quarta-feira, dezembro 26, 2007

Resposta:


E se no final, tu fosses a resposta?

Às minhas preces sem religião, às preces pouco

devotas de quem parece não acreditar

em mais nada.

Não fui feita para acreditar, também não desconfio, apenas

questiono.

Se eu não questionar, tu nunca serás a minha resposta.

Quando a luz diminuir e tapar as cores da nossa vista

os braços procurarão o caminho. Os nossos braços serão

os nossos olhos das sensações sem cores,

tocarão sentimentos incolores com as mãos.

Quando falatarem cores e texturas aos sentimentos,

quando deixarmos de acreditar nas preces,

teremos de aprender a viver outra vez,

para sentirmos de novo, de todas as maneiras.

E será sempre a mesma história, a mesma descoberta

sem percebermos bem o porquê. Somente para voltar a questionar.

No final, qual será a minha resposta?

segunda-feira, dezembro 17, 2007

De passagem.

Gosto de homens que cheiram a café,
mulheres que ficam de pé a olhar para o nada.
Gosto de míudos constipados e ranhosos.
Dos pais que cheiram a café e usam lenços de pano,
Das mães que não vêm nada porque não estavam lá.
Gosto de quando não chove e também não faz sol,
de quando ando com roupa a mais pendurada nos braços.
Do Natal e das férias grandes.
Gosto dos homens que cheiram a café e têm medo de bichos,
que se arrepiam a falar de coisas que não contam a ninguém.
Gosto quando as mulheres apáticas acordam para ir às compras.
Das crianças que gostam do Verão porque não se lembram do
do peso dos livros nas costas.
Gosto de ver alguém a escrever com o cigarro pendurado na mão.
Gosto quando isso acontece num café, quando as empregadas apontam
pedidos de cabeça na lua porque não têm fome.
[E eu gosto de muito pouca coisa.]

quarta-feira, novembro 14, 2007

Estranho. [ no metro em metro]


De fatos de trabalho, de cerimónia
fruto de muitas palavras que apontadas das canetas
poderiam ter sido bocas de animais
que não sabem escrever.
De gravatas enforcadas no pescoço,
reflexo do espelho que os outros têm de nós mesmos
Sou fruto de imagens de objectivas manipuladas,
Sou parte do teu ódio ao uso da pontuação correcta,
como nos botões dos fatos que apertas,
esses que são mais teus que as minhas memórias que não te existem.
E os barcos despidos
de desejos oprimidos em mar chão, de marés como as luas,
sabes que sou de gente, de tempos, de águas.
De coisas que não são tuas.

sábado, novembro 03, 2007

Avant La Haine (Romain Duris & Joanna Preiss)



Lui :
Sais-tu ma belle que les amours
Les plus brillantes ternissent
Le sale soleil du jour le jour
Les soumet au suplice

J'ai une idée inattaquable
Pour éviter l'insupportable

Avant la haine, avant les coups
De sifflet ou de fouet
Avant la peine et le dégout
Brisons-là s'il te plait

Elle :
Mais je t'embrasse et ça passe
Tu vois bien
On s'débarrasse pas de moi comme ça

Tu croyais pouvoir t'en sortir,
En me quittant sur l'air
Du grand amour qui doit mourir
Mais vois-tu je préfère
Les tempêtes de l'inéluctable
A ta petite idée minable

Avant la haine, avant les coups
De sifflet ou de fouet
Avant la peine et le dégout
Brisons-là dis-tu


Lui :
Mais tu m'embrasses et ça passe
Je vois bien
On s'débarrasse pas de toi comme ça


Lui :
Je pourrais t'éviter le pire

Elle :
Mais le meilleur est à venir

Ensemble :
Avant la haine, avant les coups
De sifflet ou de fouet
Avant la peine et le dégout

quarta-feira, outubro 17, 2007

Bob: Can you keep a secret? I'm trying to organize a prison break. I'm looking for, like, an accomplice. We have to first get out of this bar, then the hotel, then the city, and then the country. Are you in or you out?
Charlotte: I'm in. I'll go pack my stuff.
Bob: I hope that you've had enough to drink. It's going to take courage.

Lost in translation


p.s.- tão eu.

segunda-feira, outubro 08, 2007

A minha alma descansa em todas as cadeiras do mundo.

terça-feira, setembro 25, 2007


Se as purpurinas no meu imaginário não tivessem uma conotação relativamente má, acho que poderia explodir neste momento e transformar-me num milhão de particulas coloridas e brilhantes.

sábado, setembro 08, 2007

Rascunhos de Uma Conversa Imaginária [Artistas]


-As voltas das palavras criativas iguais a todas as outras, mas conjugadas com imaginação.

-Não somos iguais a todos os outros, somos apenas parte deles.

-Falamos dialectos semelhantes com pontos de discórdia, mais além.

-Discutimos de um modo engenhoso porque somos artistas de nós mesmos.

-E trabalhamos com as mãos, moldamos as ideias e os corpos e sorrimos perante obstaculos (sabemo-nos fracos).

-Somos fracos em crescimento, fracos em evolução. Sempre fomos menos mas somos sempre, nós. [nos outros somos diferentes]

-Temos ideias grandes em corpos pequenos, encontramos a beleza visual no disforme da mente. Só na mente existe deformação.

-Temos o mundo todo dentro de nós, completamos uma peça do universo quando saímos de dentro.

-Os meus pensamentos pertencem a todos os lugares que eu sou e sujam guardanapos de papel.

terça-feira, agosto 28, 2007

Contradição


Não basta gostar,
pensar que se gosta e que se quer sempre muito.
Ler o amor em todo o lado
é problema dos olhos,
o coração não ve.
O coração sente coisas, qualquer coisa
em forma de sentimento.
E o amor não tem forma, é imaginação.
Ar que ocupa espaço e torna o peito denso,
forte [ é por isso que suspiro]
Não basta amar, pensar que se ama
pode ser doença.
Se o coração bate mais depressa é porque não há trânsito
se não bate não há desporto que resolva o problema.
O coração tem manias, escolhe quando
bate mais depressa [ engana-te sempre]
Escolhe um alvo e atira-se, corre depressa
pensa que gosta, que quer muito, mas o
coração não ve, o coração não pensa.
[ o coração precipita-se]
E o amor dissipa-se, escapa, foge, esconde-se
na cabeça. Ela pensa, ela ve, ela fala.
O amor não gosta do coração, são contradição.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Partida.


Vais embora. Dentro de uma mala de cartão num dia de chuva, fechada na página de um livro de fantasia com uma história pequenina igual a tantas outras.
Arrumaste o coração no meio das roupas de verão entre as camisolas e os biquínis, as histórias do passado e as frases bonitas. A tua mala pesa o peso da tua vida, e o coração pequenino do tamanho da tua mão é leve e sabe voar.
Levas no rosto uma expressão de plenitude que brilhará à medida que os teus olhos percorrerão o rasto do caminho. De janela aberta, o vento no cabelo levará com ele a carícia que faltou o ano inteiro, a mão que não espalhou carinho e paz e que te acompanhará na viagem de mais uma depressão sazonal. No teu regaço dormirá um livro que te roubou sorrisos e te acompanhará em horas e horas de silêncios comuns.


- Vais embora amanhã...
- Vou...
- Quem me dera que esse brilho com que me olhas viesse de dentro do teu coração.

sábado, agosto 11, 2007

A última palavra do meu poema és tu.


O suicídio das palavras que se equilibram vertiginosamente,
que tentam saltar sem olhar para a linha de baixo
acabando por destruir as outras que não são melhores,
que são o fim do poema.
Não consideram digno ser as primeiras, as palavras
a imagem rabiscada de trás para a frente.
Significado,
as palavras morrem para ganharem das minhas mãos
a vida perpétua.
Uma condenação justa num poema sentido.
Escravas de tinta negra que nasce na ponta da caneta,
enrolando-se em linhas horizontais,
infinito,
trabalhadas com rigor em cima de um papel qualquer,
carregando nas costas ideias que ficaram na cabeça, nos restos do embrião,
A mãe literatura é igual à mãe natureza.
Um poema é a palavra condenada à imensidão.
A poesia acalma a dor.

[das palavras]

quinta-feira, agosto 09, 2007

Xadrez


sentei-me à mesa com a morte
jogámos xadrez enquanto nos olhávamos
o calor do meu corpo dissipava
todo o frio da sua ausência ali tão presente
deixei de sentir o sangue por momentos
xeque-mate
a morte venceu sobre mim
[a vida]
Apenas o jogo.

quarta-feira, julho 18, 2007

Apneia do Sono


Ha sempre um pensamento a mais
enquanto a noite não adormece
quando o tempo se arrasta lentamente
e o silêncio fica preso nos ouvidos.
O corpo sente mais quando está dormente
e a cabeça encontra aquilo que não sabia perdido.
A noite espanca os sentidos
de quem o sono se esqueceu
Estás estupidamente vivo no momento
em que tudo morre da mesma forma ao teu redor
A conversa com a apatia do relógio
segundo a segundo
[sempre a mesma conversa]
Há sempre um pensamento a mais
e outra noite vivida a acrescentar.

Lado.


Tentei a todo o custo
calçar o sapato no pé errado
mas chovia muito lá fora
e eu não consegui caminhar
tal como sapato,também tu
encaixaste do lado errado do coração
mesmo nos dias em que não chove
sou só eu à mesa
eu a fazer sombra sobre a loiça
do lado do sol.

terça-feira, junho 19, 2007

[por momentos]


faziamos amor quando os dias ficavam compridos
quando o relógio se arrastava na cadência exacta
para os planetas se espalharem fora do universo.
choravamos nos braços um do outro enquanto
o nosso corpo se quebrava.
tínhamos aquilo que ninguém deve ter de alguém, Pena.
E choravamos. Por não encontrarmos o corpo pretendido,
por não encontrarmos os significados das palavras que
escrevemos em cima da cama. Nas linhas irregulares das nossas
sombras.
somos um só [por momentos] não somos mais nada. e
somos tão pouco, por sermos dois, num corpo só.

domingo, junho 10, 2007

Nas tardes em que nos caiam folhas sobre a cabeça, e que
nos nossos corpos jazia uma calma imensa, deixávamos
de pensar para somente sorrir.
As nossas mãos tocavam-se pelas sombras, só ai
era permitido partilhar. Silêncio com amor.
Tinha os meus cabelos sobre o verde, e tu tinhas os teus
nas minhas mãos. enquanto descansavas parte do teu corpo,
sobre o meu.
No jogo das sombras houve um toque entre nós, quando jogamos
na sombra falamos verdade.
As tardes em que fomos felizes debaixo da árvore, colaram sorrisos
provisórios na minha solidão. Era verdade e mentira na mesma hora. Riamos
dos sonhos possíveis e acreditávamos com força para acontecer o que era impossível.
Debaixo da árvore ficou a sombra do meu coração, silêncio
e um pouco de atenção.

sexta-feira, maio 18, 2007

O sangue dos outros.


Estamos condenados a ver no sangue dos outros a cura das nossas feridas, dos nossos buracos corroidos pelo alcatrão do caminho, e pelos pés de quem gostamos.
Amanhã o sol vai arder de novo, mas hoje é o melhor dia de todos os dias do mundo, e já doem os olhos de nunca ver nada na rua. Já secamos a ferida que tinham deixado a secar na chuva, o rasto de sangue percorreu todos os quilometros da vida para justificar o caminho em que nos dilaceramos. Existe uma enorme quantidade de dioxido de carbono no peito, somos toxicodependentes de sentimentos mutados, de anomalias irreversiveis apontadas nas partes de trás das portas.
Andamos em circulos constantemente, volta, voltamos, voltar, vir, voltaremos, girar, serpentear, todas estas voltas, muito rápido, trocamos os pés, não sabemos andar, ficamos tontos e caímos de pernas para o ar. Amanha voaremos presos pelo pescoço, com as pernas suspensas, com os cabelos a baterem na cara ao ritmo marcado pelo vento.
O sangue dos outros contorna-lhes o sorriso, lava-lhes as expressões que nos são familiares, e retiram-nos a vida que nos custa mais que a eles. A morte dói mais a quem não sente.

sexta-feira, maio 04, 2007

Mortos correm depressa.

Sento-me à sombra da minha nostalgia mórbida, abraço-me a mim mesma formando o nó mais duro da realidade- eu mesma.
Os mortos andam depressa, eu corro com o peso do tédio, com o pó dos dias a fugir de mim, patético de medo. Vou-me cristalizando na sombra, num estado de efevercência, numa resolução organica e harmoniosa de todos os fardos sem peso físico. Nada se resolve, tudo se mantem, sou uma pedra nostalgica, dura, fria, morta. Não sinto. Tudo me atinge e apenas se ve, não existe acto reflexo dentro de mim. Os mortos correm depressa, as pedras não sentem.

segunda-feira, abril 30, 2007

Ontem, hoje e amanhã.


Hoje queria falar-te ao ouvido palavras que já sabes de cor, mesmo que nunca as tenhas ouvido da minha boca, sabes de cor o que os meus olhos te dizem.
Era sentir a tua respiração a tocar na minha pele lentamente, que queria agora, sentir as tuas mãos a percorrer o meu corpo como se mais nada houvesse no mundo, como se eu fosse realmente a única, como se eu fosse realmente especial.
Mas talvez neste momento os meus sentidos peçam de mais, talvez exista muita coisa em mim que é exagerada, tal como a minha forma de viver. Não te sinto de mais, não te sinto de menos, não sei bem o que se sente, mas sei o que sinto.
Cá dentro, seja lá onde for que tudo isso se sente e guarda, existe alguma coisa que me põe um sorriso no rosto, um ar estranho, uma apatia ao resto ao mundo excepto a ti e aos meus sapatos.
Existe algo que não sei explicar, quem me dera saber escrever sobre tudo isto...


Um dia vou fazer uma história bonita.

"Dá-me tanta vontade de te agarrar e correr contigo à chuva..."

domingo, abril 29, 2007

Entre.

Sinto o tacto da depressão procurando o destinatário ausente
(presente na escrita.)
Sofro de resistencia ao natural, nego o que vejo acontecer, mas não me detenho perante o que sinto,
(e acontece.)
É aqui que o desencontro sentimental encontra o olhar no seu reflexo, parece que as coisas encontraram um lugar para existir,
(em lugar nenhum físico.)
A beleza agressiva com que te vestes acaricia-me a vida, que corre em mim em diques rachados por águas passadas.
(sempre o passado.)
A música arranha-me significados supérfulos, imaginários luxuosos de uma pobreza de gentes que encontro em mim,
(pobre de sentimentos.)
O dia de hoje, aboliu o conceito de expressão, não falo, não rio, não me mexo,
(apenas te olho.)

sábado, abril 28, 2007

Mundo incompleto

Gostava de roer pêras, enquanto segurava com o indicador e o polegar, o pequeno pedaço que resta do tronco, e com a outra mão o pedaço mais distante daquele. Roía pêras enquanto lia histórias de pernas cruzadas. Era o seu jantar ideal. Pêras e Livros.
- Os teus livros são muito bons ao sabor das pêras. - era isto que um dia iria dizer, quando conhecesse a pessoa que lhe deixava sempre que acabava o livro que estava a ler, outro debaixo da Macieira que nunca tinha dado maçãs.
- A minha macieira não dá maçãs, dá livros. Livros deliciosos. - também iria dizer isto, entre todas as outras coisas que ia apontando com um canivete nas tábuas de madeira que cobriam o chão do seu quarto. Aquilo não era um quarto, era a casa das dúvidas. Dúvidas sobre os livros, sobre a sua vida, sobre a vida dos personagens, sobre os lugares do mundo que nunca tinha visitado, sobre a sua imaginação que crescia mais do que a sua idade.
A sua caneta era um pequeno canivete, com uma lamina muito afiada com que raspava a madeira já velha e seca, que tinha um cheiro a vazio e a pó, cheirava a fim de vida e estalava quando era pisada. As dúvidas acumulavam-se pelo chão assim como o pó sobre as estantes, e sobre as lombadas dos livros que tinham nomes em todas as linguas.
-Poucos foram os livros de que não gostei, todos foram os que me fizeram pensar, não detestei nenhum, muitos foram os que amei. - amava livros para encher a sua vida com a vida dos outros, para preencher a falta que lhe fazia aos olhos observar comportamentos humanos, vozes distantes, respirações junto à pele, e mais que um coração a bater.
Tinha um animal de estimação. Não era bem um animal de estimação, era um animal que a visitava frequentemente, aquele que nunca deixava de aparecer na estação do ano certa, aquele em que notava as diferenças que havia entre o seu mundo e o dos outros. Era um caracol castanho e verde, às riscas, que para ela aparecia umas vezes em casa grande, outras vezes com a casa pequena, com riscas largas, e no ano seguinte com riscas finas.

sábado, abril 14, 2007

Hoje.

O que eu queria hoje era ver um bom filme, e chorar para dentro do balde das pipocas.
O que eu queria hoje era ver a minha vida em episódios, e ficar tão feliz como fiquei quando os tipos do Prison Break conseguiram fugir.
O que eu queria hoje era de comer uma enorme fatia de bolo de chocolate, estupidamente deliciosa.
O que me queria hoje era saber tocar piano.

O que eu queria hoje era que as personagens dos meus textos me visitassem em sonhos, e que eu pudesse ter conversas interessantes sobre a vida delas.
O que eu queria hoje era de vestir uma roupa bonita e parecer realmente bem aos meus olhos, não aos olhos dos outros.
O que eu queria hoje era andar descalça e sentir o chão quente debaixo dos pés.
O que eu queria hoje era passar duas horas a rir às gargalhadas, de uma piada sem graça nenhuma, mas que toda gente achou idiota e engraçada.
O que eu queria hoje era andar de carro pela cidade à noite, enquanto na rádio havia um programa especial só com as minhas musicas favoritas.
O que eu queria hoje era ser criança de novo e andar com os sapatos todos sujos, assim como as mãos, e ter os joelhos arranhados.
O que me apetecia hoje era escrever o meu poema favorito na areia da praia.
O que eu queria hoje era dançar o tango com uns sapatos vermelhos muito altos, numa praça francesa.
O que eu queria hoje era cortar o cabelo igual ao da Amélie e ter um sorriso igualmente doce.
O que eu queria hoje era passar a noite de mãos dadas com alguém, enquanto o outro ser me sussurrava coisas bonitas ao ouvido.
O que eu queria hoje era um beijo na boca apaixonado, com direito a levantar um dos pézinhos como é habito.
O que eu queria hoje era que o amanha nunca chegasse.

quinta-feira, março 29, 2007


Falta de coisas inesperadas na vida. Quero que a falta de coragem não seja um mal crónico.
Não me vou voltar a esconder atrás do nada, nem seguir em frente de cabeça no chão.

domingo, março 25, 2007

Fim do Mundo


Um dia no meio de um problema ou no meio de um nada, de um vazio, a linha da vida será cortada pelas mãos massacradas que ninguém agarrou.
Que a faca não seja precisa para tirar a vida àqueles que um dia ousaram amar distraídos, que seja a alma amachucada a definhar lá dentro, que lhes tire a cada dia que passa os movimentos, a agilidade, os sentidos, a vida que querem viver com vontade de morrer.
Que se encoste um ferro quente na pele, fundindo a dor de uma vez por todas no corpo até ela chegar à alma. Que essa dor transforme quem a sofrer para sempre, e que a feche de uma vez por todas aos afectos.
Que os melancólicos fiquem para sempre sozinhos com a sua tristeza, dentro de quadrados assimétricos, enquanto os pianos e os violinos lhes arrancam a solidão à dentada das suas cabeças.
Que nos corações de quem não ama, nasça uma árvore sem frutos nem flores, uma árvore sem folhas, uma árvore que não é nada, que não serve para nada, para que eles se sintam preenchidos no espaço para sempre condenado ao vazio.
Que se deixem ficar quietos os que tem a cabeça a andar às voltas, agitados e confusos, enquanto vêm círculos a moverem-se nas paredes; que se deixem a enlouquecer os que se julgam donos das certezas, que o delírio lhes anule toda a razão.
Num lugar branco e claro, que se abram os olhos daqueles que tudo quiseram ver, seja a ametropia a sua doença enquanto os seus olhos ardem; que se oiça uma música alegre e os pensamentos por si processados sejam gritados até eles caírem sem reacção.
Que se cortem as mãos a quem escreve, que se lhes retirem os olhos para que mais nenhuma linha seja lida, que lhes arranquem os ouvidos para não poderem jamais compreender as novas história, que lhes arranquem a língua para que nunca mais envenenem a mente dos que sempre quiseram escrever e ser génios.
Que a justiça seja uma palavra com um significado justo e imutável na mente de todos os anormais, que se encham todos os rostos com um sorriso estúpido, e que toda a gente seja ignorantemente feliz. Que ninguém seja condenado por ser maravilhosamente cruel, por ser fantasticamente louco, ou por ser simplesmente morto dos estímulos do mundo real.
Que a marcha nupcial seja trocada pelo Requiem de Mozart, e que ninguém case por amor, mas por ódio ao outro com quem terá de conviver até converter todo esse sentimento em acção.
Que a música não seja somente um barulho, mas a energia ejaculada pela terra para dentro de nós, que seja mais que um motivo para pessoas sem cérebro agitarem os corpos suados para obterem sexo, que seja fonte de amenomania.
Que a imaginação seja um lugar possível de habitar, onde tudo é fabuloso e funesto, onde se pode encostar a cabeça e dormir sobre o que se ve dentro do corpo, onde a alma é mais que uma extensão de nós mesmos, onde tem um corpo sem roupas, sem frio e sem calor.
Que o sexo se faça somente com a cabeça, que seja mais que uma causa de desgaste de corpos devido ao atrito, que seja um estado de pura alegria e êxtase equivalente ao conhecimento de muitas teorias.
Que habitem aqui, seres desconhecidos que sofram de desconfiança crónica para com os outros, que sejam observados, subestimamos, provocados, humilhados, controlados e traídos pelas suas próprias alucinações, e que se escrevam as mais interessantes histórias sobre eles.
Que o suicídio seja a morte natural de todos os que recorrem sem intenção à vida, que dela sejam donos, e que a morte não seja mais que um orgasmo inversamente proporcional à existência, e à razão sensível.
Que não se sofra nunca mais de neurastenia, que tudo seja irritantemente perverso e soez, que os olhos ao se abrirem não consigam ver mais nada que desgraça.
Que todo este orgulho e tristeza me derrubem sobre os joelhos, com a cabeça baixa em direcção ao centro da terra, que me amarrem as mãos e me tapem os olhos, que me vejam os lábios com desdém sempre que deles saírem ideias absurdas.


Quando o mundo acabar, fecharei a porta e no escuro procurarei alguém igualmente estranho que me faça cócegas no coração.

segunda-feira, março 19, 2007

Na noite


Era noite e apenas se ouviam os passos que iam ficando para trás, enquanto avançava no tempo e nos momentos. O vento soprava sem nenhum murmúrio agregado, e fazia com que os olhos se abrissem ainda mais, abriam-se para a escuridão que descia em estado líquido pelas paredes,e que cobria o alcatrão negro do caminho. A lua estava acessa, mas mínguava tal como as suas vontades de ver fosse o que fosse. Estava frio, e por isso escondia as mãos nos bolsos, não por isso, mas pelo medo de um tocar sentimental que envolvesse toda a sua existência. De mãos nos bolsos pisava a noite sem destino,sem nada que conduzissea sua pessoa a algum lugar, ou a lugar nenhum. Não havia um rumo, mas havia muitas ideias que baloiçavam como que nos fios de cabelo, para cá e para lá, ao compasso dissonante do vento. Ali repousava naquele caminhar, tal como sempre, tal e qual todos os dias, as ruas estavam húmidas e o que restava da lua criava um cenário de espelhos que reflectiam a sua mentira aparente, o seu corpo imundo do mundo, da sua alma suja. Não olhava os espelhos, não queria conhecer a figura que se encontra por de trás do reflexo.
Como uma espécie de passageiro da noite segue em busca de qualquer coisa, não de uma coisa qualquer, conforto, calor, carinho, carência, castigo, cartas, uma casa. Observa a sua cabeça por dentro, mistura as imagens vividas, com as imagens por morrer; tem um frasco dentro da cabeça que contém uma figura alada e incipiente. É a esse ser que dá atenção, é a esse ser que cruelmente tira as asas ao anoitecer, enquanto ri sem parar criando uma alienação da sua realidade, entrando no outro mundo que também é o seu.
Agora trás consigo essa figura, que dentro de uma melancolia eterna chora lágrimas com dor. É àquela miudeza que que mostra a escuridão da noite, a solidão, enquanto vazio de emoções segue somente por seguir o caminho, a que a noite o conduz.
Sente-se livre de tudo, da crueldade de viver, da dor que queimou não no peito, mas no corpo por inteiro, da alquimia com outros distantes, da experimentação megalomana dos sentimentos. Finalmente, no final do dia é livre e não é nada, simplesmenta nada e invisível, no silêncio e no escuro da noite. Ouve sem parar o barulho daquele pequeno corpo que, dentro da garrafa bate com os punhos no vidro por não conseguir voar. Sem asas, coloca nas mãos do ser que tem dentro de si, uma arma fria e carregada, pronta a disparar.
Há uma explosão de adrenalina, hoje alguém vai ser tudo, hoje alguém vai ser livre e voar pelas próprias asas.

sábado, março 17, 2007


Lava-me e esfrega-me a alma também.
Dá-me a tua mão para que possa criar em mim uma ilusão de sentir-te. Deixa que os meus dedos se interlassem nos teus criando uma força inerte e invisível, uma barreira às coisas que são más, e às coisas que não o são.
A ilusão de um sentimento casto e irrefutável turva-me os sentidos magoa-me a existência de mim mesma. A ilusão faz-me doer a cabeça. A dor dá-me a vida que os sentimentos me tiram, os bons sentimentos, as coisas realmente importantes que não sei definir em palavras, por, talvez, não terem na sua realidade, importância nenhuma.
Há uma força em mim que puxa cá para fora, que desmembra de mim, pequenos pedaços e os deixa soltos, como papéis ao vento. Força essa que me cria a esperança de um dia me sentir realmente viva, sem nada entro de mim, e com tudo à minha volta.
Um dia quando morrer quero-me transformar em pequenas cartas, de amor, de suicidio, de despedida, de revolta. Cartas que nunca foram entregues, cartas sem destinatário, cartas por terminar, palavras sinceras, fortes e poderosas, carregadas de uma energia destrutiva. Mas não serão apenas cartas, serão pessoas, as que não tem mãos para dar forma às letras, aquelas que escrevem na cabeça linhas e linhas, histórias só delas, buracos de uma existência sem corpo, sem realidade.
Quando morrer, serei livre do fardo que carrego em mim, os segredos dos outros que me habitam serão finalmente revelados, e todas as histórias terão um fim igual ao meu.
Vou escrever sobre pessoas, umas verdadeiras, outras verdadeiras mas não reais. Vou estudar os livros que os outros trazem nos olhos e nas mãos, ver-lhes a essência de existir, já que eu não o faço. Não consigo ser una, não consigo ser só eu, há sempre uma multidão dentro de mim. Uns que choram, uns que são maus, e poucos outros, que se transformam numa mentira negando a sua presença através do meu sorriso.
São eles que escrevem todas as cartas, sem mãos, só com a cabeça. Eles que são o meu todo, por completo, eles que não tem corpo, e que me usam a mim para escrever cartas sem remetente, cartas que escrevo com as minhas mãos em sofrimento, enquanto despejo a alma.

sábado, março 10, 2007

Novelo

Palavra Solta,
Veneno tomado à colher,
Doce revolta,
Vem ai mais uma palavra torta.
Quem me dera ter a mão morta,
Para não escrever poemas assim.
(...)

sexta-feira, março 09, 2007

Do outro lado da Janela da imaginação

Apartir de um interesse pouco interessante construiram-se casas sobre a terra, muitas casas alinhadas como se fossem caixotes em armários. Cada casa continha uma pessoa, uma cama, uma mesa, e uma folha de papel, como se fosse uma casa de bonecas sem mais artificios superfulos, para brincar basta a imaginação.
As pessoas que viviam nessas casas, dormiam duas horas, nem na noite nem no dia, dormiam quando tinham que dormir. Lá no sitio onde havia casas, não existia tempo, nem noite nem dia, era por isso que ninguém tinha relógios em casa.
As Casas eram pequenas, apenas se podiam dar dez passos para cima, vinte para um lado e quinze para o outro. Sim, lá dentro, as pessoas podiam dar passos para onde quisessem, não estavam limitadas a andar para a frente e para trás, ao contrário de nós, o limite deles era mesmo o chão. Apartir dai já não havia mais nada.
As pessoas acordavam e sentavam-se debaixo da mesa, com medo. As pessoas das casas de bonecas tinham medo daquilo que existia depois das portas de casa e por isso escondiam-se. Tinham medo também da folha de papel, não tinham com o que escrever ou pintar, e por isso tinham medo do poder da folha, medo que quando se chegassem perto as palavras ou as figuras aparecessem subitamente e transformassem toda a sua vida.
Viviam assustadas e olhavam-se nos olhos quando iam as janelas, uma janela em cada parede estabelecia a ponte imaginária entre a sua cabeça e a cabeça da pessoa da casa ao lado. As paredes eram meramente imaginárias, mas havia janelas reais, com vidros e madeiras a segurarem os vidros. Janelas suspensas por onde espreitavam, mesmo sabendo que não havia paredes, porque era assim que criavam o seu espaço periferico de intimidade. Espaço esse que não existia.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Culpa e Inspiração- hoje não


Culpa e Inspiração. Vaguear na culpa. Parar, Matar, Extinguir a inspiração. fechar a porta com oito chaves. Era isso que eu queria dizer. O sete não é perfeito no nosso tempo, seja ele o tempo que for. Ontem, Hoje, Amanhã. Não importa Mais. Não importa Menos. Simplesmente não importa. Dislexia cerebral. Desconectar com o mundo sem tempo. S-E-M-TEM-P-O. Agora. O momento é o já. A culpa do passado que se viveu. A culpa do futuro do passado que se viveu. Inspiração presente, parada, morta e extinta. A porta está fechada com oito chaves. Não sei o número da porta, era isso que eu queria dizer. As chaves estão em cima da mesa, afinal a inspiração está, esteve, estará morta, presa na porta. Eu não sei o número da porta. Não sei onde estará a porta. (o que é uma porta? faz-me um desenho, com carinho, faz-me um desenho e explica-me porque isso de que falo é uma porta) Culpa e Inspiração. Somente culpa. Nada de Inspiração. A culpa desliza pela porta abaixo, enquanto a inspiração espreita sem olhos. Os olhos estão no lugar onde escrevi o número da porta. Dislexia cerebral. Esquecimento. Conectar com o mundo. Fim. Agora, Hoje, Amanhã. Nunca Ontem. Fim.


(escrito na bolha. )
(Incoerentemente Incoerente)

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Starálfur

A melodia eleva-se para outros lugares onde a alma se estende, por campos verdes e montanhas frias em que o meu pensamento permanece enrolado nas descrições de acordes, violinos que choram e sintetizam em mim uma pureza de sentimentos, imagino como seriam os sentimentos que brotaram dos outros ainda virgens destas composições.
Levamos a vida às costas num vácuo avassalador, mantemo-la intacta de perturbadores da razão, vivemos tão dispersos das coisas que nos esquecemos de catalogar aquilo que nos significa algo, trancamos nas masmorras de nós mesmos os gritos abafados que nos doem de pensar.
A melodia mostra-me um céu limpo, metáfora do meu espírito inquieto, leve por ter hoje aberto uma porta de onde vejo o verdadeiro brilhar azul do céu, azul, amarelo, roxo, negro, branco, o céu.
O binómio da porta aberta, porta fechada, quantas portas não bailamos nós pela festa da nossa existência, tantas que deixamos de contar os erros, qual é o verdadeiro significado de fechar uma porta? Qual seria o significado deste artigo comum sem o verbo?

A dualidade de abrir a porta de nós mesmos ao mundo, a dualidade de fecharmos e não sermos ninguém. Paradoxo. Porque nunca somos somente um, porque não existimos sozinhos, porque somos cara e coroa da vida.
A melodia abriu as portas do que somos, talvez pela primeira vez tenhamos ouvido o murmúrio ansioso e anónimo que permaneceu tempo demais debaixo do pó.
Temos duas faces, a que vemos no espelho e a que só conhecemos quando a porta se abre, quando o coração se sente apertado pelo ritmo das coisas que nos entram pelo ouvido; passamos demasiado tempo sem conhecer o paradeiro da chave, e do nada ela abriu-nos a porta.
Não vimos as estrelas que caíram diante de nós, não abrimos a porta para as receber, e elas foram cuspidas pelo céu negro que nos aflige lá fora, estávamos preocupados em acertar os passos com os dias amarelentos e tudo passou assim, devagarinho.
Tenho uma porta aberta para acompanhar a descida vagarosa e agora melódica da estrela que borra o meu céu de brilhos ouro e prata. Não existem receios hoje, abri o livro on
de desenharam mãos unidas, lábios colados, sorrisos rasgados que trago na memórias mesmo sabendo que para falar destas coisas não é preciso esperar, acontece tudo do nada.
Hoje dei um significado diferente às lágrimas que me borraram a partitura coçada pelos sofrimentos, limpei a alma amarfanhada porque hoje compreendi o porquê das coisas.
Todos temos um significado, existe qualquer coisa depois de tudo para justificar todas as existências, nenhum nó se desata sem uma mão ou um pedaço de vento.
A estrela que viste cair ontem ao som da música sem idioma, porque ninguém fala a língua da psique, não caiu por acaso. Caiu para tu a contemplares numa iniquidade doce, a lágrima era apenas a alegria da descoberta. Tal como a minha. Hoje e sempre.



(cuspido ao ritmo de Stáralfur de Sigur Rós)

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Apartir do sempre

Eram pessoas normais. Viviam nem mundo normal. Faziam coisas normais. Mas não eram normais.
Tinham duas pernas, dois braços, uma boca, uma cabeça, possuiam coisas normais de pessoas normais. Mas não eram normais.
Falavam de coisas normais. De livros, de músicas, de árvores, de instrumentos musicais, do tempo, do mundo, das aulas, e até de pessoas normais. Mas não eram normais.
Falavam ao telemóvel, mandavam mensagens, escreviam e-mails, escriam em papeis, falavam baixinho para ninguém ouvir, falavam um com um outro, e falavam com pessoas normais. Mas não eram normais.
Houve um dia, não sei se cedo ou se tarde, mas houve um dia normal, em que começaram a ser pessoas normais. Continuaram a fazer as coisas normais, só que desta vez eles eram pessoas normais.
As pessoas normais não se entendem, não se comunicam, falam-se apenas, mas não se entendem como as pessoas não normais.
Deixaram de viver no mundo das pessoas normais para entrarem numa espécie de Babel, eles não se entendem fora do mundo das pessoas normais.
Já não ouvem as músicas das pessoas normais, e pior, não sentem nada que não seja normal nas músicas das pessoas não normais.
Eles não se entendem, não comunicam, são pessoas normais em Babel. Não no mundo das pessoas normais, mas no lugar onde não se entendem.
Quando forem mais velhos, aqueles que passaram a ser pessoas normais, passarão um pelo outro e não se conhecerão. Eles sabem quem são, mas não sabem falar. No futuro serão somente pessoas normais.




O futuro chega sempre mais cedo quando não queremos que passe.
Tornamo-nos pessoas normais.



"So when weakness turns my ego up
I know you'll count on the me from yesterday.
If I turn into another
dig me up from under what is covering
the better part of me.
Sing this song
remind me that we'll always have each other
When everything else is gone."

Incubus, Dig

domingo, janeiro 14, 2007

Os grandes portugueses -será motivo para rir ou para chorar?

Abriu janelas onde nem sequer paredes havia.Canções que diziam qualquer coisa. Estava pronto para morrer pela liberdade.É pouco face ao muito que há para fazer. O mapa do amor.Uma ciência muito interessante, mas uma ciência muito parada.Quando morrer a Literatura, ele sobreviverá.Fico triste quando saberei quando não terei tempo para tudo saber.Valeu a pena ter lutado, valeu a pena ter sofrido. Enorme capacidade de por em palavras capacidades eternas. O génio da raça e o génio da desgraça.