terça-feira, agosto 28, 2007

Contradição


Não basta gostar,
pensar que se gosta e que se quer sempre muito.
Ler o amor em todo o lado
é problema dos olhos,
o coração não ve.
O coração sente coisas, qualquer coisa
em forma de sentimento.
E o amor não tem forma, é imaginação.
Ar que ocupa espaço e torna o peito denso,
forte [ é por isso que suspiro]
Não basta amar, pensar que se ama
pode ser doença.
Se o coração bate mais depressa é porque não há trânsito
se não bate não há desporto que resolva o problema.
O coração tem manias, escolhe quando
bate mais depressa [ engana-te sempre]
Escolhe um alvo e atira-se, corre depressa
pensa que gosta, que quer muito, mas o
coração não ve, o coração não pensa.
[ o coração precipita-se]
E o amor dissipa-se, escapa, foge, esconde-se
na cabeça. Ela pensa, ela ve, ela fala.
O amor não gosta do coração, são contradição.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Partida.


Vais embora. Dentro de uma mala de cartão num dia de chuva, fechada na página de um livro de fantasia com uma história pequenina igual a tantas outras.
Arrumaste o coração no meio das roupas de verão entre as camisolas e os biquínis, as histórias do passado e as frases bonitas. A tua mala pesa o peso da tua vida, e o coração pequenino do tamanho da tua mão é leve e sabe voar.
Levas no rosto uma expressão de plenitude que brilhará à medida que os teus olhos percorrerão o rasto do caminho. De janela aberta, o vento no cabelo levará com ele a carícia que faltou o ano inteiro, a mão que não espalhou carinho e paz e que te acompanhará na viagem de mais uma depressão sazonal. No teu regaço dormirá um livro que te roubou sorrisos e te acompanhará em horas e horas de silêncios comuns.


- Vais embora amanhã...
- Vou...
- Quem me dera que esse brilho com que me olhas viesse de dentro do teu coração.

sábado, agosto 11, 2007

A última palavra do meu poema és tu.


O suicídio das palavras que se equilibram vertiginosamente,
que tentam saltar sem olhar para a linha de baixo
acabando por destruir as outras que não são melhores,
que são o fim do poema.
Não consideram digno ser as primeiras, as palavras
a imagem rabiscada de trás para a frente.
Significado,
as palavras morrem para ganharem das minhas mãos
a vida perpétua.
Uma condenação justa num poema sentido.
Escravas de tinta negra que nasce na ponta da caneta,
enrolando-se em linhas horizontais,
infinito,
trabalhadas com rigor em cima de um papel qualquer,
carregando nas costas ideias que ficaram na cabeça, nos restos do embrião,
A mãe literatura é igual à mãe natureza.
Um poema é a palavra condenada à imensidão.
A poesia acalma a dor.

[das palavras]

quinta-feira, agosto 09, 2007

Xadrez


sentei-me à mesa com a morte
jogámos xadrez enquanto nos olhávamos
o calor do meu corpo dissipava
todo o frio da sua ausência ali tão presente
deixei de sentir o sangue por momentos
xeque-mate
a morte venceu sobre mim
[a vida]
Apenas o jogo.