sábado, janeiro 14, 2006

We have no more beginnings
We meet end to end
I know that I have lost you
When I think of the way we used to be
I wanna be just like that again
to find it again this feeling we had
I need it again I'll make it last

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Carta que nunca leste


Poderia começar esta carta de um modo normal, mas as circunstâncias em que me encontro não me permitem começar por aquela típica abordagem que raspa em sentimentos chegando ao abismo de se tornar banalidade.
Não te quero falar de coisas fugazes, de nevoeiros matinais que escondem dias soalheiros, não te quero contar novidades que não te importam, quero apenas falar-te de modo sereno, como se tivesse acabado de me aninhar em ti para ficar a contemplar o teu sorriso.
Confesso que tive medo de me perder contigo, era um mundo tão fantasioso que até mesmo eu que gosto de andar pendurada em fios de estrelas, e varinhas de condão, tive medo de abrir as asas. Mas tu mostraste que não havia nada a perder, e que mesmo quando se está preso a uma vida, existem coisas que tem dons de nos soltar, nem que seja por momentos, e é ai que somos livres.
Éramos nós, na mais pura das essências, no estado mais natural, e pensava eu recordar todas as sensações conquistadas até ai, mas parece que a abstracção ou a intromissão foi tal que hoje não te recordo em lado algum.
Não existem muros, nem palavras, nem ninguém, só aquilo que nos brilha cá dentro, como se durante umas piscadelas do relógio, se abrisse no mundo uma porta onde nos podemos esconder de tudo, para nascer numa nova vida.
Entrei numa história que julguei não saber como era, e hoje digo-te que continuo sem saber como cheguei perto de ti, sem deixar rasto, sem soltar uma única palavra ao vento.
Era o segredo, o nosso segredo, e ainda hoje quando passeio pela cidade sinto que de alguma forma ainda estás comigo, na brisa que se aninha nos meus cabelos, na luz que me atinge com toda a força, ou até mesmo no nada com que vivo constantemente.
São assim fortes, intensos e permanentes os momentos que vivi, agarrada a sensações que depois vi fugir, sem deixarem recado. Fizeste de mim lua, estrela, e mesmo sol em plena meia da noite, pois foi dona do céu que perdi, fui mulher, fui tudo quando não havia nada se não incertezas.
Mas tal como a noite não é eterna, sei que até os meus pensamentos tem prioridades que os impedem de continuar, pé ante pé, nessa linha imaginária a que chamaram infinito, onde me fui perder na tua imaginação.
Não te preocupes se os meus pensamentos te parecem confusos, pois sabes bem que consigo viver no meio do caus, do ser e não ser, do eu e tu…desculpa não era isto que queria dizer-te hoje e aqui, não existe nada para além de nós, só um infinito para desbravar, mas intacto.
Hoje não quero que te lembres de mim como momento, como passado que recordas por dar jeito para a ocasião, como pedaço de tempo onde te perdes, quero somente que me incluas no passado, no presente e no futuro, e acredita que nada mais simples consigo pedir-te.
Quero que tu em mim, sejas o passado de algo que já foi, o presente que está sempre comigo, e o futuro que estará sempre lá, pois não existem pessoas que passaram na nossa vida, existem aqueles que fizeram de nós seres humanos, e os que se limitaram a assistir.
Aqueles que existiram mesmo durante uma volta curta do relógio, mas que deixaram algo capaz de fazer brilhar os olhos, a força que pode fazer qualquer um mudar o mundo. Pois é, nem toda a energia e felicidade que canalizei serve para alterar destinos, mas tu já fizeste o suficiente para mudar o meu, e é com essa mudança que sigo em frente pensando que o mundo está em constante movimento, e não é por termos saltado para fora dele em momentos de loucura que ele vai parar de girar.
Escrevo-te hoje, não em sinal de despedida, porque só sai das nossas vidas quem nós queremos que não permaneça por lá, mas em sinal de agradecimento pela presença sempre presente, nos momentos de todos os dias e pela luz que me dás com esse sorriso mesmo não estando.
De coração hoje e sempre,
Joana

terça-feira, janeiro 10, 2006

Despedidas ( o recordar)

Odeio despedidas, são coisas impessoais, um modo falso e alegre de deixar partir sem dor quem se gosta. Ninguém considera a partida do que não se perde nos seus pensamentos. Sem laços não existem despedidas.
As palavras saem cruas, apertamo-las nas mãos até as pontas dos dedos ficarem brancas, e o resto da mão adquirir uma tonalidade rosa, para não as deixarmos envolver quem parte,
(Não sou egoísta. Não sou egoísta. Não sou egoísta.)
Não queremos provocar dor naqueles que nos podem levar, na algibeira, na mala, ou mesmo no pensamento, ou em outros lugares mais profundos onde ninguém nos pode arrancar.
Senti-te a fugir, como se fechasses sem eu notar a porta aos poucos, agora só te consigo distinguir as formas na penumbra, não nos queremos comprometer com palavras, não queremos que seja assim.
(Leva-me contigo. Leva-me contigo. Leva-me contigo.)
Sei que não queres nada disto, é impessoal, tem de ser impessoal, não podemos deixar dor, não queremos deixar nada a doer, nada vazio, nada com vontade de ficar. Sei que não és assim, mas tem de ser. Apertas as palavras na mão como se tivesses as mãos a sufocar-te a garganta. Vou fazer o mesmo., por mim, por ti.
(Porque partes? Porque partes? Porque partes?)
Não sabes já qual das mãos me hás-de dar, sentes que preciso de amparo, mas tens as mãos ocupadas a segurarem-te a as palavras que não queres que saiam, tens as mãos a sufocarem-te o grito.
Não quero despedir-me de ti, não vais fugir, não vais morrer, não vais mudar de universo, vais de viagem. Comboio, avião. Muito diferente.
(Voltas? Voltas? Voltas?)
O relógio perde-se nas despedidas, prende-se com a tua partida, como se o sol trocasse o passo ao som de uma valsa, não sei quando voltas.
(Será que voltas? Será que voltas? Será que voltas?)
Espero. Desespero. Talvez.
Mas não me preocupo, a minha asa vai contigo, acabou de se esconder dentro da tua mala enquanto atento, os teus olhos seguiam toda esta reprodução de letras que se cospem uma a uma de forma a haver melodia. Harmonia. Poderás sempre voar se necessário, poderás sempre perder-te, poderás encontrar-te nesta viagem tão tua, só tua.