segunda-feira, fevereiro 13, 2006

falta


Sinto-te a falta. Sinto como se tivesse acabado de escrever o teu nome na lista de faltas do supermercado, não precisas de lá estar, no meio dos iogurtes, do leite, do pão, das bolachas, das massas, dos detergentes milagrosos que nos limpam até a alma no seu marketing épico, no meio dos cremes e de todas as coisas que consideramos oxigénio em casa, mas não estás.
Não te posso colocar naquelas linhas destinadas a futilidades, naquele papel pouco digno de histórias, sem alma, roubado a árvores em vida, não te posso fazer isso.
Não te encontro no supermercado, nas montras das lojas, no meio da ultima colecção de um estilista que por acaso era gay, nos corredores dos centros comerciais, nos caixotes de livros, nos mercados, ou até no mercado negro, onde te podia comprar ilegalmente, sem documentos, com uma identidade diferente, em euros ou em dólares.
Porque será que te quero aqui, não existe um motivo, talvez seja uma daquelas doenças que não se sabe de onde vem mas que acabam por ficar, daquelas para as quais não existe remédio, nem comprimidos, nem xaropes, nem gotas, nada.
É estranho, imagino-te nos lugares meus, vejo-te quando a luz começa a fraquejar e me obriga a ajeitar os óculos para a leitura, encontro-te nas páginas dos meus livros, de onde esta saudade forasteira sem sentido se ocupa de me orientar a vida.
Também se apanham doenças nos supermercados? Ou mesmo nas montras das lojas? Onde será que te contrai? Não quero saber, sinto a tua falta que importa o resto? Onde, quando, porquê… o homem perde-se nas interrogações porque não quer correr atrás de respostas.
Sinto a tua falta. Não sei onde te posso adquirir, mas sei onde estás, longe ou perto, entre duas almas unidas não existe distâncias, mas estás. Na minha rua, no meu quarto, no autocarro, no centro comercial, na praia, no café, em Paris… sendo assim, porque sinto eu a tua falta?

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