Ocupa os espaços deixados em branco no meu ser, vem devagar e trás contigo a paz, aquilo que eu procuro parece difícil de encontrar no universo. Podes acordar mal disposto, eu retirarei o que disse na noite anterior. Amar-te-ei. Que me resta mais se não amar? Deitado no sofá pareces tão distante, pareces vindo de um lugar diferente. És tão importante por seres assim, por teres o cabelo fora do lugar e um aspecto desarranjado. Na tua t-shirt verde alface que já vi tantas vezes encontro-me a mim, molécula que se agrega a ti e te esconde o corpo perfeito. Trouxeste-me tudo, tudo, tudo. E eu ainda ouso pedir-te mais. Não vás. Nunca me deixes. Nunca me deixes partir zangada a dizer disparates. Que não preciso de ti. Que o meu coração já não bate. Quando isso acontecer corre atrás de mim. Agarra-me contra uma parede. Aperta-me os braços com jeitinho e lança o teu olhar para dentro do meu. Diz-me baixinho. Olhos nos olhos. Amo-te. Só isso. Basta. Só quero que me ames mais um bocadinho. Que não me deixes fugir. Ouço os teus passos na noite. Chegas tarde tantas vezes. Eu não me importo de te ir dormindo a presença ausente. Não fazes barulho. És quase invisível na tua presença. Entras na cama devagarinho e beijas-me o mais possível. No fundo eu sei que me queres acordar. Despertar para o amor. Como sempre fizeste. Tirar-me da vida latente. Abraças-me e dizes que sentiste a minha falta. Depois há os dias. Os dias. Em que falamos alto porque não nos conseguimos ouvir. Ralhamos. Eu sempre mais que tu. Eu que sou mais fraca. Preciso de falar ainda mais alto. Falo na linguagem do disparate e não sei o que digo. Tens ciúmes. Eu também. Tens razão. Eu também. Temos amor. Pois temos. Acabamos encostados à mesa da cozinha. Encostados um no outro, com o coração próximo. Temos um só coração. Com os ritmos cardíacos a suavizar um no outro. Com os corações a aquecerem-se. Temos um só coração. Um coração sem voz. E duas bocas que falam demais a língua dos disparates. Vemos filmes. Falamos sobre os filmes. Tu cantas músicas no meu ouvido. Eu leio-te poemas enquanto finges dormir. Sei que finges. Vejo o teu sorriso a abrir. Palavra a palavra. Gesto a gesto. Somos o amor todo. Umas vezes mais outras menos. Mas sempre amor. Gosto de dormir na tua barriga. Tu gostas de dormir no meu peito. Gostas de falar e rir. Deitado de barriga para o ar. Os dois em cima da cama. Rimos até doer a barriga. Fazemos de conta que somos crianças apaixonadas. Nós somos crianças apaixonadas. Nem sabes o bem que me fazes, digo. Vem deitar-te de novo comigo, respondes. Não posso. Estou atrasada. Eu tenho de sair. Saio sempre mais cedo. Deixo-te um bilhete escrito no vidro da casa de banho. E tu envias sms quando o encontras. Quando eu chegar terei um miminho teu. Eu sei. Obrigada por teres aparecido. Por teres existido sempre. Por me abraçares. Por não dizeres nada quando os silêncios não são para preencher. Por compreenderes. Por desatinares. Por me fazeres ouvir a mim mesma. Por tudo. Só mais uma vez.
"Amo-te quase demasiado."
Destinatário ausente.
10 comentários:
destinatario ausente por enquanto =) vai dormindo,e vai escrevendo assim sakinho de boxe
Parecia-me quase a Comunidade do Luiz Pacheco, mas noutro registo.
E isto é um enorme elogio.
Parabens...
ó rapaz destinatário, aparece! :-)
Joanne, isto saiu-te mesmo bem! Junto-me ao Carlos, parabéns, sim.
Gostei mesmo muito...os bilhetes de amor sem destinatário são por vezes,os mais bonitos.como este :)
beijinho
Uma "pérola" assim, merecia ser encerrada numa garrafa bem arrolhada e lacrada e lançada ao mar!
Feliz de quem a encontrar !!!
Fantástico texto cara amiga...que imaginação prrodigiosa...
Nesta baía
Quando chega ao fim do dia
As pedras dormem com o mar
Quando vem a calmaria
Bom fim de semana
Mágico beijo
como
café para
chocolate
~
Para ti, hoje só tenho uma palavra: ADOREI!
A intensidade foi-se fazendo sentir à medida que as palavras iam sendo devoradas.
Bjinho***
ler-te é tão bom.
o demasiado nunca é muito. *
gostava de por isto numa peça de teatro, se me deixasses... fica aqui o convite...
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