segunda-feira, dezembro 15, 2008
Onde estás Saly?
Para mim ela não passava de alguém que fugindo da guerra em Berlim, estava agora a trabalhar na loja de fruta no cimo da minha rua. Questionei-a tentando compreender como é que tudo aquilo era possivel. Ela sabia mais que ninguem sobre pessegos, maçãs, bananas e até ananáses que não eram muito comuns numa altura como esta. Disse-me que tinha aprendido com um amigo judeu em Berlim. Antes da guerra e quando ainda trabalhava como bailarina, tinha um amigo que explorava uma pequena frutaria junto da residência onde habitava com o seu escritor americano. A confusão começava a alastrar-se cada vez mais. Estou certo que a guerra levou ao desmoronamento de muitas familias e muitos impérios, mas que fazia aqui na frutaria do lado, uma antiga bailarina de cabaré que tinha um amante americano?
Saly tinha vindo para a Holanda logo após Berlim se ter deixado afundar pelas teias da aranha nazi. Ainda resistiu ao moviemento por uns anos, segundo me contou, mas era impossivel conseguir manter sua profissão tão mal vista e desdenhosa, numa altura que Hitler era o unico que podia recorrer a este tipo de serviço mascarado de luxuria.
segunda-feira, novembro 17, 2008
Amanhã, como hoje.
terça-feira, novembro 04, 2008
Agora.
e olhei bem lá para o fundo.
Antes de poder reagir ao que vi
agarrei naquele que pensei não utilizar mais.
Limpei-lhe o pó e ajeitei-lhe os contornos
para que também isso fosse perfeito.
Fechei os olhos e ao ouvir o convite para
mais uma dança deixei-me levar.
Agora sorrio enquanto a voz me chama,
sorrio como se fosse este o momento,
o momento de todos os "para sempre".
Deixo-me levar devagarinho no caminhar,
deixo que os passos se elevem,
mesmo sem saber onde vou chegar.
Escondo o medo debaixo dos contornos imaginários
do bater do coração.
Agora é tempo de acreditar,
que o momento é o acaso,
que as coisas acontecem na velocidade certa,
que os olhares não se cruzam sem motivo.
Aqui estamos, agora,
no momento certo.
Porque é sempre possivel,
fechar os olhos, sonhar, e sorrir no ritmo do coração.
quarta-feira, outubro 29, 2008
sexta-feira, outubro 24, 2008
João sempre foi um nome
não sei se o teu.
Por momentos pareces ser,
uma outra pessoa possivelmente.
A escrita sempre foi uma paixão.
O amor dura sempre, para sempre
Até terminar.
Os anos, esses não contam.
Nunca te os contei.
Encontrei-te e perdi-te.
Que importa?
João sempre foi um nome
de alguém que conheço.
Outro alguém que não tu.
Nunca terás o nome,
se não for esse o teu rosto.
São as leis. As pessoas de
gravata no metro são
todas iguais e também
são sempre demais.
Mas tu não, João.
No dia em que descobrir o
teu nome, casaremos.
Numa cerimónia de mentira
- Eu Joana aceito...
e no teu lugar verei
a vela arriada
com medo de nunca encontrar
o porto de abrigo mais proximo.
E que importa?
João é apenas um nome.
quinta-feira, outubro 23, 2008
Sinceridade - carta de suicídio.
Gostaria hoje de declarar um conjunto de acontecimentos do meu quotidiano que me fizeram encurtar um caminho que deveria completar até ao final. Mas na verdade qual é objectivo de levar uma vida até ao fim? aos que sentem afecto à sua condição de mortais lamento dizer que, apesar de não ter morrido ainda, nada há a temer na morte. Vi isso nos olhos de todos aqueles que vi morrer.
A minha vida vai terminar e mesmo assim sinto remorços de permanecer vivo na memória daqueles que ainda verão na minha cara traços de alguma familiariedade. A esses, suplico que abandonem as minhas memórias e me deixem embarcar finalmente da verdadeira transcendencia.
Despedi-me da minha familia ainda novo. Desde que nasci que desejo acabar com tudo, mas a maldita da vida impediu-me sempre dando-me que fazer. Tudo começou com a minha mãe. Depois de algumas complicações durante o parto, a pobrezinha não resistiu e abandonou-me a mim e aos meus seis irmãos. Toda a familia ficou infeliz excepto eu. Eu sim, fui o melhor que aconteceu à minha mãe livrei-a de uma vida de sacrificio e trabalho. Pouco tempo depois despedi-me do meu pai e dos meus dois irmãos mais velhos. Por não ter força suficiente para segurar a corda durante a limpeza do poço, deixei cair as pedras e o lixo que tinha nas mãos em cima do meu pai. Os meus irmãos foram vítimas de um acidente. Sim, fui eu que os matei. Sempre senti que os meus dois irmãos eram infelizes. Trabalhavam dia e noite para ajudar o meu pai, que por sua vez passava os dias a embebedar-se e a bater nos filhos. Eu também apanhei muitas vezes. Mas ele levou a pior. O corpo morto e enorme do meu pai a cair em cima do suporte onde estavam os meus dois irmãos, eles os tres dentro de àgua cobertos com coisas que lhes levavam o corpo para baixo, mesmo até ao fundo do poço. Nunca esquecerei as suas caras.
Hipocritamente, os meus quatro irmãos ficaram desolados com a notícia. Nunca suportei gente hipocrita e por isso senti que devia lutar contra o sentimento mesquinho que era o deles. Resolvi assim vingar todas as falsas lamentações e acima de tudo, o facto destes não mostrarem qualquer tipo de agradecimento à minha pessoa. Desejava morrer mais que tudo, mas a vida, mais uma vez, obrigava-me a tomar medidas pelos que iam ficando.
Sim, fui eu. Tranquei a minha irmã dentro do forno de onde toda gente da minha familia comeu pão. E continuaram a comer, o pão e os restos dela. Um a um. A minha irmã desapareceu misteriosamente logo após o acidente. Andou a lamentar-se por aquela desgraça durante meses, passou dias a chorar na beira do poço, não aguentei e resolvi acabar com aquilo. Os meus irmãos~não compreendiam o porquê dela ter desaparecido, e eu apenas lhes disse: Vamos comer o pão que o diabo amassou. Estamos todos condenados pela vida.
Eramos apenas quatro à mesa agora. Gente viva sem motivo, pessoas a mais que me incomodavam, não queria morrer com assuntos inacabados. Não podia deixar aqui pessoas condenadas à morte, sangue do meu sangue, a viver uma vida errante à procura de objectivos e motivos para prolongarem a vida a um infinito inexistente.
Uma vez um dos meus irmãos perguntou-me porque é que eu tinha esta atitude tão derrotista com a vida. Apenas lhe respondi que não nasci para trabalhar até morrer, não nasci para fazer pessoas felizes e levar estalos como resposta.
No dia em que a minha mulher me disse que estava grávida fiquei fora de mim. Ela tinha feito com que atentasse contra as minhas convições. Convidei-a para colher flores flores numa tarde quente de verão. Foi descoberta por uns homens dois dias depois junto ao rio. Todos lamentaram que uma mulher tão nova e grávida tivesse um final daqueles. Dei-lhe tudo o que desejava. bati-lhe com uma pedra na cabeça e afoguei-a no rio juntamente com as flores que tinha apanhado, ela sempre me disse que queria morrer no campo. Não importava como, mas no campo. Libertei a minha mulher de um peso enorme que é condenar mais uma vida e ao mesmo tempo consegui liberta-la de existir. Os problemas somos nós e amanhã de manhã eu serei apenas um corpo numa casa vazia.
Da minha familia, sangue do meu sangue, ninguém mais causará problemas, ninguém tentará dar um novo sentido à existencia, apenas eu, corpo frio com um tiro na cabeça. Só eu tive o discernimento de adoptar um comportamento inteligente dando sentido à vida daqueles que me rodeavam.
A minha irmã que restava morreu em casa com toda a sua familia por causa de um acidente de gás. Todos disseram que Deus estava comigo porque naquela noite me senti enjoado e resolvi apanhar ar. O ar que apanhei foi de facto, o ar que saía da casa após eu ter aberto todos os bicos do fogão. Todos jaziam tranquilamente nas suas camas quando dei o alerta pela manhã.
Restavam apenas dois irmãos e se um deles não tivesse problemas de coração de certeza que ainda estava vivo após eu ter desabafado com ele.
A vida obrigou-me a estar farto de viver. quero acabar com tudo rapidamente, desejo a morte mais que tudo na minha vida.
Amanhã de manhã tudo terá finalmente um destino favoravel. O meu irmão a ser morto na aldeia vizinha e eu com esta carta entre a minha cabeça e a ponta da pistola.
terça-feira, outubro 14, 2008
O cantor melancólico.
sexta-feira, outubro 10, 2008
silêncio criativo
segunda-feira, setembro 29, 2008
Quero ser o António Lobo Antunes.
Cá continuo à espera. No jardim onde se ouve água a correr de uma fonte e o trânsito infernal dos aviões para a portela. Sempre gostei destes contrastes embora aprecie muito mais os dons musicais da natureza. Não estou sozinha, uns bancos mais à frente uma mulher permanece apática. Sempre tive problemas com pessoas apáticas. Preocupa-me o que se passa lá dentro e é indecifrável cá fora. A apatia é como um presente vazio, alguém que não transmite nada cá para fora. Uma pessoa com inspiração invisível, que não se traduz em letras, nem em música, nem em nada. Tem os lábios vermelhos e fuma um cigarro com um vagar quase invejável. Não tivesse eu esta ideia de que sou diferente de todos os extraterrestres do mundo, que gostava de ser assim e fumar um cigarro com aquela delicadeza e indiferença ao mundo. Quem me dera não me preocupar com o tempo.
Essa é uma questão que consigo contornar com alguma astúcia. É por isso que escrevo, para condensar o tempo para todo o sempre. Cada linha é um momento meu em que o tempo não contou, mesmo sem inspiração nenhuma. Quando eu for velha, vou ler as minhas ideias alteradas da juventude e voltar a sentir o mesmo. Juventude condensada e mais um comprimido para as dores nas costas, lidas com mais cinco dioptrias em cada vista.
Agora que vou chegar atrasada ao compromisso a que me propus no inicio desta divagação, confesso porque escrevo: um dia quero ser interessante e culta como o António Lobo Antunes.
quinta-feira, setembro 25, 2008
Literatura tua, completa.
domingo, setembro 21, 2008
Há dias...
Eu juro, por todas as coisas sobre as quais não se deve jurar, que se eu mandasse em coisas que não são de ninguém, era a ti que dava o meu coração. [ Mas não posso]
Eu gostava de acordar o coração deste sono demorado e manda-lo a correr ao teu encontro, mas o meu coração só se sabe perder.
[Todos os dias a toda hora]
Eu quero acreditar que um dia me vais voltar as costas e lançar o teu coração ao céu. Quero acreditar que esse amor que desperdiço todos os dias, um dia se vai transformar numa estrela, o amor mais brilhante de todos os amores.
[Todas as noites procuro o meu coração num lugar perdido]
Se há dias em que me apetece esquecer que penso e que és tu quem me pode fazer feliz, também há dias em que me doí cá dentro o simples facto de te ver existir assim.
[mas todos os dias agradeço a tua presença]
sexta-feira, setembro 19, 2008
Across the universe
segunda-feira, setembro 15, 2008
Luz
segunda-feira, agosto 25, 2008
Uma questão de sensibilidade
sexta-feira, agosto 22, 2008
A letra A
quinta-feira, agosto 14, 2008
Aprender a andar II
segunda-feira, julho 28, 2008
28 de Julho.
segunda-feira, junho 30, 2008
Peça de coração
quarta-feira, junho 18, 2008
Rasto do tempo.
segunda-feira, junho 09, 2008
E assim se fez o amor...
Pretty baby, you are the soul who snaps my control
Such a funny thing but every time you're near me
I never can behave
You give me a smile and then I'm wrapped up in your magic
There's music all around me, crazy music
Music that keeps calling me so very close to you
Turns me your slave
Come and do with me any little thing you want to
Anything baby, just let me get next to you
Am I insane or do I really see heaven in your eyes?
Bright as stars that shine up above you in the clear blue skies
How I worry about you
Just can't live my life without you
Baby come here, don't have no fear
Oh, is there a wonder why I'm really feeling in the mood for love?
So tell me why stop to think About this weather, my dear?
This little dream might fade away
There I go talking out of my head again, oh baby
Won't you come and put our two hearts together?
That would make me strong and brave
Oh when we are one, I'm not afraid, I'm not afraid
If there's a cloud up above us
Go on and let it rain
I'm sure our love together will endure a hurricane
Oh my baby
Won't you please let me love you
And give a relief from this awful misery?
What is all this talk about loving me, my sweet?
I am not afraid, not anymore, not like before
Can't you understand me?Now baby, please pull yourself together, do it soon
My soul's on fire, come on and take me
I'll be what you make me, my darling, my sweet
Oh baby, you make me feel so good
Let me take you by the hand
Come let us visit out there In that new promised land
Maybe there we can find
A good place to use a loving state of mind
I'm so tired of being without
And never knowing what love's about...
James Moody, you can come on in
And you can blow now if you want to
We're through.
George Benson Moody's Mood
terça-feira, junho 03, 2008
Se é isto o amor.
sexta-feira, maio 30, 2008
"Etrange comme je t'aime..."
quarta-feira, maio 28, 2008
Comunhão.
invertem o nascimento da escrita.
São terra que se desfaz nas mãos com o calor.
A terra misturada na erva. Qualquer uma. Palha. Seca.
E é nessa brisa que nasce do nevoeiro nocturno
que encontro o teu olhar atento. Apatico.
Os olhos estão escondidos dentro da cabeça e
observam somente ideias vagas.
A natureza alheia-nos dos problemas do mundo
e faz-nos sentir demais. O amor.
Num instante de maior lucidez vemos restos
de terra sobre a linha do destino e do coração.
Sentimos o odor do corpo a queimar.
Em plena comunhão sorrimos sem conseguirmos pensar,
na escrita manipulada pela natureza.
segunda-feira, maio 26, 2008
Julgamento das palavras. Acusação das pessoas.
Tento compreender os significados, faço o esforço para entender o que me querem dizer. Nesse esforço encontro outras palavras em tom de julgamento. As palavras julgam-se umas às outras. As pessoas não tem esse direito. É por isso que nem sempre nos compreendemos, é por isso que muitas vezes vemos o mal e não o conseguimos resolver, o mal está nas palavras. As pessoas limitam-se a usa-las em vão.
"Pode ser que ela assim perceba." = "Quem não se entrega às palavras não faz a digestão dos meus poemas."
domingo, maio 18, 2008
O meu silêncio. Hoje.
Porque teimas em me tirar isto tudo? Porque teimas em me guardar para ti, em me proteger como se eu fosse frágil e não soubesse viver? Não foste livre sempre? Não sonhaste com a tua vida? Com um futuro feliz? Posso ser eu a tentar o amor desta vez, por muito errado que isso te possa parecer? Deixa-me errar sozinha. Julga-me depois, como fazes constantemente, culpando sempre os outros. Desta vez sou culpada. Culpada por querer tentar ser feliz, da maneira mais errada de todas. Mas tu não compreendes. Não fazes um esforço, o esforço que fazias sempre. E condenas-me com todas as forças que tens. Prendes-me a existência, quando podias falar comigo sobre tudo e sermos felizes as duas. Porque o meu amor é o teu amor, e a nossa felicidade é uma só.
É tão dificil chegar a ti, agora.....
terça-feira, maio 06, 2008
Sintonias cubicas de um mais infinito
quarta-feira, abril 30, 2008
Psicanálise
Hoje o papel vai borrando letra a letra as lágrimas presas com força na ponta da caneta. E escrevo sem parar. Porque preciso de desabafar, porque é inutil gritar para o ar o que me apetecia cantar. É dia de não saber o que sinto, é dia de não me saber sentir. Bem. Mal. Mais ou menos, nunca. Não gosto de coisas mais ou menos. Aborrecem-me de morte coisas que estão para ser, coisas que nunca vão ser. E morro. Porque eu sim, posso morrer a cada palavra que mastigo calada. Engasgo-me. Antes morrer do que chorar. Que chorem depois por mim quem sobreviver. Se é que o sabem fazer. Dúvido. Que gritem então, que soltem para o ar gargalhadas cinicas. Mas não me deixem morrer descalça. Por favor. Sapatos de salto alto. Já que não choro ao menos que me deixem entrar no inferno a ouvir o barulho dos saltos no chão.
Hoje escrevo para não chorar.
quinta-feira, abril 24, 2008
A neta do meu avô.
Não fui ao funeral de nenhum dos meus avós paternos, estava ocupada a descobrir a morte e ainda não tinha noção do que seria uma verdadeira despedida. Como era de esperar vi muito mais gente morrer, pessoas velhotas, pessoas doentes e outros que morreram por amor.
Só com 11 anos descobri que a morte envolvia uma despedida e que isso era o mais difícil de tudo, depois de compreender os motivos. O meu avô materno adoeceu com um problema nos pulmões e passou muito tempo no hospital. Ainda não era muito velhote, mas era meu avô e por isso tinha de ser considerado assim. O problema da morte do meu avô estava ligado ao saber que isso ia acontecer e também ao facto de isso demorar tanto para acontecer, o que me arrastou num processo de adiar despedidas . Até um dia. Foi desolador. Depois de descobrir o que é a morte com seis anos, foi muito mais complicado aceita-la e conseguir despedir-me de quem não morre por amor, mas “por favor”.
Senti muitos remorsos de não ter ido ao funeral do meu avô despedir-me dele como fizeram outras pessoas que até gostavam menos dele que eu. Mas o meu avô deu uma ajudinha para se despedir de mim e nesse mesmo dia fez com que eu corresse sem parar atrás dele que ia num autocarro vazio. Corri até não ter forças. Ele ao ver-me parar, disse-me adeus e sorriu. Ele estava feliz, e disse-me para ser feliz como sempre fazia, chamou-me de neta. Foi um sonho. Nunca me cheguei a despedir do meu avô, tento o mais possível mantê-lo vivo dentro de mim e isso só é possível sendo feliz, como ele pediu. Hoje ainda há uma criança que vive escondida dentro de mim: A neta do meu avô.
terça-feira, abril 22, 2008
quarta-feira, abril 16, 2008
Ciclo vicioso
terça-feira, abril 15, 2008
Hoje é o meu dia mais feliz...
un, deux, trois, quatre, cinq, six, sept, huit, neuf, dix, onze, douze, treize, quatorze, quinze, seize, dix-sept, dix-huit, dix- neuf, vingt, vingt et un, vingt-deux...
Quem diria que aos 22, eu ia dar numa de Bad Girls...
terça-feira, abril 08, 2008
Tortura quotidiana
Entrou na casa de banho e evitou o espelho em todas as posições que se colocou. Olhou para a escova do cabelo durante alguns segundos e sorriu. Aquela era sempre a primeira coisa que fazia, pentear o seu longo cabelo ruivo. Mas hoje não. Agarrou na escova de dentes e abriu a torneira. Assim que começou a escovar os dentes, uma dor atravessou-lhe as gengivas e viu-se obrigada a parar. Os filamentos suaves da escova comprada de propósito para não a magoar entranhavam-se na pele e abriam feridas. As lágrimas pararam aquela rotina. De repente o espelho abriu o rosto à sua frente. A boca em sangue. A dor. A pele branca, seca e magra. E o cabelo que desaparecia de dia para dia. Enquanto se olhava no espelho chorava. Não tinha pena de si, mas também não aguentava aqueles sentimentos todos que a assombravam sempre que tentava fazer a sua vida normal. Estava esgotada, e todas as forças pareciam agora empurra-la em sentido contrário ao que queria seguir.
Lavou a cara e a boca e saiu de novo em direcção ao quarto. Pôs um lenço cor-de-rosa na cabeça que tinha sido oferecido pelas antigas colegas de trabalho, que agora só ligavam a perguntar como ela estava. Gostava de se ver assim, com aquela cor toda na cabeça enquanto deixava à vista algumas mechas de cabelo que lhe restavam. Eram mechas de cabelo que provavam que nem tudo estava perdido. Como se se tratassem de pedaços de esperança que viviam ainda agarrados a ela, pedaços de um eu agora em decomposição. Vestiu uma túnica de linho verde clara, um tecido leve e fresco, que lhe aconchegada o corpo, de todas as torturas que podiam neste momento ser as roupas para si.
Já na cozinha, tomou os comprimidos e sentiu as náuseas que desde ontem lhe aconchegavam o estômago. Era normal. Já estava a ficar habituada a toda aquela nova rotina, mas fazia tudo para a contrariar. Durante uns tempos ainda manteve o hábito de ir correr para a praia. Hoje não era capaz dessas proezas, o tratamento deixava-a fraca, os vómitos e a má disposição eram uma constante nos dias seguintes ao tratamento. Alimentava-se como se fosse uma criança, nada de comidas fortes e pesadas, tudo muito ligeiro, muito líquido, nada de fritos, nada de ácidos, só coisas frias ou à temperatura ambiente. Era como se fosse um passarinho, pouca comida de cada vez e várias refeições por dia, refeições essas que nos dias seguintes ao tratamento eram um autêntico suplicio.
Nunca se queixou de nada. Sempre que tinha de explodir tentava faze-lo quando estava sozinha e longe dos olhares de pena dos que rodeavam. Estava farta da frase “vai tudo correr bem!”. Era este o sintoma da doença que afectava os outros, as limitações de discurso. Sempre a ilusão, sempre a mentira, todos os dias o mesmo esperar. A mesma tortura quotidiana.
quarta-feira, abril 02, 2008
Turvar
segunda-feira, março 31, 2008
Nas folhas infinitas do meu poema
faço rebentar o coração
partindo-o em pedaços de coisas vãs
Por palavras não se sente a dor
no corpo, a dor das àrvores
a dor da alma da natureza.
Amor em pedaços invisiveis.
Nas folhas infinitas do meu poema
estilhaçam-se nos ouvidos
as relações e as solidões sem gentes
é na alucinação dos sentimentos
que ambos o deixam de ser.
São só palavras e não coisas
desumanizadas
Sem alma, sem sentir
Nas folhas infinitas do meu poema
faz-se de conta no existir.
segunda-feira, março 24, 2008
Eu ou Eu
domingo, março 23, 2008
segunda-feira, março 17, 2008
(Uma futura peça de teatro)
terça-feira, março 11, 2008
Rua dos Morangos
quarta-feira, março 05, 2008
Colagens
Harmonia perfeita num só lugar
grandes dias pequenos mundos, que fizeram história
A estória, porque é bom ler. Cartas
Livros, a palavra mágica... ninguém vive sem plavras.
para grandes males a arte do José Luis Peixoto e o
Johnny Depp requintadamente belo, envolvente e apaixonado
Os sonhos, as ilusões, wings
Ser criança! mais mimos sem fim
Paixões fortes, olhar sem medo
A desordem da sua vida, a mudança.
O lado selvagem da vida e da morte
O tempo, as horas, a janela e o vento
A amizade é já um manual de sobrevivencia. A única
Grande receita que talvez não resolva o
que não costuma fazer sentido mas
muito relevante
A amizade não tem preço. Não tem mesmo.
E cá estamos nós de maõs dadas, Fipa dançando o universo da alma.
bi-jou-x
[Isto são pedaços de revistas colados de modo coerente, que serviram para colocar sorrisos na cara de uma pessoa]
Partida --------------Chegada
domingo, março 02, 2008
Um.
quinta-feira, fevereiro 28, 2008
Céu
quinta-feira, fevereiro 21, 2008
Paris
domingo, fevereiro 17, 2008
Olhos do Mundo
sábado, fevereiro 09, 2008
Quebrar um verso de amor.
quarta-feira, fevereiro 06, 2008
Bilhete para colar no frigorifico
Ocupa os espaços deixados em branco no meu ser, vem devagar e trás contigo a paz, aquilo que eu procuro parece difícil de encontrar no universo. Podes acordar mal disposto, eu retirarei o que disse na noite anterior. Amar-te-ei. Que me resta mais se não amar? Deitado no sofá pareces tão distante, pareces vindo de um lugar diferente. És tão importante por seres assim, por teres o cabelo fora do lugar e um aspecto desarranjado. Na tua t-shirt verde alface que já vi tantas vezes encontro-me a mim, molécula que se agrega a ti e te esconde o corpo perfeito. Trouxeste-me tudo, tudo, tudo. E eu ainda ouso pedir-te mais. Não vás. Nunca me deixes. Nunca me deixes partir zangada a dizer disparates. Que não preciso de ti. Que o meu coração já não bate. Quando isso acontecer corre atrás de mim. Agarra-me contra uma parede. Aperta-me os braços com jeitinho e lança o teu olhar para dentro do meu. Diz-me baixinho. Olhos nos olhos. Amo-te. Só isso. Basta. Só quero que me ames mais um bocadinho. Que não me deixes fugir. Ouço os teus passos na noite. Chegas tarde tantas vezes. Eu não me importo de te ir dormindo a presença ausente. Não fazes barulho. És quase invisível na tua presença. Entras na cama devagarinho e beijas-me o mais possível. No fundo eu sei que me queres acordar. Despertar para o amor. Como sempre fizeste. Tirar-me da vida latente. Abraças-me e dizes que sentiste a minha falta. Depois há os dias. Os dias. Em que falamos alto porque não nos conseguimos ouvir. Ralhamos. Eu sempre mais que tu. Eu que sou mais fraca. Preciso de falar ainda mais alto. Falo na linguagem do disparate e não sei o que digo. Tens ciúmes. Eu também. Tens razão. Eu também. Temos amor. Pois temos. Acabamos encostados à mesa da cozinha. Encostados um no outro, com o coração próximo. Temos um só coração. Com os ritmos cardíacos a suavizar um no outro. Com os corações a aquecerem-se. Temos um só coração. Um coração sem voz. E duas bocas que falam demais a língua dos disparates. Vemos filmes. Falamos sobre os filmes. Tu cantas músicas no meu ouvido. Eu leio-te poemas enquanto finges dormir. Sei que finges. Vejo o teu sorriso a abrir. Palavra a palavra. Gesto a gesto. Somos o amor todo. Umas vezes mais outras menos. Mas sempre amor. Gosto de dormir na tua barriga. Tu gostas de dormir no meu peito. Gostas de falar e rir. Deitado de barriga para o ar. Os dois em cima da cama. Rimos até doer a barriga. Fazemos de conta que somos crianças apaixonadas. Nós somos crianças apaixonadas. Nem sabes o bem que me fazes, digo. Vem deitar-te de novo comigo, respondes. Não posso. Estou atrasada. Eu tenho de sair. Saio sempre mais cedo. Deixo-te um bilhete escrito no vidro da casa de banho. E tu envias sms quando o encontras. Quando eu chegar terei um miminho teu. Eu sei. Obrigada por teres aparecido. Por teres existido sempre. Por me abraçares. Por não dizeres nada quando os silêncios não são para preencher. Por compreenderes. Por desatinares. Por me fazeres ouvir a mim mesma. Por tudo. Só mais uma vez.
Marie et Julien
Não sei como o contornar.
Não me deixes dormir, peço-te.
Amo-te e sinto-me perdida.
Faz de conta e eu continuarei a acreditar.
Não compreendo, e o que não compreendo assusta-me.
As diferenças nos gestos, no olhar, no sentir.
Nunca reparaste. Mas eu sabia.
É uma tortura.
Sou eu e não o sou para ti.
Rasgas-me em duas cortada de alto a baixo.
É preciso fugir de pessoas infelizes.
É umas questão de sobrevivência.
[Por isso te libertei]
domingo, fevereiro 03, 2008
Café com tempo
quarta-feira, janeiro 30, 2008
Aprender a andar
As lágrimas de correr,
Salgadas no doce do teu rosto.
Como os fios, os rios
do teu cabelo sobre os ombros
que chegam às mãos guardadas
nos bolsos.
Onde escondes os tesouros
e pões as migalhas do pão
no sitio onde tens também o coração
Nos bolsos, rotos
onde perdes paixões que
descem as pernas, que caem
nos sapatos e não te deixam correr.
O limite está no andar, nos passos do coração.
Dentro dos sapatos sem atacadores.
domingo, janeiro 27, 2008
O teu único Poema.
sexta-feira, janeiro 25, 2008
Memória
antes do tempo.
[da tua ausência]
Abre o livro da vida e lê-me
as histórias
as que esqueço sem querer
as que o tempo não perdoa.
[em mim]
Deixa-te ficar aqui comigo
no aconchego das palavras
no tempo nosso agora suspenso
[na memória]
O meu coração é uma sala vazia
aqui
imortalizaremos a doçura das recordações
Um dia esqueço os contornos do teu sorriso
de vez. Se não vens.
O sorriso das tuas fotografias.
[O único que lembro]
quarta-feira, janeiro 23, 2008
Batalha de corações
e para sentir o aficamento definhar.
O coração aguerrido não quer parar de bater,
mas a artilharia ficou dispersa nos terrenos,
e as armaduras destruidas pelo fogo
jazem agora sem vida por dentro.
Sobre o levantar da bandeira lavada,
dos lençóis suspensos no arame,
abandonaremos o amor no campo de batalha.
Perdemos para sempre esta guerra.
quinta-feira, janeiro 17, 2008
O primeiro poema da manhã
domingo, janeiro 13, 2008
Palavras com cheiro a tempo.
sexta-feira, janeiro 11, 2008
Somos
Le Revenat, le Fantôme et le Fantasme
Do lado direito do passeio ia o Revenant, no meio o Fantôme e na outra ponta o Fantasme.
Revenant tinha o seu rosto muito pálido e as olheiras bastante acentuadas que em tempos lhe deveriam sobressair imenso os olhos meio verdes. Usava uma boina de campones e em tempos fora uma pessoa muito bem disposta com tendencia para muitos sorrisos e lengalengas. Era um medo bem disposto, mas hoje somente restavam em si palavras que ficaram por dizer qm dias passados. A sua voz não pode ser mais ouvida e o seu corpo não consegue encontrar um lugar em mim onde encostar a cabeça e descançar.
No meio ia o Fantôme. Esse era o meu medo mau. Este era um medo muito muito misterioso que não se dava facilmente a conhecer, a menos que isso envolvesse muito sofrimento e esforço da minha parte. Era o único medo com o qual eu raramente falava, conhecia a sua existencia, mas sempre tive muita tendencia em ignora-lo durante os dias felizes. Sem duvida alguma, o Fantôme era o mais inoportuno de todos os medos e aparecia sempre sem avisar previamente. Visitava-me sem avisar e em alturas em que não era muito bem vindo.
Era um homem de estatura média e tinha o cabelo oleoso, muito agarrado à cabeça. A sua pele era grossa e brilhante, não tinha um aspecto bonito. Era um medo de poucas conversas, e o seus silêncios, pouco eloquentes, perturbavam-me a existencia.
No lado esquerdo, junto à beira da estrada seguia Fantasme. Este era um medo exibicionista por excelencia. aparecia muitas vezes junto a mim quando era apenas uma criança. Lembro-me das minhas amigas também me falarem da existencia dele, mas sempre com cotornos muito diferentes da precepção que eu tinha dele. Lembro-me que, a maior parte das vezes que me vinha visitar, trazia umas orelhas compridas muito grandes e escondia-se atrás da porta do meu quarto para a minha mãe não o encontrar.
O Fantasme é o mais cobarde dos meus três medos. É facilmente ignorado quando começamos a deixar de ter medo do escuro e começamos a perceber que afinal ele faz parte da nossa imaginação. Quando crescemos e isso acontece, o Fantasme pede ajuda ao Reverant e tenta socorrer-se dos seus poderes de metamorfose para nos criar situações complicadas. Este é o unico medo que me põe a rir, talvez por ser o mais antigo e ter mais histórias para contar.