estação.
Pedaços de calor a variar
com as horas, e as cores que
se alteram na iluminação dos dias.
Eu, confusa, no céu de retalhos brancos
de nuvens mal semeadas,
pedaço de Primavera indefinida
num quadro impressionista.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Paris


Passaram o dias devagar. Os dias agarrados aos nossos momentos. Os nossos momentos agarrados às luzes toscas dos candeeiros nocturnos. No chão estava marcado o roteiro imaginário sujo pelos passos dos desconhecidos. Depois há música a todos os instantes. Nos olhos, nas mãos, nos gestos, nos pés. Nos pés que nos fazem caminhar sobre as luzes, enquanto apagamos o rasto de outros que passaram antes de nós. Nos momentos que nos condenam a instantes vagarosos que recordaremos para sempre haverá Paris.

domingo, fevereiro 17, 2008

Olhos do Mundo


Reconheço os teus olhos em todos os olhares.
No meio de multidões inteiras é único o teu brilhar.
Na tua maneira de ver há outro mundo.
Aquele que existe por de trás dos teus olhos.
Uma história que podia ser contada em silêncio
Se os teus olhos falassem, e se os nossos olhares
um dia se cruzassem.

sábado, fevereiro 09, 2008

Quebrar um verso de amor.


Devoramos palavras inteiras, dias e noites
de beijos roubados, de amor trocado por
alimento. da vida não podemos pedir mais que poesia.
Palavras equilibradas em amor.
Gestos cheios, porque nos bastamos na luz que
anoitece. Porque somos medida suficiente
do amanhecer.E somente porque amamos.
não rimamos. Somos palavras do mesmo verso
em branco. Não temos música poética,
silênciamos a palavra num beijo, por ti
seria capaz de quebrar um verso de amor.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Bilhete para colar no frigorifico



Ocupa os espaços deixados em branco no meu ser, vem devagar e trás contigo a paz, aquilo que eu procuro parece difícil de encontrar no universo. Podes acordar mal disposto, eu retirarei o que disse na noite anterior. Amar-te-ei. Que me resta mais se não amar? Deitado no sofá pareces tão distante, pareces vindo de um lugar diferente. És tão importante por seres assim, por teres o cabelo fora do lugar e um aspecto desarranjado. Na tua t-shirt verde alface que já vi tantas vezes encontro-me a mim, molécula que se agrega a ti e te esconde o corpo perfeito. Trouxeste-me tudo, tudo, tudo. E eu ainda ouso pedir-te mais. Não vás. Nunca me deixes. Nunca me deixes partir zangada a dizer disparates. Que não preciso de ti. Que o meu coração já não bate. Quando isso acontecer corre atrás de mim. Agarra-me contra uma parede. Aperta-me os braços com jeitinho e lança o teu olhar para dentro do meu. Diz-me baixinho. Olhos nos olhos. Amo-te. Só isso. Basta. Só quero que me ames mais um bocadinho. Que não me deixes fugir. Ouço os teus passos na noite. Chegas tarde tantas vezes. Eu não me importo de te ir dormindo a presença ausente. Não fazes barulho. És quase invisível na tua presença. Entras na cama devagarinho e beijas-me o mais possível. No fundo eu sei que me queres acordar. Despertar para o amor. Como sempre fizeste. Tirar-me da vida latente. Abraças-me e dizes que sentiste a minha falta. Depois há os dias. Os dias. Em que falamos alto porque não nos conseguimos ouvir. Ralhamos. Eu sempre mais que tu. Eu que sou mais fraca. Preciso de falar ainda mais alto. Falo na linguagem do disparate e não sei o que digo. Tens ciúmes. Eu também. Tens razão. Eu também. Temos amor. Pois temos. Acabamos encostados à mesa da cozinha. Encostados um no outro, com o coração próximo. Temos um só coração. Com os ritmos cardíacos a suavizar um no outro. Com os corações a aquecerem-se. Temos um só coração. Um coração sem voz. E duas bocas que falam demais a língua dos disparates. Vemos filmes. Falamos sobre os filmes. Tu cantas músicas no meu ouvido. Eu leio-te poemas enquanto finges dormir. Sei que finges. Vejo o teu sorriso a abrir. Palavra a palavra. Gesto a gesto. Somos o amor todo. Umas vezes mais outras menos. Mas sempre amor. Gosto de dormir na tua barriga. Tu gostas de dormir no meu peito. Gostas de falar e rir. Deitado de barriga para o ar. Os dois em cima da cama. Rimos até doer a barriga. Fazemos de conta que somos crianças apaixonadas. Nós somos crianças apaixonadas. Nem sabes o bem que me fazes, digo. Vem deitar-te de novo comigo, respondes. Não posso. Estou atrasada. Eu tenho de sair. Saio sempre mais cedo. Deixo-te um bilhete escrito no vidro da casa de banho. E tu envias sms quando o encontras. Quando eu chegar terei um miminho teu. Eu sei. Obrigada por teres aparecido. Por teres existido sempre. Por me abraçares. Por não dizeres nada quando os silêncios não são para preencher. Por compreenderes. Por desatinares. Por me fazeres ouvir a mim mesma. Por tudo. Só mais uma vez.

"Amo-te quase demasiado."




Destinatário ausente.

Marie et Julien

Há um abismo entre mim e ti
Não sei como o contornar.
Não me deixes dormir, peço-te.
Amo-te e sinto-me perdida.
Faz de conta e eu continuarei a acreditar.
Não compreendo, e o que não compreendo assusta-me.
As diferenças nos gestos, no olhar, no sentir.
Nunca reparaste. Mas eu sabia.
É uma tortura.
Sou eu e não o sou para ti.
Rasgas-me em duas cortada de alto a baixo.

É preciso fugir de pessoas infelizes.
É umas questão de sobrevivência.
[Por isso te libertei]

domingo, fevereiro 03, 2008

Café com tempo

Encontro nos cheiros das coisas de hoje o conforto dos momentos de outrora. É muito mais fácil assim recordar, sorrio. Esta espécie de alegria que me encerra o sorriso sincero ajuda-me mais uma vez, hoje. Agito o café vagarosamente com a colher. É nele que está o cheiro dos dias, é neste aroma que oiço as conversas que tive sentada em mesas de muitos lugares. Aqui o tempo arrasta-se pelo chão e demora a passar. É no vagar de hoje que encontro as significações dos dias agitados, do telefone a tocar, das combinações. Agora a pressa está no arrefecer do café. Não há horas para encontrar, não há autocarros para apanhar, nem estradas para percorrer. O horizonte está todo condenado aos diâmetros da janela. É nesse brilhar de luz que se esmorece ao final da tarde que o fumo do café se atrvessa.