segunda-feira, abril 30, 2007

Ontem, hoje e amanhã.


Hoje queria falar-te ao ouvido palavras que já sabes de cor, mesmo que nunca as tenhas ouvido da minha boca, sabes de cor o que os meus olhos te dizem.
Era sentir a tua respiração a tocar na minha pele lentamente, que queria agora, sentir as tuas mãos a percorrer o meu corpo como se mais nada houvesse no mundo, como se eu fosse realmente a única, como se eu fosse realmente especial.
Mas talvez neste momento os meus sentidos peçam de mais, talvez exista muita coisa em mim que é exagerada, tal como a minha forma de viver. Não te sinto de mais, não te sinto de menos, não sei bem o que se sente, mas sei o que sinto.
Cá dentro, seja lá onde for que tudo isso se sente e guarda, existe alguma coisa que me põe um sorriso no rosto, um ar estranho, uma apatia ao resto ao mundo excepto a ti e aos meus sapatos.
Existe algo que não sei explicar, quem me dera saber escrever sobre tudo isto...


Um dia vou fazer uma história bonita.

"Dá-me tanta vontade de te agarrar e correr contigo à chuva..."

domingo, abril 29, 2007

Entre.

Sinto o tacto da depressão procurando o destinatário ausente
(presente na escrita.)
Sofro de resistencia ao natural, nego o que vejo acontecer, mas não me detenho perante o que sinto,
(e acontece.)
É aqui que o desencontro sentimental encontra o olhar no seu reflexo, parece que as coisas encontraram um lugar para existir,
(em lugar nenhum físico.)
A beleza agressiva com que te vestes acaricia-me a vida, que corre em mim em diques rachados por águas passadas.
(sempre o passado.)
A música arranha-me significados supérfulos, imaginários luxuosos de uma pobreza de gentes que encontro em mim,
(pobre de sentimentos.)
O dia de hoje, aboliu o conceito de expressão, não falo, não rio, não me mexo,
(apenas te olho.)

sábado, abril 28, 2007

Mundo incompleto

Gostava de roer pêras, enquanto segurava com o indicador e o polegar, o pequeno pedaço que resta do tronco, e com a outra mão o pedaço mais distante daquele. Roía pêras enquanto lia histórias de pernas cruzadas. Era o seu jantar ideal. Pêras e Livros.
- Os teus livros são muito bons ao sabor das pêras. - era isto que um dia iria dizer, quando conhecesse a pessoa que lhe deixava sempre que acabava o livro que estava a ler, outro debaixo da Macieira que nunca tinha dado maçãs.
- A minha macieira não dá maçãs, dá livros. Livros deliciosos. - também iria dizer isto, entre todas as outras coisas que ia apontando com um canivete nas tábuas de madeira que cobriam o chão do seu quarto. Aquilo não era um quarto, era a casa das dúvidas. Dúvidas sobre os livros, sobre a sua vida, sobre a vida dos personagens, sobre os lugares do mundo que nunca tinha visitado, sobre a sua imaginação que crescia mais do que a sua idade.
A sua caneta era um pequeno canivete, com uma lamina muito afiada com que raspava a madeira já velha e seca, que tinha um cheiro a vazio e a pó, cheirava a fim de vida e estalava quando era pisada. As dúvidas acumulavam-se pelo chão assim como o pó sobre as estantes, e sobre as lombadas dos livros que tinham nomes em todas as linguas.
-Poucos foram os livros de que não gostei, todos foram os que me fizeram pensar, não detestei nenhum, muitos foram os que amei. - amava livros para encher a sua vida com a vida dos outros, para preencher a falta que lhe fazia aos olhos observar comportamentos humanos, vozes distantes, respirações junto à pele, e mais que um coração a bater.
Tinha um animal de estimação. Não era bem um animal de estimação, era um animal que a visitava frequentemente, aquele que nunca deixava de aparecer na estação do ano certa, aquele em que notava as diferenças que havia entre o seu mundo e o dos outros. Era um caracol castanho e verde, às riscas, que para ela aparecia umas vezes em casa grande, outras vezes com a casa pequena, com riscas largas, e no ano seguinte com riscas finas.

sábado, abril 14, 2007

Hoje.

O que eu queria hoje era ver um bom filme, e chorar para dentro do balde das pipocas.
O que eu queria hoje era ver a minha vida em episódios, e ficar tão feliz como fiquei quando os tipos do Prison Break conseguiram fugir.
O que eu queria hoje era de comer uma enorme fatia de bolo de chocolate, estupidamente deliciosa.
O que me queria hoje era saber tocar piano.

O que eu queria hoje era que as personagens dos meus textos me visitassem em sonhos, e que eu pudesse ter conversas interessantes sobre a vida delas.
O que eu queria hoje era de vestir uma roupa bonita e parecer realmente bem aos meus olhos, não aos olhos dos outros.
O que eu queria hoje era andar descalça e sentir o chão quente debaixo dos pés.
O que eu queria hoje era passar duas horas a rir às gargalhadas, de uma piada sem graça nenhuma, mas que toda gente achou idiota e engraçada.
O que eu queria hoje era andar de carro pela cidade à noite, enquanto na rádio havia um programa especial só com as minhas musicas favoritas.
O que eu queria hoje era ser criança de novo e andar com os sapatos todos sujos, assim como as mãos, e ter os joelhos arranhados.
O que me apetecia hoje era escrever o meu poema favorito na areia da praia.
O que eu queria hoje era dançar o tango com uns sapatos vermelhos muito altos, numa praça francesa.
O que eu queria hoje era cortar o cabelo igual ao da Amélie e ter um sorriso igualmente doce.
O que eu queria hoje era passar a noite de mãos dadas com alguém, enquanto o outro ser me sussurrava coisas bonitas ao ouvido.
O que eu queria hoje era um beijo na boca apaixonado, com direito a levantar um dos pézinhos como é habito.
O que eu queria hoje era que o amanha nunca chegasse.