quarta-feira, novembro 29, 2006

Não procures pela menina de Ontem


Não procures pela menina de ontem, ela deixou as bonecas perdidas num lugar desconhecido, num lugar de antes, ela já foi, partiu para um depois que não conheces.
Passavas o tempo a torcer o nariz, e fazer caras feias ao bicho pequeno que desarrumava a casa, e trazia os filhos para todas as divisões, perdias-te nos gritos, e ela escondia-se debaixo das cadeiras, tu….tu não podias fugir.
Ela sorria sem ser preciso luz, ela brindava tudo o que a rodeava com uma alegria contagiante, tu fechavas o sorriso e trazias as nuvens para a frente do seu sol, ela era pequena, ela era engraçada, tu estavas a crescer na vida.
Encontrava-te nos cantos a chorar de amores por outras miúdas, que já tinham sido miúdas nos teus tempos de caixa de areia, de baloiços, e passeios no parque, tu ignoravas as perguntas e todos os porquês, ela era pequena, quase insignificante, mas tinha uma vida sem fim.
Davas com ela em brincadeiras de princesas, coroas, castelos e ilusões encantadas com a inocência dos anos verdes, fantasias que ela ainda hoje guarda nos olhos brilhantes.
Como gostavas tu daqueles olhos brilhantes que se passeavam em frente a televisão e te seguiam os movimentos pela casa, como gostavas tu de ver aquele sorriso brotar da simplicidade de um gesto quase banal nos teus olhos.
Eram dias de um sol feliz que não tem vergonha de mostrar a cara, mas tu teimavas em te esconder dela, em esconder-lhe as bonecas nos caixotes para depois a veres que nem uma barata tonta a correr, ela era apenas uma miúda pequena.
Onde está a menina de outros tempo? Onde estão os caixotes das bonecas? O que aconteceu depois de tudo?
Perguntas agora ao tempo para onde levou a tua menina de olhos brilhantes que cabia debaixo das cadeiras. Não perguntes por ela, o ontem é tarde demais, procura-a no depois, despe-a da inocência, ela esqueceu já as bonecas nalgum lugar perdido.

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