quarta-feira, novembro 29, 2006

Dentro do Toque

Arrepio, cabelos revoltos de uma furia que não é tua nem de ninguem.Faz frio sem cessar lá fora. Ainda bem que estamos cá dentro, pensou, dentro de nós, dentro um do outro como sementes protegidas do que anda por aí. Continuou a reflectir, que significaria estar dentro?
Ninguem consegue estar dentro de ninguém, salvo em momentos em que a natureza e o ser humano se conseguem mutarnos sentimentos e nos restos mortais de cada um. Mas ele sabia que estavam dentro. Do corpo, da barriga, dos braços, das pernas, das mãos, dos olhos, do cabelo, do coração, sim, porque o coração é uma bela metáfora para o que se desconhece.
É do coração e todo o mundo fica satisfeito devido às generalizações e romantismos impregues naquele orgão que dizem comandar tudo.
Ora, ele sabia que estar dentro não era estar no coração, nem queria lá colocar ninguem para ser feliz, afinal quem gostaria de passar dias e noites num lugar que mais parece um serviço de observação com os seus bip-bip constantes? Um lugar onde entra e sai tanta gente diferente, todos os dias, a todas as horas, que mais parece uma biblioteca cheia de histórias que só a nós interessam.
Não era lá que a queria guardar, não lhe daria um lugar assim. Gostava mais de pensar que estar dentro fazia parte de estar no espirito que é imortal, e contém energia do universo. Onde imaginava ter um arco-iris de cores que acalmam, um lugar onde ela estaria tranquila e poderia descansar uma eternidade dentro de si.
Que bom que é ter-te dentro de mim, a colorir-me o espírito, disse-lhe num tom pouco comum de ser mostrado pelos homens fortes no reflexo do espelho. ela sorriu-lhe com a melhor pose a ser fotografada, segurando delicadamente os musculos que lhe movem as feições. Sentiu a união que os fazia passar dias e noites em poucas conversas e muitas meiguices. Concordavam que no silencio também se tinham optimas conversas.
Passou-lhe a mão pelo rosto, acariciando a pele escondida por de trás da barbaque trazia como campo de ervas daninhas sem organização premeditada. Sabia bem tocar-lhe. sabe sempre bem sentir quem se ama, sentir a sua presença e o calor da realidade.
Não pensavam no toque como algo figurativo de aproximação dos poros, sim era esse o caso, mas não é disso que se trata. Tal como sabiam estar dentro um do outro, também sabiam que não era necessario estarem juntos para esse toqu acontecer.
Há pessoas que nos tocam com os olhos, com as palavras, com as expressões, tocam-nos de tal forma que por vezes até um silencio se torna precioso. Se fará parte da realidade este toque que nada tem para ser explicado, porque não existem palavras, eles não querem saber.
Acendeu-se o escuro entre o toque, é disto que são feitos os sentimentos, da comunhão do que há, da miscelania de sentimentos e toques.
A raiva toca-se com a violencia, o amor toca-se com o carinho, a felicidade toca-se com a alegria, o desespero toca-se com a loucura, o ciúme com a desconfiança, sentimentos tocam sentimentos.
E eles tocaram-se, o frio lá fora, os cabelos revoltos, o caus posto na rua de Inverno semeadas, e a paz lá dentro. Sempre dentro um do outro.
- És bonito.
-Abraça-me...

1 comentário:

|___XyZ___| disse...

"Acendeu-se o escuro entre o toque..."

Adorei, desculpa! Mas como vem sendo hábito, nao consigo passar por aqui sem comentar alguma coisa...

Vim só deixar um grande e forte abraço e, de uma forma um pouco egoista, pedir-te que escrevas mais... Para que te possa ler!

Xauz ,