quinta-feira, março 29, 2007


Falta de coisas inesperadas na vida. Quero que a falta de coragem não seja um mal crónico.
Não me vou voltar a esconder atrás do nada, nem seguir em frente de cabeça no chão.

domingo, março 25, 2007

Fim do Mundo


Um dia no meio de um problema ou no meio de um nada, de um vazio, a linha da vida será cortada pelas mãos massacradas que ninguém agarrou.
Que a faca não seja precisa para tirar a vida àqueles que um dia ousaram amar distraídos, que seja a alma amachucada a definhar lá dentro, que lhes tire a cada dia que passa os movimentos, a agilidade, os sentidos, a vida que querem viver com vontade de morrer.
Que se encoste um ferro quente na pele, fundindo a dor de uma vez por todas no corpo até ela chegar à alma. Que essa dor transforme quem a sofrer para sempre, e que a feche de uma vez por todas aos afectos.
Que os melancólicos fiquem para sempre sozinhos com a sua tristeza, dentro de quadrados assimétricos, enquanto os pianos e os violinos lhes arrancam a solidão à dentada das suas cabeças.
Que nos corações de quem não ama, nasça uma árvore sem frutos nem flores, uma árvore sem folhas, uma árvore que não é nada, que não serve para nada, para que eles se sintam preenchidos no espaço para sempre condenado ao vazio.
Que se deixem ficar quietos os que tem a cabeça a andar às voltas, agitados e confusos, enquanto vêm círculos a moverem-se nas paredes; que se deixem a enlouquecer os que se julgam donos das certezas, que o delírio lhes anule toda a razão.
Num lugar branco e claro, que se abram os olhos daqueles que tudo quiseram ver, seja a ametropia a sua doença enquanto os seus olhos ardem; que se oiça uma música alegre e os pensamentos por si processados sejam gritados até eles caírem sem reacção.
Que se cortem as mãos a quem escreve, que se lhes retirem os olhos para que mais nenhuma linha seja lida, que lhes arranquem os ouvidos para não poderem jamais compreender as novas história, que lhes arranquem a língua para que nunca mais envenenem a mente dos que sempre quiseram escrever e ser génios.
Que a justiça seja uma palavra com um significado justo e imutável na mente de todos os anormais, que se encham todos os rostos com um sorriso estúpido, e que toda a gente seja ignorantemente feliz. Que ninguém seja condenado por ser maravilhosamente cruel, por ser fantasticamente louco, ou por ser simplesmente morto dos estímulos do mundo real.
Que a marcha nupcial seja trocada pelo Requiem de Mozart, e que ninguém case por amor, mas por ódio ao outro com quem terá de conviver até converter todo esse sentimento em acção.
Que a música não seja somente um barulho, mas a energia ejaculada pela terra para dentro de nós, que seja mais que um motivo para pessoas sem cérebro agitarem os corpos suados para obterem sexo, que seja fonte de amenomania.
Que a imaginação seja um lugar possível de habitar, onde tudo é fabuloso e funesto, onde se pode encostar a cabeça e dormir sobre o que se ve dentro do corpo, onde a alma é mais que uma extensão de nós mesmos, onde tem um corpo sem roupas, sem frio e sem calor.
Que o sexo se faça somente com a cabeça, que seja mais que uma causa de desgaste de corpos devido ao atrito, que seja um estado de pura alegria e êxtase equivalente ao conhecimento de muitas teorias.
Que habitem aqui, seres desconhecidos que sofram de desconfiança crónica para com os outros, que sejam observados, subestimamos, provocados, humilhados, controlados e traídos pelas suas próprias alucinações, e que se escrevam as mais interessantes histórias sobre eles.
Que o suicídio seja a morte natural de todos os que recorrem sem intenção à vida, que dela sejam donos, e que a morte não seja mais que um orgasmo inversamente proporcional à existência, e à razão sensível.
Que não se sofra nunca mais de neurastenia, que tudo seja irritantemente perverso e soez, que os olhos ao se abrirem não consigam ver mais nada que desgraça.
Que todo este orgulho e tristeza me derrubem sobre os joelhos, com a cabeça baixa em direcção ao centro da terra, que me amarrem as mãos e me tapem os olhos, que me vejam os lábios com desdém sempre que deles saírem ideias absurdas.


Quando o mundo acabar, fecharei a porta e no escuro procurarei alguém igualmente estranho que me faça cócegas no coração.

segunda-feira, março 19, 2007

Na noite


Era noite e apenas se ouviam os passos que iam ficando para trás, enquanto avançava no tempo e nos momentos. O vento soprava sem nenhum murmúrio agregado, e fazia com que os olhos se abrissem ainda mais, abriam-se para a escuridão que descia em estado líquido pelas paredes,e que cobria o alcatrão negro do caminho. A lua estava acessa, mas mínguava tal como as suas vontades de ver fosse o que fosse. Estava frio, e por isso escondia as mãos nos bolsos, não por isso, mas pelo medo de um tocar sentimental que envolvesse toda a sua existência. De mãos nos bolsos pisava a noite sem destino,sem nada que conduzissea sua pessoa a algum lugar, ou a lugar nenhum. Não havia um rumo, mas havia muitas ideias que baloiçavam como que nos fios de cabelo, para cá e para lá, ao compasso dissonante do vento. Ali repousava naquele caminhar, tal como sempre, tal e qual todos os dias, as ruas estavam húmidas e o que restava da lua criava um cenário de espelhos que reflectiam a sua mentira aparente, o seu corpo imundo do mundo, da sua alma suja. Não olhava os espelhos, não queria conhecer a figura que se encontra por de trás do reflexo.
Como uma espécie de passageiro da noite segue em busca de qualquer coisa, não de uma coisa qualquer, conforto, calor, carinho, carência, castigo, cartas, uma casa. Observa a sua cabeça por dentro, mistura as imagens vividas, com as imagens por morrer; tem um frasco dentro da cabeça que contém uma figura alada e incipiente. É a esse ser que dá atenção, é a esse ser que cruelmente tira as asas ao anoitecer, enquanto ri sem parar criando uma alienação da sua realidade, entrando no outro mundo que também é o seu.
Agora trás consigo essa figura, que dentro de uma melancolia eterna chora lágrimas com dor. É àquela miudeza que que mostra a escuridão da noite, a solidão, enquanto vazio de emoções segue somente por seguir o caminho, a que a noite o conduz.
Sente-se livre de tudo, da crueldade de viver, da dor que queimou não no peito, mas no corpo por inteiro, da alquimia com outros distantes, da experimentação megalomana dos sentimentos. Finalmente, no final do dia é livre e não é nada, simplesmenta nada e invisível, no silêncio e no escuro da noite. Ouve sem parar o barulho daquele pequeno corpo que, dentro da garrafa bate com os punhos no vidro por não conseguir voar. Sem asas, coloca nas mãos do ser que tem dentro de si, uma arma fria e carregada, pronta a disparar.
Há uma explosão de adrenalina, hoje alguém vai ser tudo, hoje alguém vai ser livre e voar pelas próprias asas.

sábado, março 17, 2007


Lava-me e esfrega-me a alma também.
Dá-me a tua mão para que possa criar em mim uma ilusão de sentir-te. Deixa que os meus dedos se interlassem nos teus criando uma força inerte e invisível, uma barreira às coisas que são más, e às coisas que não o são.
A ilusão de um sentimento casto e irrefutável turva-me os sentidos magoa-me a existência de mim mesma. A ilusão faz-me doer a cabeça. A dor dá-me a vida que os sentimentos me tiram, os bons sentimentos, as coisas realmente importantes que não sei definir em palavras, por, talvez, não terem na sua realidade, importância nenhuma.
Há uma força em mim que puxa cá para fora, que desmembra de mim, pequenos pedaços e os deixa soltos, como papéis ao vento. Força essa que me cria a esperança de um dia me sentir realmente viva, sem nada entro de mim, e com tudo à minha volta.
Um dia quando morrer quero-me transformar em pequenas cartas, de amor, de suicidio, de despedida, de revolta. Cartas que nunca foram entregues, cartas sem destinatário, cartas por terminar, palavras sinceras, fortes e poderosas, carregadas de uma energia destrutiva. Mas não serão apenas cartas, serão pessoas, as que não tem mãos para dar forma às letras, aquelas que escrevem na cabeça linhas e linhas, histórias só delas, buracos de uma existência sem corpo, sem realidade.
Quando morrer, serei livre do fardo que carrego em mim, os segredos dos outros que me habitam serão finalmente revelados, e todas as histórias terão um fim igual ao meu.
Vou escrever sobre pessoas, umas verdadeiras, outras verdadeiras mas não reais. Vou estudar os livros que os outros trazem nos olhos e nas mãos, ver-lhes a essência de existir, já que eu não o faço. Não consigo ser una, não consigo ser só eu, há sempre uma multidão dentro de mim. Uns que choram, uns que são maus, e poucos outros, que se transformam numa mentira negando a sua presença através do meu sorriso.
São eles que escrevem todas as cartas, sem mãos, só com a cabeça. Eles que são o meu todo, por completo, eles que não tem corpo, e que me usam a mim para escrever cartas sem remetente, cartas que escrevo com as minhas mãos em sofrimento, enquanto despejo a alma.

sábado, março 10, 2007

Novelo

Palavra Solta,
Veneno tomado à colher,
Doce revolta,
Vem ai mais uma palavra torta.
Quem me dera ter a mão morta,
Para não escrever poemas assim.
(...)

sexta-feira, março 09, 2007

Do outro lado da Janela da imaginação

Apartir de um interesse pouco interessante construiram-se casas sobre a terra, muitas casas alinhadas como se fossem caixotes em armários. Cada casa continha uma pessoa, uma cama, uma mesa, e uma folha de papel, como se fosse uma casa de bonecas sem mais artificios superfulos, para brincar basta a imaginação.
As pessoas que viviam nessas casas, dormiam duas horas, nem na noite nem no dia, dormiam quando tinham que dormir. Lá no sitio onde havia casas, não existia tempo, nem noite nem dia, era por isso que ninguém tinha relógios em casa.
As Casas eram pequenas, apenas se podiam dar dez passos para cima, vinte para um lado e quinze para o outro. Sim, lá dentro, as pessoas podiam dar passos para onde quisessem, não estavam limitadas a andar para a frente e para trás, ao contrário de nós, o limite deles era mesmo o chão. Apartir dai já não havia mais nada.
As pessoas acordavam e sentavam-se debaixo da mesa, com medo. As pessoas das casas de bonecas tinham medo daquilo que existia depois das portas de casa e por isso escondiam-se. Tinham medo também da folha de papel, não tinham com o que escrever ou pintar, e por isso tinham medo do poder da folha, medo que quando se chegassem perto as palavras ou as figuras aparecessem subitamente e transformassem toda a sua vida.
Viviam assustadas e olhavam-se nos olhos quando iam as janelas, uma janela em cada parede estabelecia a ponte imaginária entre a sua cabeça e a cabeça da pessoa da casa ao lado. As paredes eram meramente imaginárias, mas havia janelas reais, com vidros e madeiras a segurarem os vidros. Janelas suspensas por onde espreitavam, mesmo sabendo que não havia paredes, porque era assim que criavam o seu espaço periferico de intimidade. Espaço esse que não existia.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Culpa e Inspiração- hoje não


Culpa e Inspiração. Vaguear na culpa. Parar, Matar, Extinguir a inspiração. fechar a porta com oito chaves. Era isso que eu queria dizer. O sete não é perfeito no nosso tempo, seja ele o tempo que for. Ontem, Hoje, Amanhã. Não importa Mais. Não importa Menos. Simplesmente não importa. Dislexia cerebral. Desconectar com o mundo sem tempo. S-E-M-TEM-P-O. Agora. O momento é o já. A culpa do passado que se viveu. A culpa do futuro do passado que se viveu. Inspiração presente, parada, morta e extinta. A porta está fechada com oito chaves. Não sei o número da porta, era isso que eu queria dizer. As chaves estão em cima da mesa, afinal a inspiração está, esteve, estará morta, presa na porta. Eu não sei o número da porta. Não sei onde estará a porta. (o que é uma porta? faz-me um desenho, com carinho, faz-me um desenho e explica-me porque isso de que falo é uma porta) Culpa e Inspiração. Somente culpa. Nada de Inspiração. A culpa desliza pela porta abaixo, enquanto a inspiração espreita sem olhos. Os olhos estão no lugar onde escrevi o número da porta. Dislexia cerebral. Esquecimento. Conectar com o mundo. Fim. Agora, Hoje, Amanhã. Nunca Ontem. Fim.


(escrito na bolha. )
(Incoerentemente Incoerente)

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Starálfur

A melodia eleva-se para outros lugares onde a alma se estende, por campos verdes e montanhas frias em que o meu pensamento permanece enrolado nas descrições de acordes, violinos que choram e sintetizam em mim uma pureza de sentimentos, imagino como seriam os sentimentos que brotaram dos outros ainda virgens destas composições.
Levamos a vida às costas num vácuo avassalador, mantemo-la intacta de perturbadores da razão, vivemos tão dispersos das coisas que nos esquecemos de catalogar aquilo que nos significa algo, trancamos nas masmorras de nós mesmos os gritos abafados que nos doem de pensar.
A melodia mostra-me um céu limpo, metáfora do meu espírito inquieto, leve por ter hoje aberto uma porta de onde vejo o verdadeiro brilhar azul do céu, azul, amarelo, roxo, negro, branco, o céu.
O binómio da porta aberta, porta fechada, quantas portas não bailamos nós pela festa da nossa existência, tantas que deixamos de contar os erros, qual é o verdadeiro significado de fechar uma porta? Qual seria o significado deste artigo comum sem o verbo?

A dualidade de abrir a porta de nós mesmos ao mundo, a dualidade de fecharmos e não sermos ninguém. Paradoxo. Porque nunca somos somente um, porque não existimos sozinhos, porque somos cara e coroa da vida.
A melodia abriu as portas do que somos, talvez pela primeira vez tenhamos ouvido o murmúrio ansioso e anónimo que permaneceu tempo demais debaixo do pó.
Temos duas faces, a que vemos no espelho e a que só conhecemos quando a porta se abre, quando o coração se sente apertado pelo ritmo das coisas que nos entram pelo ouvido; passamos demasiado tempo sem conhecer o paradeiro da chave, e do nada ela abriu-nos a porta.
Não vimos as estrelas que caíram diante de nós, não abrimos a porta para as receber, e elas foram cuspidas pelo céu negro que nos aflige lá fora, estávamos preocupados em acertar os passos com os dias amarelentos e tudo passou assim, devagarinho.
Tenho uma porta aberta para acompanhar a descida vagarosa e agora melódica da estrela que borra o meu céu de brilhos ouro e prata. Não existem receios hoje, abri o livro on
de desenharam mãos unidas, lábios colados, sorrisos rasgados que trago na memórias mesmo sabendo que para falar destas coisas não é preciso esperar, acontece tudo do nada.
Hoje dei um significado diferente às lágrimas que me borraram a partitura coçada pelos sofrimentos, limpei a alma amarfanhada porque hoje compreendi o porquê das coisas.
Todos temos um significado, existe qualquer coisa depois de tudo para justificar todas as existências, nenhum nó se desata sem uma mão ou um pedaço de vento.
A estrela que viste cair ontem ao som da música sem idioma, porque ninguém fala a língua da psique, não caiu por acaso. Caiu para tu a contemplares numa iniquidade doce, a lágrima era apenas a alegria da descoberta. Tal como a minha. Hoje e sempre.



(cuspido ao ritmo de Stáralfur de Sigur Rós)

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Apartir do sempre

Eram pessoas normais. Viviam nem mundo normal. Faziam coisas normais. Mas não eram normais.
Tinham duas pernas, dois braços, uma boca, uma cabeça, possuiam coisas normais de pessoas normais. Mas não eram normais.
Falavam de coisas normais. De livros, de músicas, de árvores, de instrumentos musicais, do tempo, do mundo, das aulas, e até de pessoas normais. Mas não eram normais.
Falavam ao telemóvel, mandavam mensagens, escreviam e-mails, escriam em papeis, falavam baixinho para ninguém ouvir, falavam um com um outro, e falavam com pessoas normais. Mas não eram normais.
Houve um dia, não sei se cedo ou se tarde, mas houve um dia normal, em que começaram a ser pessoas normais. Continuaram a fazer as coisas normais, só que desta vez eles eram pessoas normais.
As pessoas normais não se entendem, não se comunicam, falam-se apenas, mas não se entendem como as pessoas não normais.
Deixaram de viver no mundo das pessoas normais para entrarem numa espécie de Babel, eles não se entendem fora do mundo das pessoas normais.
Já não ouvem as músicas das pessoas normais, e pior, não sentem nada que não seja normal nas músicas das pessoas não normais.
Eles não se entendem, não comunicam, são pessoas normais em Babel. Não no mundo das pessoas normais, mas no lugar onde não se entendem.
Quando forem mais velhos, aqueles que passaram a ser pessoas normais, passarão um pelo outro e não se conhecerão. Eles sabem quem são, mas não sabem falar. No futuro serão somente pessoas normais.




O futuro chega sempre mais cedo quando não queremos que passe.
Tornamo-nos pessoas normais.



"So when weakness turns my ego up
I know you'll count on the me from yesterday.
If I turn into another
dig me up from under what is covering
the better part of me.
Sing this song
remind me that we'll always have each other
When everything else is gone."

Incubus, Dig

domingo, janeiro 14, 2007

Os grandes portugueses -será motivo para rir ou para chorar?

Abriu janelas onde nem sequer paredes havia.Canções que diziam qualquer coisa. Estava pronto para morrer pela liberdade.É pouco face ao muito que há para fazer. O mapa do amor.Uma ciência muito interessante, mas uma ciência muito parada.Quando morrer a Literatura, ele sobreviverá.Fico triste quando saberei quando não terei tempo para tudo saber.Valeu a pena ter lutado, valeu a pena ter sofrido. Enorme capacidade de por em palavras capacidades eternas. O génio da raça e o génio da desgraça.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Bailarina


Porque dói no tempo
Porque se sente no sentir
Porque um porquê não é justificação
Vejo os projectos de ontem
Espalhados pelo chão
Pisados um por um em
Pontas de bailarinas sem aulas
Em pontas de abismos circulares
De um gesto rodopiado arriscado
Pérolas que saltam dos colares
Misturadas com a tortura
De uma musica não encerrada
Porque um porquê não tira do chão
Nem anoitece o cair em que estás deitada
Não há estrelas cadentes
Para guardares no regaço
E até poucos rumos fora dos poentes
Fechas portas sofridas de menina
Abres janelas em toques pouco sentidos
Porque um porquê não justifica
Que num acto desajeitado de bailarina
Faças piruetas da vida
Sufoca o teu ar de pescoço erguido
Porque não podes perder a pose
Daquilo que acham que és
Porque dói tanto, tanto, tanto
Levar a vida sem as palmas dos pés
Gira o tule apertado numa cintura
Sem medidas de gente
Desordena a poeira da vida
Que nem sempre viste feliz
Abafa o ar em que te moves perdida
Porque é assim que o teu deus diz
No teu mundo sem palco
Onde danças contorcida sem dores
Onde choras por gestos
Mas nunca por amores
Arruma as tuas sapatilhas
No meio de flores
Descalça essas apertadas gargantilhas
Que te sufocam gritos de bailado
Abre os braços na luz escura de projectores
Descalça de tudo o que te aperta a memória
O teu número começou
Sem publico mal amado
Dança agora em cima de tudo
Que julgavas já ter pisado.

Não procures pela menina de Ontem


Não procures pela menina de ontem, ela deixou as bonecas perdidas num lugar desconhecido, num lugar de antes, ela já foi, partiu para um depois que não conheces.
Passavas o tempo a torcer o nariz, e fazer caras feias ao bicho pequeno que desarrumava a casa, e trazia os filhos para todas as divisões, perdias-te nos gritos, e ela escondia-se debaixo das cadeiras, tu….tu não podias fugir.
Ela sorria sem ser preciso luz, ela brindava tudo o que a rodeava com uma alegria contagiante, tu fechavas o sorriso e trazias as nuvens para a frente do seu sol, ela era pequena, ela era engraçada, tu estavas a crescer na vida.
Encontrava-te nos cantos a chorar de amores por outras miúdas, que já tinham sido miúdas nos teus tempos de caixa de areia, de baloiços, e passeios no parque, tu ignoravas as perguntas e todos os porquês, ela era pequena, quase insignificante, mas tinha uma vida sem fim.
Davas com ela em brincadeiras de princesas, coroas, castelos e ilusões encantadas com a inocência dos anos verdes, fantasias que ela ainda hoje guarda nos olhos brilhantes.
Como gostavas tu daqueles olhos brilhantes que se passeavam em frente a televisão e te seguiam os movimentos pela casa, como gostavas tu de ver aquele sorriso brotar da simplicidade de um gesto quase banal nos teus olhos.
Eram dias de um sol feliz que não tem vergonha de mostrar a cara, mas tu teimavas em te esconder dela, em esconder-lhe as bonecas nos caixotes para depois a veres que nem uma barata tonta a correr, ela era apenas uma miúda pequena.
Onde está a menina de outros tempo? Onde estão os caixotes das bonecas? O que aconteceu depois de tudo?
Perguntas agora ao tempo para onde levou a tua menina de olhos brilhantes que cabia debaixo das cadeiras. Não perguntes por ela, o ontem é tarde demais, procura-a no depois, despe-a da inocência, ela esqueceu já as bonecas nalgum lugar perdido.

Porque te esqueceste de mim pai?


Um jardim pequeno e um baloiço ao fundo. Uns braços empurram a cadeira do baloiço vigorosamente enquanto umas gargalhadas miúdas sufocam o ar.
- Com mais força pai, ajuda-me a tocar com os pés no céu!
Uma miúda pequena grita do baloiço enquanto se engasga nas suas gargalhadas, os cabelos quase loiros mudam de direcção consoante a força dos braços e do sorriso que vem de dentro do pai. Tem um vestido azul, não do azul do céu que quer tocar com as pontas dos pés, nem do azul que chega ao fim da noite, um vestido do seu azul que lhe acende os pedaços de cabelo loiro sobre o rosto, tem uma pela branca como se tivesse sido mantida virgem do sol até hoje. Os braços continuam a embala-la de trás para a frente, da frente para trás, sei que está feliz e sei que gostaria de ficar naquele embalo até os seus cabelos não possuírem nenhuma madeixa dourada.
O pai vai ajuda-la a tocar no céu com as pontas dos sapatos pretos já sem cor das brincadeiras e das correrias. Sei também que vai guardar para sempre consigo este momento, o pai ao empurrar-lhe o baloiço empurra também para dentro dela as memórias felizes desta tarde. Vai sempre recordar a tarde em que o pai a empurrou no baloiço do parque, em que escreveram os nomes na areia do jardim, em que andou por cima dos seus sapatos no corredor, em que o pai lhe fez cócegas até ela não conseguir respirar, em que foram ao parque de diversões, em que o pai lhe ofereceu uma cassete de desenhos animados nova…Lembro como se fosse hoje o dia em que me trouxeste aquela guitarra cor-de-rosa que brilhava e tinha botões em arco-íris, era o meu brinquedo favorito. Os anos vão passando, mas as memórias felizes permanecerão sempre em cima das que estão manchadas de dor. O pai estará sempre presente, ele vive ninguém o levou, talvez até fosse melhor o terem levado, talvez a menina de hoje não se sentisse esquecida.
Os cabelos loiros escureceram com o sol que se apagou vezes sem conta para depois voltar a acender nas manhas seguintes. A menina foi à escola, andou de baloiço sozinha, aprendeu a ler e a escrever, dançou nas festas da escola, recordo uma vez que estiveste comigo pai, um concurso de música em que me levaste ao palco com os olhos espelhados de orgulho por mostrares que era a tua menina que estava lá. 10anos. A ultima vez que te recordo perto psicologicamente.10anos.
A menina foi a melhor do ano, a menina encantou amores, desencantou paixões, a menina criou gostos, sabes quais são os meus livros favoritos? Sabes de que escrevo todas noites? E as musicas que a menina canta escondida no quarto sabes quais são? Qual foi a ultima vez que ela correu para ti com magoas para te deitar no colo?
Será que não te esqueceste senhor dos braços ágeis que empurrava a menina de cabelos loiros no baloiço, de umas quantas perguntas ao longo da vida? Será que era difícil actualizar a memória dos gostos pouco constantes de um rebento que crescia à tua frente? Muito fácil, bastava saberes amar aquilo que vias todos os dias naquele baloiço velho e branco que tu próprio concebeste.
A menina nunca foi má menina, vivia a vida sem grandes sobressaltos, sempre fui sossegada eu sei, com um sorriso do tamanho do mundo colado ao rosto guardo sempre junto dele as vezes que me empurraste no baloiço, não tenho mais nada para guardar.
Porque te esqueceste de a empurrar durante 10anos senhor das braçadas vigorosas? Porque nunca me empurraste com força suficiente para tocar com os pés no céu?
Porque te esqueceste de mim pai?

Dentro do Toque

Arrepio, cabelos revoltos de uma furia que não é tua nem de ninguem.Faz frio sem cessar lá fora. Ainda bem que estamos cá dentro, pensou, dentro de nós, dentro um do outro como sementes protegidas do que anda por aí. Continuou a reflectir, que significaria estar dentro?
Ninguem consegue estar dentro de ninguém, salvo em momentos em que a natureza e o ser humano se conseguem mutarnos sentimentos e nos restos mortais de cada um. Mas ele sabia que estavam dentro. Do corpo, da barriga, dos braços, das pernas, das mãos, dos olhos, do cabelo, do coração, sim, porque o coração é uma bela metáfora para o que se desconhece.
É do coração e todo o mundo fica satisfeito devido às generalizações e romantismos impregues naquele orgão que dizem comandar tudo.
Ora, ele sabia que estar dentro não era estar no coração, nem queria lá colocar ninguem para ser feliz, afinal quem gostaria de passar dias e noites num lugar que mais parece um serviço de observação com os seus bip-bip constantes? Um lugar onde entra e sai tanta gente diferente, todos os dias, a todas as horas, que mais parece uma biblioteca cheia de histórias que só a nós interessam.
Não era lá que a queria guardar, não lhe daria um lugar assim. Gostava mais de pensar que estar dentro fazia parte de estar no espirito que é imortal, e contém energia do universo. Onde imaginava ter um arco-iris de cores que acalmam, um lugar onde ela estaria tranquila e poderia descansar uma eternidade dentro de si.
Que bom que é ter-te dentro de mim, a colorir-me o espírito, disse-lhe num tom pouco comum de ser mostrado pelos homens fortes no reflexo do espelho. ela sorriu-lhe com a melhor pose a ser fotografada, segurando delicadamente os musculos que lhe movem as feições. Sentiu a união que os fazia passar dias e noites em poucas conversas e muitas meiguices. Concordavam que no silencio também se tinham optimas conversas.
Passou-lhe a mão pelo rosto, acariciando a pele escondida por de trás da barbaque trazia como campo de ervas daninhas sem organização premeditada. Sabia bem tocar-lhe. sabe sempre bem sentir quem se ama, sentir a sua presença e o calor da realidade.
Não pensavam no toque como algo figurativo de aproximação dos poros, sim era esse o caso, mas não é disso que se trata. Tal como sabiam estar dentro um do outro, também sabiam que não era necessario estarem juntos para esse toqu acontecer.
Há pessoas que nos tocam com os olhos, com as palavras, com as expressões, tocam-nos de tal forma que por vezes até um silencio se torna precioso. Se fará parte da realidade este toque que nada tem para ser explicado, porque não existem palavras, eles não querem saber.
Acendeu-se o escuro entre o toque, é disto que são feitos os sentimentos, da comunhão do que há, da miscelania de sentimentos e toques.
A raiva toca-se com a violencia, o amor toca-se com o carinho, a felicidade toca-se com a alegria, o desespero toca-se com a loucura, o ciúme com a desconfiança, sentimentos tocam sentimentos.
E eles tocaram-se, o frio lá fora, os cabelos revoltos, o caus posto na rua de Inverno semeadas, e a paz lá dentro. Sempre dentro um do outro.
- És bonito.
-Abraça-me...

domingo, junho 25, 2006

Carta que nem coragem teria para escrever

Resolvi pegar numa coragem que nunca terei e dizer-te as coisas que nunca terias coragem para ouvir, porque não me levarias a sério ou porque eu te diria a meio que estavas a cair na minha brincadeira. Por todos os motivos e mais alguns sempre foi dificil dizer-te o quanto és especial para mim, sem te comprometer, a ti e a mim, num novelo esquisito com nó.
Assim, nunca saberás a quantidade de sorrisos que me colocas no rosto, a quantidade de vezes que faço planos contigo em pensamento, e a quantidade de vezes que me ri-o por ser tola ao faze-los, mas imagino que muitas destas coisas já te tenham passado pela cabeça quando a tua auto-estima sobe cadeiras, e se manda delas abaixo, com a ideia de que estás a pensar alto.
O que é necessario compreender, é que nem um nem outro fala do que lhe vai na cabeça sobre o outro, é o tabu da relação, e talvez seja por isso que seja misteriosa, cheia de pisos em risco, e passos corridos para a antiga posição.
Se algum dia isso acontecer...bem, nem sei... mas espero ouvir um pouco de coisas que também penso, só para não me sentir abandonada. Tu nunca me abandonaste, duas ou tres vezes não são consideradas abandono, por muito que a minha carencia que se entranha nos poros te pedisse por vezes um pouco de mais, como se eu fosse uma criança egoísta, e tu a minha manta para adormecer.
Desde que nos conhecemos que me dá vontade de deixar a música tocar, descalsar os sapatos e fazer da minha vida uma pista de dança até encontrar a tua, deixando a noite vir de mansinho sem que tenhamos muito que pensar, sem planos, sem acelerar, no ritmo certo.
Lembro os dias, as noites, as horas, os segundos, os risos, os choros, e tudo aquilo que já passamos de bom e de mau, como nos construimos como pessoas em versoes paralelas de pessoas que se gostam.
Podes não ter percebido mas sempre tiveste a minha paixão silenciosa, e não penses que é menos sentida ou importante por não ser falada, porque não é das palavras que construo o sentimento mas dos momentos que passamos juntos.
So quero que vejas e compreendas, o que sinto, o que me deste ao longo de todo este tempo é realmente grandioso pela forma discreta como chega até mim, pela forma como me contraria a natureza tão impulsiva de ser.
Preciso de saber se vai ser sempre assim, a boa disposição, os sorrisos, a paixão para sempre, por muito complicado que seja acreditares naquilo que sinto, não te esqueças que sempre acreditamos um no outro, e naquilo que fechei os olhos para não ver. Mas sei que nunca vou saber, e ainda bem.
Acho que não te podia gostar de maneira melhor, gosto de ti exactamente como és, e tudo aquilo que me dás tem sabor especial independentemente daquilo que navega dentro de ti.
Porque não quero mais do que aquilo que me dás, porque pode até parecer palhaçada estas palavras, mas acredita que tem toda a seriedade que lhe consegui imprimir, so sentimentos mais profundos saem sempre em jeito de tolisse para não ficarmos demasiado orgulhosos daquilo que somos realmente para quem gosta de nós.
E eu gosto de ti exactamente como tu és*


=D

domingo, junho 18, 2006


Amor, Amor, Amor....
Muito se fala, muito se escreve, mas será que alguma vez nos aproximamos daquilo que o sentimento é na sua totalidade?
Para mim Amor pode ser Azul, para o outro pode ser amarelo, será menos Amor se mudar de cor? Duvido, e duvido de muitas formas porque sou de uma espécie que gosta de analisar aquilo de que não se fala...Eu sinto, tu sentes, ele sente, nós sentimos, mas será que sentimos alguma vez, por algum instante minusculo que seja a mesma coisa?
Bem duvido conseguir responder à pergunta por muito que a minha cabeça divague sobre as banalidades do assunto, saturado até se conseguir fazer tranças com um unico fio de cabelo.
O facto é que algo de muito misterioso acontece, as ideias, os olhares, as disposições, os sentimentos, acordam muito perto dos da outra pessoa, e sem se esperar dá-se o eclipse da miscelania que vai cá dentro e dá-se a paixão. Mas assim como explicamos as "paixões impostas"??? Sim, algumas são impostas, não significam que tenham de ser respeitadas ou sempre cheias de paixão, mas e a mãe, e o pai, e a avó, e o primo, e o tio, e o avô???? Não é Amor? Qual foi o minuto em que nos apaixonamos ou nos desapaixonamos por eles?
Não sei, mais uma vez não sei....
Depois somos felizes, o mundo fica cor-de-rosa, amarelo, verde, da cor que se quer, somos felizes, queremos morrer naquele dia porque estamos realizados, porque tudo vale a pena agora, porque tudo agora é para a vida inteira se o sempre não existir. Não atendemos as chamadas do telefone, não lemos as mensagens do telemovel que não são do outro ser em equilibrio energético com o nosso, não precisamos das nossas outras paixões durante uns tempos, ou pelo menos julgamos que não...e quando acaba? deixa de ser Amor?
Metade das pessoas que conheço, inclusivé eu, começa logo com aquelas fugas da realidade, "Ah foi melhor assim, agora vamos ser felizes", "Eu também não gostava assim muito dela", e porque? Quando acaba o Amor é menos Amor? Porque é que umas vezes queremos morrer porque nos falta a outra asa, e outras vezes ganhamos asas para voar mais longe? Para mim o amor só faz sentido quando acaba, deve ser por isso que gosto de coisas que não fazem sentido algum. Não era Amor? Ah, então uns são mais Amor que outros...pois deve ser...há os grandes Amores, os enganos, os acasos, e os outros. (Porque onde quer que se vá, ou do que quer que se fale há sempre aquela(s) pessoa(s) que se denomia o(s) outro(s) )
Então voltamos à vida térrea, o chão está no lugar é a primeira constactação, os amigos de sempre andam pelos sitios de sempre, ou talvez tenham saído do chão enquanto te ausentast, a vida continua pacata, e o Amor? Não, agora voltas às paixões de sempre, sim porque agora essas é que são importantes para os maus momentos, afinal eles nunca abandonam ninguém. As paixões que parmanecem são sempre Amor, até à proxima descolagem.


(Desabafo de inveja a quem anda nas alturas....porque à coisas que me fazem pensar de mais )

domingo, abril 30, 2006

Confusão

Confusão.
Nem mais, nem menos. Isto: sinto-te a falta de uma forma estranha de sentir, Minha ou tua. Sentimos os dois aquilo que corre nos braços e nas pernas. Aquilo que corre no peito, Aquilo que pulsa forçosamente, Num abalar inquieto, numa plenitude forçada de existir. Mas não existo somente na pulsação, Nada existe para além da pulsação, Se não se o é.
Confusão.
O mundo é demasiado profundo e cozido a linha transparente Deixamos de ver a costuras da vida, Onde partimos rompendo ponto a ponto No doer as memórias E as fibras que dão lugar aos sentimentos Que se sentem mas não se olham. Dia após dia. Um, dois, três. Três pontos de costura enviusada cortados Num sentir amaldiçoado que Se sentem e não se olha. Somos cegos das paixões dos dias, Morcegos famintos da luz que brilha, Mas não cessamos o fechar de olhos.
Não cesso. Fecho. A fechadura que colei onde tu estás, Onde está a chave, Onde o mundo começa e termina no mesmo segundo acelerado. Corre, tão depressa que chego a sentir Os fios de vento lisos como a àgua a lamberem-me o rosto, Tão depressa. E paro. Parei.Agora.
Confusão.
Quero-te aqui, protege-me, agarra-me, Não cesses, abraça-me, aquece-me, ama-me, Reconforta-me os brilhos das asas ao vento De quando éramos pássaros dos dias, peço-te. Peço-te tanto. Não tenho nada. Tu dás. Eu não aceito.
Confusão.
Não leio para lá dos olhos, Não leio os livros nem as almas De um passar triturante de corpos deitados na areia em vidro, Não sei ler, Desconheço-te os sinais que não te quero ler. Mentira.
É noite. Hoje e sempre. Quero-te dormir no abraço apertado, Mas no instante seguinte de um tempo demorado não és tu, Eu não quero, Já não existes, És miragem no rosto de alguém que não és tu, Mas és. Ilusão, mais uma noite, Mais uma história encanta de princesas de tule negro nos vestidos, E de príncipes rotos e sujos de purpurinas.Calma.Tu existes-me.És realidade.
Porque durmo ainda nos sonhos de um passado longínquo de ontem,E não vejo que o sonho me despertou para a realidade que sonhamos iludidos,Existimos de novo.Queres-me e não me queres porque eu não sei.Nó na garganta, nó na perna, nó na cabeça, nó no coração,E dói.E volta a doer.Porque sim e porque não.
Confusão.