sábado, outubro 08, 2005
A ultima letra
Ao virar a última página coberta com o pó dos tempos deparei-me com o teu nome já meio apagado pelo devorar inexorável das horas que escorrem entre-dedos.
Não sei o nome de livro nem de autor. Ambos se evaporaram no éter deixando marcas de um ventre aberto onde te deixo repousar e adormecer.
Agora resta a poeira dos dias e noites e o esquecimento no sótão das minhas lembranças.
[A última letra] que eu já nem sei qual é porque perdi todo o sentido de identidade.
Em suspensão vejo-te a pairares qual fantasma benigno em volta de mim, como uma mariposa que haverá de mudar de forma.
[Gosto do negro que criaste e do som etéreo que dele emana, criando um ambiente que rotulo de uma outra dimensão]
Esventrado, sem pinga visível de sangue sustenho o teu respirar que se faz monocórdico e ritmado, ao mesmo tempo que o rosto adquire tons de serenidade que te não conheço quando acordada.
O respirar que se me tornou imprescindível que me rasga ventre, alma, me despoja e ao mesmo tempo me enriquece sentidos, é-me assimilado pelo toque inexistente de longos cabelos macios e calor de boca entreaberta e lábios molhados. [Desejo?] pergunto-me já que o não acordar-te se me tornou impossível.
[Desejo sim] vou imaginando enquanto o teu peito sobe e desce de forma cadenciada marcando as horas e o pó que se acumulará no livro sem nome nem autor.
Sei-o de lombada negra, agora já não tão negra por força de uma poeira esbranquiçada que são as memórias que ambos tentamos apagar sem êxito.
Sei-te em silêncio mas não o entendo.
Apenas de quando em vez uma pequena mensagem ou uma frase furtiva curta, idiossincrática.
Confuso, traçando alquimias estranhas que não buscam ouro mas a ti.
[Tento em vão ler nesse silêncio que não entendo]
De novo em suspensão e imaterializada, ausente de sons, presente muito raramente em pequenas mensagens contendo caracteres que não entendo.
Essa ausência de mim conduz-me à abissal ausência de ti, presente apenas na forte inexistência dos sentidos…
{Não é meu, mas também não sei quem escreveu...só sei que adoro}
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1 comentário:
" [A última letra] que eu já nem sei qual é porque perdi todo o sentido de identidade.
"
Não concordo!!!!
Acho que tens alguns conceitos trocados... Eu, na modesta opinião de quem nada sabe, acho apenas que tens uma identidade muito complexa...
E ainda bem que ressuscitaste, iria sentir a tua falta por cá...
Posso confessar que tenho um livro parecido com esse... Um caderno escrito por mais alguem, que conservo intacto, num sitio esquecido que teimo em relembrar...
Contudo, o caderno existe para que eu recorde algo, que ja passou... Nada mais...
Força !!
**'s
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