Era terça-feira. Passavam poucos minutos das nove da manhã, e contrariamente à sua habitual predisposição para dormir até tarde, não tinha sono. Muitos dos seus hábitos estavam de um momento para o outro a mudar drasticamente, e por muito que ela tentasse contrariar essa mudança o facto é que não tinha sono. Ainda na cama, virou-se de barriga para cima e quase sem forças levantou-se sem olhar para trás. Ficou sentada na cama. Observava as suas mãos. A pele estava seca e com manchas. Por mais que se quisesse esquecer de tudo o que se passava, havia sinais por todo o lado que mostravam que as coisas não estavam bem.
Entrou na casa de banho e evitou o espelho em todas as posições que se colocou. Olhou para a escova do cabelo durante alguns segundos e sorriu. Aquela era sempre a primeira coisa que fazia, pentear o seu longo cabelo ruivo. Mas hoje não. Agarrou na escova de dentes e abriu a torneira. Assim que começou a escovar os dentes, uma dor atravessou-lhe as gengivas e viu-se obrigada a parar. Os filamentos suaves da escova comprada de propósito para não a magoar entranhavam-se na pele e abriam feridas. As lágrimas pararam aquela rotina. De repente o espelho abriu o rosto à sua frente. A boca em sangue. A dor. A pele branca, seca e magra. E o cabelo que desaparecia de dia para dia. Enquanto se olhava no espelho chorava. Não tinha pena de si, mas também não aguentava aqueles sentimentos todos que a assombravam sempre que tentava fazer a sua vida normal. Estava esgotada, e todas as forças pareciam agora empurra-la em sentido contrário ao que queria seguir.
Lavou a cara e a boca e saiu de novo em direcção ao quarto. Pôs um lenço cor-de-rosa na cabeça que tinha sido oferecido pelas antigas colegas de trabalho, que agora só ligavam a perguntar como ela estava. Gostava de se ver assim, com aquela cor toda na cabeça enquanto deixava à vista algumas mechas de cabelo que lhe restavam. Eram mechas de cabelo que provavam que nem tudo estava perdido. Como se se tratassem de pedaços de esperança que viviam ainda agarrados a ela, pedaços de um eu agora em decomposição. Vestiu uma túnica de linho verde clara, um tecido leve e fresco, que lhe aconchegada o corpo, de todas as torturas que podiam neste momento ser as roupas para si.
Já na cozinha, tomou os comprimidos e sentiu as náuseas que desde ontem lhe aconchegavam o estômago. Era normal. Já estava a ficar habituada a toda aquela nova rotina, mas fazia tudo para a contrariar. Durante uns tempos ainda manteve o hábito de ir correr para a praia. Hoje não era capaz dessas proezas, o tratamento deixava-a fraca, os vómitos e a má disposição eram uma constante nos dias seguintes ao tratamento. Alimentava-se como se fosse uma criança, nada de comidas fortes e pesadas, tudo muito ligeiro, muito líquido, nada de fritos, nada de ácidos, só coisas frias ou à temperatura ambiente. Era como se fosse um passarinho, pouca comida de cada vez e várias refeições por dia, refeições essas que nos dias seguintes ao tratamento eram um autêntico suplicio.
Nunca se queixou de nada. Sempre que tinha de explodir tentava faze-lo quando estava sozinha e longe dos olhares de pena dos que rodeavam. Estava farta da frase “vai tudo correr bem!”. Era este o sintoma da doença que afectava os outros, as limitações de discurso. Sempre a ilusão, sempre a mentira, todos os dias o mesmo esperar. A mesma tortura quotidiana.
Entrou na casa de banho e evitou o espelho em todas as posições que se colocou. Olhou para a escova do cabelo durante alguns segundos e sorriu. Aquela era sempre a primeira coisa que fazia, pentear o seu longo cabelo ruivo. Mas hoje não. Agarrou na escova de dentes e abriu a torneira. Assim que começou a escovar os dentes, uma dor atravessou-lhe as gengivas e viu-se obrigada a parar. Os filamentos suaves da escova comprada de propósito para não a magoar entranhavam-se na pele e abriam feridas. As lágrimas pararam aquela rotina. De repente o espelho abriu o rosto à sua frente. A boca em sangue. A dor. A pele branca, seca e magra. E o cabelo que desaparecia de dia para dia. Enquanto se olhava no espelho chorava. Não tinha pena de si, mas também não aguentava aqueles sentimentos todos que a assombravam sempre que tentava fazer a sua vida normal. Estava esgotada, e todas as forças pareciam agora empurra-la em sentido contrário ao que queria seguir.
Lavou a cara e a boca e saiu de novo em direcção ao quarto. Pôs um lenço cor-de-rosa na cabeça que tinha sido oferecido pelas antigas colegas de trabalho, que agora só ligavam a perguntar como ela estava. Gostava de se ver assim, com aquela cor toda na cabeça enquanto deixava à vista algumas mechas de cabelo que lhe restavam. Eram mechas de cabelo que provavam que nem tudo estava perdido. Como se se tratassem de pedaços de esperança que viviam ainda agarrados a ela, pedaços de um eu agora em decomposição. Vestiu uma túnica de linho verde clara, um tecido leve e fresco, que lhe aconchegada o corpo, de todas as torturas que podiam neste momento ser as roupas para si.
Já na cozinha, tomou os comprimidos e sentiu as náuseas que desde ontem lhe aconchegavam o estômago. Era normal. Já estava a ficar habituada a toda aquela nova rotina, mas fazia tudo para a contrariar. Durante uns tempos ainda manteve o hábito de ir correr para a praia. Hoje não era capaz dessas proezas, o tratamento deixava-a fraca, os vómitos e a má disposição eram uma constante nos dias seguintes ao tratamento. Alimentava-se como se fosse uma criança, nada de comidas fortes e pesadas, tudo muito ligeiro, muito líquido, nada de fritos, nada de ácidos, só coisas frias ou à temperatura ambiente. Era como se fosse um passarinho, pouca comida de cada vez e várias refeições por dia, refeições essas que nos dias seguintes ao tratamento eram um autêntico suplicio.
Nunca se queixou de nada. Sempre que tinha de explodir tentava faze-lo quando estava sozinha e longe dos olhares de pena dos que rodeavam. Estava farta da frase “vai tudo correr bem!”. Era este o sintoma da doença que afectava os outros, as limitações de discurso. Sempre a ilusão, sempre a mentira, todos os dias o mesmo esperar. A mesma tortura quotidiana.
9 comentários:
às vezes é importante ter esperança para correr... bem. é meio caminho andado...
ha coisas que nos matam por dentro mt mais rapidamnt do que uma doença. a pena das pessoas é uma delas. a esperança n ta em "vai correr tudo bem", a esperança ta nos olhares dos outros, nas acçoes, isso sim,alenta o espírito e a mente de quem nao passa uma boa fase..
p.s: adorei o texto!=) vou ver s o mostro à catarina.. =)
Espero que ela em breve retome as corridas na praia...
boa descoberta.
texto bonito...
mesmo com tanta dor e sofrimento, mesmo assim consegue viver. penso ke com menos pena,e um ombro amigo era tudo o k ela precisava para conseguir fazer passar por tanta dor com mais facilidade... texto lindooo!!! gostei ;)!! N.M.
Quem se sente morrer lentamente são os que lidam, constantemente, com os doentes.
Senti-o há uns anos ...
Aqueles anseiam sempre a cura que muitas vezes não é rápida e outras não chegará.
Descrição pungente.
Mas ao menos não se deixou abater!
é,a mesma rotina..all over again *
acreditar é fundamental ... e mostrar que a frase "vai correr tudo bem" é firme e sincera ... n deixar que seja apenas uma frase dita ...
é paraa aqui que devemos olhar quando acahamos que nos falta X Y ou Z ...
gostei.
eu acredito!
É bstante tocante, este texto...
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