sexta-feira, maio 30, 2008

"Etrange comme je t'aime..."


Saiu de mansinho para não a acordar. Ela estava na cama deitada de barriga para baixo e com um pé de fora. Espreitando da cozinha, só lhe conseguia ver o pé direito com as unhas pintadas de vermelho. Bebia café lentamente, enquanto pensava na noite anterior. Aquela tinha sido a noite por que sempre tinha esperado. Amava-a mais que tudo no mundo, desde que se tinham conhecidos ainda em crianças. Havia uma cumplicidade entre eles que o deixava muitas vezes paralizado e descrente da possibilidade de tal sentimento. Tinha medo que aquilo fossem sintomas da paixão, aqueles que desaparecem passado algum tempo porque as pessoas se despem e perdem as capas. Mas com ela tudo parecia diferente. Era um sentimento avassalador. Quando via o seu sorriso de felicidade por estarem juntos, sentia o mundo parar. Ela tinha o poder de o alienar de tudo o que acontecia à sua volta. Achava-se capaz de beija-la horas e horas seguidas, de passar dias inteiros na sua companhia, de passar o resto dos seus dias a conversar, no entanto tinha medo. Uma medo que não sabia explicar, uma insegurança que era o sentimento oposto ao que ela o fazia sentir.
Quando ela lhe bateu à porta, ele esperava o homem da pizza. Tinha ligado à meia hora e a entrega já estava atrasada. Abriu a porta com a carteira na mão e ficou a olha-la surpreendido. Ela abriu o seu sorriso ao mundo, ao seu mundo e agarrou-se a ele num abraço de cumplicidade. Quando o homem da pizza chegou o abraço teve forçosamente de terminar.
- Jantas comigo...
Jantou, fumou um cigarro na varanda, conversou de pernas enrroladas no sofá e beijou-o. Como se fosse a primeira vez, como se o mundo se desiquilibrasse e todo o amor lhes caisse em cima. Amaram-se mesmo ali, na suspensão temporal daquele sentimento. Não prometeram nada um ao outro, mas em segredo ela jurou ser feliz para sempre e esquecer todas as inseguranças. Ouviu um telemóvel a tocar e despertou de repente. Da cozinha alguém atendia:
- Bom dia amor! Como estás?

quarta-feira, maio 28, 2008

Comunhão.


As nuvens brancas que sobem pelo tubo da minha caneta
invertem o nascimento da escrita.
São terra que se desfaz nas mãos com o calor.
A terra misturada na erva. Qualquer uma. Palha. Seca.
E é nessa brisa que nasce do nevoeiro nocturno
que encontro o teu olhar atento. Apatico.
Os olhos estão escondidos dentro da cabeça e
observam somente ideias vagas.
A natureza alheia-nos dos problemas do mundo
e faz-nos sentir demais. O amor.
Num instante de maior lucidez vemos restos
de terra sobre a linha do destino e do coração.
Sentimos o odor do corpo a queimar.
Em plena comunhão sorrimos sem conseguirmos pensar,
na escrita manipulada pela natureza.

segunda-feira, maio 26, 2008

Julgamento das palavras. Acusação das pessoas.

Escondidas atrás das palavras andam as pessoas que não têm rostos. No dobrar das letras sobre as superficies várias, as pessoas vão desenham os contornos ideiais. As linhas perfeitas nem sempre são aquilo que nelas vemos. A mesma palavra pode ser lida da mesma maneira e entendida de dez maneiras diferentes. Dez mil maneiras onde se incluem outras dez mil palavras. Uma palavra julgada não é uma palavra acusada, até porque todas as minhas palavras aqui não te vão causar qualquer sensação a não ser estranheza e, essa é só uma palavra para um texto inteiro.
Tento compreender os significados, faço o esforço para entender o que me querem dizer. Nesse esforço encontro outras palavras em tom de julgamento. As palavras julgam-se umas às outras. As pessoas não tem esse direito. É por isso que nem sempre nos compreendemos, é por isso que muitas vezes vemos o mal e não o conseguimos resolver, o mal está nas palavras. As pessoas limitam-se a usa-las em vão.


"Pode ser que ela assim perceba." = "Quem não se entrega às palavras não faz a digestão dos meus poemas."

domingo, maio 18, 2008

O meu silêncio. Hoje.

Queria que soubesses ao me olhar, que este sorriso é feito de coisas boas. Tenho novamente um brilho nos olhos e uma alegria que pulsa a cada instante em que o coração teima em bater. É a alegria de viver, a alegria de continuar a sorrir para a vida. Porque eu sou feita disto, e tu sabes. Preciso de amor para sorrir sem parar. O amor que está no sorriso e nas mãos dos meus amigos, o amor dos dias de chuva e dos dias de sol, o amor nas músicas que me entram no corpo, na melodia, na letra, na sintonia. O amor da outra pessoa que me quer fazer feliz. Independentemente da quantidade de sois que possamos vir a ver juntos. É o amor que vivo hoje. O amor do momento e das coisas boas que me acontecem. Pequeninas e Grandes. Porque é disto que eu vivo e tu sabes.
Porque teimas em me tirar isto tudo? Porque teimas em me guardar para ti, em me proteger como se eu fosse frágil e não soubesse viver? Não foste livre sempre? Não sonhaste com a tua vida? Com um futuro feliz? Posso ser eu a tentar o amor desta vez, por muito errado que isso te possa parecer? Deixa-me errar sozinha. Julga-me depois, como fazes constantemente, culpando sempre os outros. Desta vez sou culpada. Culpada por querer tentar ser feliz, da maneira mais errada de todas. Mas tu não compreendes. Não fazes um esforço, o esforço que fazias sempre. E condenas-me com todas as forças que tens. Prendes-me a existência, quando podias falar comigo sobre tudo e sermos felizes as duas. Porque o meu amor é o teu amor, e a nossa felicidade é uma só.

É tão dificil chegar a ti, agora.....

terça-feira, maio 06, 2008

Sintonias cubicas de um mais infinito

Andei sem ver os passos largos de toda a caminhada,
passei sem querer por caminhos sinuosos sem nunca soltar a palavra.
Aprendi os dias e as horas, os minutos e o tempo.
Sei agora que andar para a frente não é igual a andar para trás.
E continuo, porque sei que amanhã continuarei a aprender
Mesmo quando o teu rosto deixa de se ver e os meus braços
não são compridos o suficiente para te agarrar.
Na planicie arrastada de mais um dia sei, que mesmo depois
dos vales e dos mundos, és tu que encontro nas primeiras
horas da manhã. Porque somos sintonia do universo.