quinta-feira, janeiro 29, 2009

Diria que já é tempo.

Diria que já é tempo,
já é mais que certo
que a indiferença de outros dias
não passa por nós da mesma maneira.
Diria que já é tempo,
de acordar os olhos do sono,
a alma do fundo,
e todos os seres da escuridão.
A ti,
diria que já é tempo,
de levantar os braços
e aprender a sorrir,
Tempo de coisas novas,
de gestos antigos,
De sentimentos reciclados.
Diria que já é tempo,
de ver mais que objectivos
de entender o que é certo,
sem desprezar o errado.
A ti,
rejubilo o amanhecer
canto poemas tontos
de orgulho escrito,
Proclamo a tua verdade,
porque sempre a precisas de saber.
Diria que já é tempo,
de mostrar o carinho imenso,
mais certo que a própria chuva,
e que faz o coração bater.


( Para a minha Fipa que sempre me dá uma bola palavra quando é preciso)

Casa de Artistas


I

Quando chegou a portugal todas as ruas lhe pareciam pequenas demais. Começou por pensar na claridade, na luz ofuscante vinda do sol a que nada se compara a luz do sol do seu país. Pensou que talvez nunca se fosse habituar a essa luz que irradiava de todos os lados, principalmente da calçada portuguesa, da branca tanto como da preta.

O pouco que conhecia de Portugal tinha-lhe sido contado pela avó materna. A avó apesar de passar maior parte do tempo em Nova York não desperdiçava qualquer oportunidade de viajar até Lisboa durante uns bons meses. Quando era mais pequena chegou a vir de férias com ela, mas a unica coisa de que se lembrava era de um jardim com um cedro enorme que pensava não existir mais.

Foi a sua chegada ao Princípe Real que despertou a memórias de quando era pequena e do Verão que aqui tinha vivido. Afinal a àrvore ainda lá estava, apesar de lhe parecer agora mais pequena.

Tinha sido a morte da sua avó que a tinha trazido de novo a Portugal. Além de querer reviver alguns dos momentos que ali tinha passado com ela, pertencia-lhe agora a chave da velha e empoeirada casa no bairro alto. Já tinha ouvido falar muito daquele lugar e de como a vida nocturna ganhava ali um novo sentido para gente jovem como ela.

Ao encontrar a porta, pequena e verde, com uma janela de onde não dava para ver nada, soube logo que era ali. Conseguia ver a sua avó à janela a admirar as portuguesas que falavam alto de janela para janela. Lembrava-se da miscelania de roupa nos pequenos estendais que pingavam para cima das cabeças de quem passava. Hoje havia pouca roupa nos estendais e metade das janelas pareciam adormecidas há já muito tempo.

Rodou a chave na fechadura e a porta abriu-se mostrando uma enorme escuridão que contrastava com a claridade da rua. Parecia que também ali muita coisa tinha morrido.

Entrou e deixou as malas a segurar na porta enquanto foi à procura de algo que a pudesse iluminar no reconhecimento da casa, arrastando apenas consigo o velho saxofone.

Abriu as janelas todas do andar de baixo e só ai se apercebeu que existiam umas escadas para cima. Subiu sem pensar e encontrou o primeiro andar como uma casa-museu.

Pelo que observava. ou a sua avó dedicava imenso tempo as actividades artisticas, ou ali já tinham vivido muitas pessoas diferentes, com hobbies de todos os géneros. Sentou-se no quarto que pertencera à sua avó para pensar um pouco, no que poderia fazer com aquela casa enorme que agora era dela e o que iria fazer primeiro.

Tinha duas cozinhas, seis salas diferentes, oito quartos que poderiam ser desfeitos e aproveitados como estudios e ainda seis casas de banho. Muita coisa para uma americana a acabada de chegar ao país mais calmo do mundo como ela dizia.

Da janela tudo lhe parecia demasiado intacto, demasiado parado no tempo. Portugal sempre tinha tido essa imagem para si: um país parado no tempo. Como se ao chegar aqui, entrasse realmente no mundo da sua avó e ela estivesse de novo no seu quarto perdida no seu imenso guarda roupa.

Aquela era a sua oportunidade de começar de novo, a oportunidade certa para esquecer o que tinha ficado para trás e começar do zero. Enquanto se perdia cada vez mais nos seus pensamentos, kate olhou para a cómoda antiga da avó e viu um pequeno envelope amarelecido. Agarrou nele e tirou de lá de dentro uma carta, um manuscrito com mais de 10 anos, escrito da ultima vez que Amélia estivera em Portugal.

domingo, janeiro 18, 2009

1ª Discussão (O Balão da Joana)


Naquele instante
Em que o coração se contraiu,
Em que a respiração teimava em oscilar,
Em que as palavras saíram todas erradas,
Naquele instante,
Senti o amor todo,
Preso num balão cheio de ar,
Frágil, Vacilante, indefeso.
E as tuas palavras que teimavam ser alfinetes
Lançadas em todas as direcções
Pareciam não o conseguir alcançar.
Naquele instante,
As palvras não tocavam no amor,
Mas amachucavam o coração,
Feito de papel.
Amassado como se fosse rascunho,
de uma grande obra desprezada.
Aquele instante,
Agora esquecido na memória,
Foi como o vento a soprar o balão,
Perdido no teu universo,
Esquecido na tua enorme imensidão.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

A crise e mau estar da sociedade em que vivemos.

Perante tantas noticias que nos mergulham todos os dias sobre corrupção, bancos a fechar, taxas de juro, aumento dos combustíveis e afins, decidi que também o meu espaço virtual devia deixar por alguns momentos a ficção e se dedicar à minha opinião sobre tudo isto e as suas consequencias no mundo em que vivemos.
Para mim já chega de noticias derrotistas e previsões de mau estar na sociedade. Já percebemos desde sempre que a vida não é um mar de rosas e que se queremos chegar a algum lugar temos que nos mexer e lutar contra a maré. De facto eu não sou o melhor exemplo para estas coisas de andar para a frente e sorrir, pois também sofro da doença crónica de mais de metade dos portugueses: " o deixa andar".
Ao ser confrontada no outro dia com este defeito moral dei por mim a pensar em coisas importantes como o estado do pais e, acima de tudo, com a influência destas noticias na nossa maneira de ser e agir.
Como mais de metade dos portugueses não compreendo muito bem o que é esta coisa da crise; já percebi que pagamos mais e recebemos menos, percebi também que é dificíl andar para a frente e encontrar trabalhos maravilhosos como aquele que ofereceram esta semana na Austrália. Pena eu não saber fazer mergulho e o meu inglês não ser o melhor, porque acho que me sentia capaz de viver numa casa de luxo e andar o dia todo a olhar para corais.
É claro que esta noticia levou ao "Boom" dos desesperados que neste momento procuram na net cursos de mergulho de um mês, ou mesmo cursos de inglês em 30 dias para fazerem a sua apresentação em video e assim se candidatarem a uma vida de sonho.
Na minha medíocre opinião, esta coisa da crise não é mais do que uma doença facilmente contagiosa da parte dos media. As pessoas ficam com medo, tiram o dinheiro do banco e escondem-no debaixo do colchão; quem não tinha muito dinheiro continua a não o ter e quem o tem, tem medo de o investir e como acha que este vai acabar resolve vender os seus valores.
Ora se isto está tão mau, quem tem dinheiro devia faze-lo mexer para fazer andar para a nossa economia, ou não? Afinal de contas se os americanos conseguiram tirar o "Jorge Bruxo" do poder, nós também podemos mudar as coisas.
Dizem que é dificíl encontrar empregos decentes e por consequência, também a vida se torna mais dificíl. Esta semana tentei enviar o meu currículo, que não tem nada de magnífico que me confira experiência para bons trabalhos e, surpresa das surpresas, no dia seguinte tinha resposta de todos eles a marcar entrevistas. Será que o país está mal, ou que as pessoas se tornaram tão exigentes que não se contentam a começar por baixo? Cá para mim, toda gente quer é um primeiro trabalho como gestor de uma empresa, ou como chefe de qualquer coisa com direito a carro e a ordenado com muitos zeros no fim.
Não condeno a exigência das pessoas em ter boa vida e em sonhar, condeno sim a falta de modéstia de quem está a começar agora.
Se este mau estar vai continuar (muito por culpa dos media que ultimamente nos tem arrastado com preocupações por causa do frio e da chuva, quando isso são coisas normais.) sugiro que as pessoas comecem a pensar nas soluções e não em conformar-se com aquilo que nos é imposto. Se a crise continua nós só temos de aceita-la e fazer os mercados andarem para a frente do modo que nos for possível. Deixar de acreditar e ficar em casa a ver as notícias na televisão parece-me uma atitude demasiado vaga.
Se a cada coisa que fizermos pensarmos mais no futuro e tirarmos a cara de carrancudos que as noticias nos colocam, provavelmente as coisas serão melhores. Falta esperança no rosto dos portugueses, faltam objectivos e dinheiro no bolso, mas tudo se consegue com boa disposição e vontade de fazer as coisas mudar.
Na minha , mais uma vez, mediocre opinião, o que falta nos portugueses é vontade de sair do sofá e descalçar as chinelas, assim como boa disposição para fazer o que fazem bem feito.

Por favor, selecionem as noticias que vêm na televisão e façam delas não mtivos para desistir, mas força para continuar, afinal : Quem tem algo por que viver é capaz de suportar qualquer "como". (Nietzsche)

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Onde estás Saly?

Fiquei surpresa quando me disse que já tinha sido uma famosa bailarina de cabaré. Era impossivel para mim, acreditar que aquele frágil corpo com um espirito tão forte dentro de si, já tivesse usado da exuberancia dos corpetes cobertos de pedras, dos cintos de ligas, e de uma sedução selvagem para conquistar homens durante a noite.
Para mim ela não passava de alguém que fugindo da guerra em Berlim, estava agora a trabalhar na loja de fruta no cimo da minha rua. Questionei-a tentando compreender como é que tudo aquilo era possivel. Ela sabia mais que ninguem sobre pessegos, maçãs, bananas e até ananáses que não eram muito comuns numa altura como esta. Disse-me que tinha aprendido com um amigo judeu em Berlim. Antes da guerra e quando ainda trabalhava como bailarina, tinha um amigo que explorava uma pequena frutaria junto da residência onde habitava com o seu escritor americano. A confusão começava a alastrar-se cada vez mais. Estou certo que a guerra levou ao desmoronamento de muitas familias e muitos impérios, mas que fazia aqui na frutaria do lado, uma antiga bailarina de cabaré que tinha um amante americano?
Saly tinha vindo para a Holanda logo após Berlim se ter deixado afundar pelas teias da aranha nazi. Ainda resistiu ao moviemento por uns anos, segundo me contou, mas era impossivel conseguir manter sua profissão tão mal vista e desdenhosa, numa altura que Hitler era o unico que podia recorrer a este tipo de serviço mascarado de luxuria.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Amanhã, como hoje.


Observo-nos em outro momento,
que não este.
As mãos juntas e cansadas pelos dias.
A pele que deixou de estar engomada,
como hoje.
E as lentes dos oculos mais grossas.
Algo se mantem: continuas a não conseguir
ler as placas quando andas na estrada.
Continuamos juntos com a mesma intensidade
de hoje.
A minha cabeça cai sobre o teu ombro,
estamos pesados pelo tempo e
as conversas não são sobre futuro,
como hoje.
Vemos nos livros empoeirados
as fotografias de uma vida toda,
os sorrisos e a juventude,
os lugares e as histórias,
de hoje.
Reconhecemos nessas memórias que mudamos,
mesmo assim ainda vejo nos teus olhos
a luz de outros dias.
Ainda se sente o abraço apertado entre nós,
como o de hoje.
A certeza permanece intacta até ao final.
Como hoje e ontem, a tua rabugice
é a forma mais bonita de te contemplar.

terça-feira, novembro 04, 2008

Agora.

Abri a gaveta dos sorrisos
e olhei bem lá para o fundo.
Antes de poder reagir ao que vi
agarrei naquele que pensei não utilizar mais.
Limpei-lhe o pó e ajeitei-lhe os contornos
para que também isso fosse perfeito.
Fechei os olhos e ao ouvir o convite para
mais uma dança deixei-me levar.
Agora sorrio enquanto a voz me chama,
sorrio como se fosse este o momento,
o momento de todos os "para sempre".
Deixo-me levar devagarinho no caminhar,
deixo que os passos se elevem,
mesmo sem saber onde vou chegar.
Escondo o medo debaixo dos contornos imaginários
do bater do coração.
Agora é tempo de acreditar,
que o momento é o acaso,
que as coisas acontecem na velocidade certa,
que os olhares não se cruzam sem motivo.
Aqui estamos, agora,
no momento certo.
Porque é sempre possivel,
fechar os olhos, sonhar, e sorrir no ritmo do coração.

quarta-feira, outubro 29, 2008


Repara,
o coração ainda bate.
Depois do fim.
No calor dos dias cansados.
Ainda sinto o seu mover
o frágil batimento,
das cordas.
Marionetas,
de sorrisos pintados,
detalhes elaborados.
Mas olha agora,
Ainda bate,
Aquele que nunca vive,
o coração.
Da marioneta mutilada.

sexta-feira, outubro 24, 2008

João sempre foi um nome

João sempre foi um nome,
não sei se o teu.
Por momentos pareces ser,
uma outra pessoa possivelmente.
A escrita sempre foi uma paixão.
O amor dura sempre, para sempre
Até terminar.
Os anos, esses não contam.
Nunca te os contei.
Encontrei-te e perdi-te.
Que importa?
João sempre foi um nome
de alguém que conheço.
Outro alguém que não tu.
Nunca terás o nome,
se não for esse o teu rosto.
São as leis. As pessoas de
gravata no metro são
todas iguais e também
são sempre demais.
Mas tu não, João.
No dia em que descobrir o
teu nome, casaremos.
Numa cerimónia de mentira
- Eu Joana aceito...
e no teu lugar verei
a vela arriada
com medo de nunca encontrar
o porto de abrigo mais proximo.
E que importa?
João é apenas um nome.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Sinceridade - carta de suicídio.

A minha vida pode ser resumida como um conjunto de problemas que tive de resolver, mesmo sem querer. Não é minha intensão escrever uma carta que vos esclareça, como se tivesse enumerado todos os motivos. Nada disso. Amanhã morro e pouco haverá a fazer para me despertarem de novo. Tenho a certeza que mais uma vez vou tomar a decisão certa.
Gostaria hoje de declarar um conjunto de acontecimentos do meu quotidiano que me fizeram encurtar um caminho que deveria completar até ao final. Mas na verdade qual é objectivo de levar uma vida até ao fim? aos que sentem afecto à sua condição de mortais lamento dizer que, apesar de não ter morrido ainda, nada há a temer na morte. Vi isso nos olhos de todos aqueles que vi morrer.
A minha vida vai terminar e mesmo assim sinto remorços de permanecer vivo na memória daqueles que ainda verão na minha cara traços de alguma familiariedade. A esses, suplico que abandonem as minhas memórias e me deixem embarcar finalmente da verdadeira transcendencia.
Despedi-me da minha familia ainda novo. Desde que nasci que desejo acabar com tudo, mas a maldita da vida impediu-me sempre dando-me que fazer. Tudo começou com a minha mãe. Depois de algumas complicações durante o parto, a pobrezinha não resistiu e abandonou-me a mim e aos meus seis irmãos. Toda a familia ficou infeliz excepto eu. Eu sim, fui o melhor que aconteceu à minha mãe livrei-a de uma vida de sacrificio e trabalho. Pouco tempo depois despedi-me do meu pai e dos meus dois irmãos mais velhos. Por não ter força suficiente para segurar a corda durante a limpeza do poço, deixei cair as pedras e o lixo que tinha nas mãos em cima do meu pai. Os meus irmãos foram vítimas de um acidente. Sim, fui eu que os matei. Sempre senti que os meus dois irmãos eram infelizes. Trabalhavam dia e noite para ajudar o meu pai, que por sua vez passava os dias a embebedar-se e a bater nos filhos. Eu também apanhei muitas vezes. Mas ele levou a pior. O corpo morto e enorme do meu pai a cair em cima do suporte onde estavam os meus dois irmãos, eles os tres dentro de àgua cobertos com coisas que lhes levavam o corpo para baixo, mesmo até ao fundo do poço. Nunca esquecerei as suas caras.
Hipocritamente, os meus quatro irmãos ficaram desolados com a notícia. Nunca suportei gente hipocrita e por isso senti que devia lutar contra o sentimento mesquinho que era o deles. Resolvi assim vingar todas as falsas lamentações e acima de tudo, o facto destes não mostrarem qualquer tipo de agradecimento à minha pessoa. Desejava morrer mais que tudo, mas a vida, mais uma vez, obrigava-me a tomar medidas pelos que iam ficando.
Sim, fui eu. Tranquei a minha irmã dentro do forno de onde toda gente da minha familia comeu pão. E continuaram a comer, o pão e os restos dela. Um a um. A minha irmã desapareceu misteriosamente logo após o acidente. Andou a lamentar-se por aquela desgraça durante meses, passou dias a chorar na beira do poço, não aguentei e resolvi acabar com aquilo. Os meus irmãos~não compreendiam o porquê dela ter desaparecido, e eu apenas lhes disse: Vamos comer o pão que o diabo amassou. Estamos todos condenados pela vida.
Eramos apenas quatro à mesa agora. Gente viva sem motivo, pessoas a mais que me incomodavam, não queria morrer com assuntos inacabados. Não podia deixar aqui pessoas condenadas à morte, sangue do meu sangue, a viver uma vida errante à procura de objectivos e motivos para prolongarem a vida a um infinito inexistente.
Uma vez um dos meus irmãos perguntou-me porque é que eu tinha esta atitude tão derrotista com a vida. Apenas lhe respondi que não nasci para trabalhar até morrer, não nasci para fazer pessoas felizes e levar estalos como resposta.
No dia em que a minha mulher me disse que estava grávida fiquei fora de mim. Ela tinha feito com que atentasse contra as minhas convições. Convidei-a para colher flores flores numa tarde quente de verão. Foi descoberta por uns homens dois dias depois junto ao rio. Todos lamentaram que uma mulher tão nova e grávida tivesse um final daqueles. Dei-lhe tudo o que desejava. bati-lhe com uma pedra na cabeça e afoguei-a no rio juntamente com as flores que tinha apanhado, ela sempre me disse que queria morrer no campo. Não importava como, mas no campo. Libertei a minha mulher de um peso enorme que é condenar mais uma vida e ao mesmo tempo consegui liberta-la de existir. Os problemas somos nós e amanhã de manhã eu serei apenas um corpo numa casa vazia.
Da minha familia, sangue do meu sangue, ninguém mais causará problemas, ninguém tentará dar um novo sentido à existencia, apenas eu, corpo frio com um tiro na cabeça. Só eu tive o discernimento de adoptar um comportamento inteligente dando sentido à vida daqueles que me rodeavam.
A minha irmã que restava morreu em casa com toda a sua familia por causa de um acidente de gás. Todos disseram que Deus estava comigo porque naquela noite me senti enjoado e resolvi apanhar ar. O ar que apanhei foi de facto, o ar que saía da casa após eu ter aberto todos os bicos do fogão. Todos jaziam tranquilamente nas suas camas quando dei o alerta pela manhã.
Restavam apenas dois irmãos e se um deles não tivesse problemas de coração de certeza que ainda estava vivo após eu ter desabafado com ele.
A vida obrigou-me a estar farto de viver. quero acabar com tudo rapidamente, desejo a morte mais que tudo na minha vida.
Amanhã de manhã tudo terá finalmente um destino favoravel. O meu irmão a ser morto na aldeia vizinha e eu com esta carta entre a minha cabeça e a ponta da pistola.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Nunca recebi um livro com dedicatória.

terça-feira, outubro 14, 2008

O cantor melancólico.


No tumulto dos dias calmos
exploro o perimetro duvidoso dos teus gestos.
Procuro o instante em que vais ceder,
em que a corda, num dia de brincadeira
largará para sempre o que és, sem nós.
No cárcere dos dias furiosos
talvez encontre outro tu, outro eu
E um mundo diferente do outro,
Onde nos escondemos por de trás
de nós mesmos.
A ansiedade determina o vagar dos
ponteiros do relógio, e a cada
passo estamos mais perto de ver
o verdadeiro debaixo do nevoeiro nocturno.
A agitação do orgão mestre
e o incómodo da cadência determinada
de cada batimento indica a distância
de duas almas que não se encontram por
mais descobertas que estejam.

sexta-feira, outubro 10, 2008

silêncio criativo


Com a força de duas mãos taparam o grito
O impulso escondido atrás de um olhar apatico
A incerteza de escrever a palavra certa, a certeza
de se saber que não era nada disto que deveria ser feito.
O abstracto incomodativo de uma alergia sem causa
A doença como desculpa, hoje e sempre e mais uma vez.
Sempre a doença, de não ser, de não poder, de não nada.
Simplesmente é, e existe definitivamente
Dentro do lado colossal do meu ser,
Um desastroso mas necessário:
Silêncio criativo.

segunda-feira, setembro 29, 2008

Quero ser o António Lobo Antunes.

Um presente/conselho de um amigo chamado Carlos Vicente.
=)


Faltam alguns minutos para a hora que espero. Mesmo assim sinto que tenho todo o tempo do mundo para escrever algumas linhas sobre assunto nenhum. Sempre foi assim: a inspiração ou a falta dela, chegam sempre em cima da hora. Não me preocupo com isso, nunca me preocupei. Como daquela vez em que resolvi participar num concurso de poesia. Não ganhei nada. Pudera, os bons poemas vieram todos depois da hora da entrega. E foram tantos, tão bons e tão maus, mas sempre imensos. Não ganhei nada, nem uma estrofe se salvou. Talvez fosse um problema de inspiração, ou talvez o universo não estava sintonizado no mesmo canal que eu. Paciência.
Cá continuo à espera. No jardim onde se ouve água a correr de uma fonte e o trânsito infernal dos aviões para a portela. Sempre gostei destes contrastes embora aprecie muito mais os dons musicais da natureza. Não estou sozinha, uns bancos mais à frente uma mulher permanece apática. Sempre tive problemas com pessoas apáticas. Preocupa-me o que se passa lá dentro e é indecifrável cá fora. A apatia é como um presente vazio, alguém que não transmite nada cá para fora. Uma pessoa com inspiração invisível, que não se traduz em letras, nem em música, nem em nada. Tem os lábios vermelhos e fuma um cigarro com um vagar quase invejável. Não tivesse eu esta ideia de que sou diferente de todos os extraterrestres do mundo, que gostava de ser assim e fumar um cigarro com aquela delicadeza e indiferença ao mundo. Quem me dera não me preocupar com o tempo.
Essa é uma questão que consigo contornar com alguma astúcia. É por isso que escrevo, para condensar o tempo para todo o sempre. Cada linha é um momento meu em que o tempo não contou, mesmo sem inspiração nenhuma. Quando eu for velha, vou ler as minhas ideias alteradas da juventude e voltar a sentir o mesmo. Juventude condensada e mais um comprimido para as dores nas costas, lidas com mais cinco dioptrias em cada vista.
Agora que vou chegar atrasada ao compromisso a que me propus no inicio desta divagação, confesso porque escrevo: um dia quero ser interessante e culta como o António Lobo Antunes.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Literatura tua, completa.


Que sentimento é este que nos visita?
Prometi que não te escrevia mais palavras
em forma de poema, não prometi sentimentos.
E cá estamos nós, no meio de toda gente
a olharmo-nos como se o coração ainda quente
nos tornasse num só sem o tempo mudado.
O passar dos dias fez de nós, palavras de outros versos
das mãos do escritor vindo de outro universo.
Já vivemos o nosso tempo de miúdos apaixonados
Já nos amamos jovens, e saimos magoados
Agora julgamo-nos adultos que a vida ensinou a viver.
Acreditamos em possiveis recaidas
Mas não dormimos descansados sobre elas.
O possivel não muda nada.
E hoje é possivel, que no meio de toda gente
onde trocamos palavras e nos tocamos em poemas de olhares
Sentir o medo de avançar, até mesmo de perguntar:
Que sentimento é este que nos visita?
Agora que não me reconheces pelos olhos
Restos de amor que não se usou.

domingo, setembro 21, 2008

Há dias...



Eu juro, por todas as coisas sobre as quais não se deve jurar, que se eu mandasse em coisas que não são de ninguém, era a ti que dava o meu coração. [ Mas não posso]

Eu gostava de acordar o coração deste sono demorado e manda-lo a correr ao teu encontro, mas o meu coração só se sabe perder.

[Todos os dias a toda hora]

Eu quero acreditar que um dia me vais voltar as costas e lançar o teu coração ao céu. Quero acreditar que esse amor que desperdiço todos os dias, um dia se vai transformar numa estrela, o amor mais brilhante de todos os amores.

[Todas as noites procuro o meu coração num lugar perdido]

Se há dias em que me apetece esquecer que penso e que és tu quem me pode fazer feliz, também há dias em que me doí cá dentro o simples facto de te ver existir assim.

[mas todos os dias agradeço a tua presença]

sexta-feira, setembro 19, 2008

Across the universe

Close your eyes and I'll kiss you
Tomorrow I'll miss you
Remember I'll always be true
And then while I'm away
I'll write home ev'ry day
And I'll send all my loving for you.


Um dos filmes mais divertidos dos ultimos tempos.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Luz


Todos temos um pedaço dela
e ela é um pedaço em cada um de nós.
No sorriso trás pendurada a leveza
de nunca se deixar levar pela tristeza,
mas como nós também cai e se levanta.
Ela sabe voar num sentimento inebriante que a define.
Ela podia ser uma luz pequenina no céu do universo,
mas é a magia que faz girar o mundo.
O seu andar leva na nossa direcção
os passos demorados que não deixam o tempo passar.
Momentos rápidos, sempre a fugir
registados um a um como se fossem fotografias imaginárias
que guarda com carinho na memória.
Se o mundo fosse só dela, era um jardim encantado.
Nós seriamos flores, beijadas uma a uma
tocadas como se fossemos o bem mais precioso.
Da mesma maneira que somos tocados agora.
O nosso melhor lado é o teu.
O teu sorriso uma felicidade nossa.
(que não nos importamos de dividir com o mundo.)
Para a Raqéu.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Uma questão de sensibilidade


Trago no corpo o abecedário da sensibilidade
Em todos os recantos meus, apresento
uma nova maneira de interpretar os gestos.
Os lugares perdidos a caminho do coração
parecem já não vir nos mapas.
Hoje exploramos lugares diferentes, procuramos
sem chegar a lado nenhum, os caminhos
perdidos a caminho de nós.
Não nos encontramos nunca, e não deixamos
nada em nós vacilar. Desejamos um pouco
mais de nós, um pedaço disperso pelos olhares.
Desprezamos o mundo inteiro, [amo-me mais a mim]
e tu, do outro lado errante da vida
desejas-me de uma maneira tão ardente e solitária
que nunca me conseguirás amar.

sexta-feira, agosto 22, 2008

A letra A


Como se o sol nascesse mesmo à minha frente.
E nos braços cansados se encaixasse o calor dos raios quentes.
O Abraço.
Como se todos os dias vividos acontecessem hoje.
E a minha vida não fosse nada mais, que um filme de Amor.
Só me apetece sorrir, levantar os cantos da boca até às estrelas.
No cair demorado das horas há lagrimas nos olhos.
- Alegria. - Diz alguém que desconheço e me acompanha.
Como se a vida fosse um céu infinito.
Na mão outrora vazia, eis que surge o peso de outra vida.
Uma vida qualquer.
Histórias. Lugares. Silêncio. Segredos. Magia.
- Amigos. - digo eu.
Em forma de flores, cantados em músicas, espalhados pelo mundo inteiro.
Como se hoje todas as palavras necessárias começassem pela letra A.
Exactamente pelo ínicio.