quarta-feira, janeiro 30, 2008

Aprender a andar

Não há limites para o teu amor.
Nem barreiras que contenham a água.
As lágrimas de correr,
Salgadas no doce do teu rosto.
Como os fios, os rios
do teu cabelo sobre os ombros
que chegam às mãos guardadas
nos bolsos.
Onde escondes os tesouros
e pões as migalhas do pão
no sitio onde tens também o coração
Nos bolsos, rotos
onde perdes paixões que
descem as pernas, que caem
nos sapatos e não te deixam correr.
O limite está no andar, nos passos do coração.
Dentro dos sapatos sem atacadores.

domingo, janeiro 27, 2008

O teu único Poema.


Fiz a tua digestão,
momento por momento,
fotograma a sorriso.
Atravessaste todo o meu organismo de uma vez,
Eu nunca te quis consumir assim
Sou-te doente, eu fiquei doente de ser
como de sentimentos flutuantes.
É por isso que agora escrevo.
Para te gastar as palavras pela primeira vez.
Estas palavras são unicas e têm nelas
os restos de nós, os olhos e o coração.
Foste uma virgula na minha vida,
marcaste o ritmo e fizeste-me odiar pontuação.
Quebraste a minha velocidade de sentir,
abrandaste a pulsação dos dias compridos.
Paraste o relógio de corda, por não saberes ler.
Condenaste-nos. A ti, nem mais uma palavra,
das pouco sentidas. Exactamente como admiras.
Afogaste-me na tua vacuidade intrinseca,
no teu estado latente de felicidade.
Este é, e será, o teu único Poema.
Sou livre.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Memória

Senta-te no meu coração de pernas cruzadas como faziamos
antes do tempo.
[da tua ausência]
Abre o livro da vida e lê-me
as histórias
as que esqueço sem querer
as que o tempo não perdoa.
[em mim]
Deixa-te ficar aqui comigo
no aconchego das palavras
no tempo nosso agora suspenso
[na memória]
O meu coração é uma sala vazia
aqui
imortalizaremos a doçura das recordações
Um dia esqueço os contornos do teu sorriso
de vez. Se não vens.
O sorriso das tuas fotografias.
[O único que lembro]



Um poema dedicado à memória das nossas ausências mais sentidas.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Batalha de corações


No dia do desmantelamento do coração,
a alma deixará de pesar.
O sentimento amorfo dentro do corpo
baixará para sempre as armas
à nostalgia mórbida das recordações.
O abarracamento serve para pousar o pó
e para sentir o aficamento definhar.
O coração aguerrido não quer parar de bater,
mas a artilharia ficou dispersa nos terrenos,
e as armaduras destruidas pelo fogo
jazem agora sem vida por dentro.
Sobre o levantar da bandeira lavada,
dos lençóis suspensos no arame,
abandonaremos o amor no campo de batalha.


Perdemos para sempre esta guerra.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

O primeiro poema da manhã


Dos dias maus apago tudo,
apenas te acendo o cigarro perfeito.
Lanternas toscas é o que somos,
iluminando os rostos para acreditar no reflexo do espelho.
Todos os dias procuramos uma coisa diferente
nos dias menos bons viramos o reflexo ao contrário
e perdemos esperança na alegria.
Dos dias maus apago-te a morte
e acordo-te para a vida.
Como se fosse um sabão sentimental
que dá para esfregar a alma.
Fosse eu alguma coisa para ver que
os dias apenas nos atiram terra para cima.
Dos dias maus guardo o pó
e deito-te fora as perfeições,
cada vez somos mais sós,
cada vez somos mais o que somos.


[Fipinha, as palavras são tuas! a inspiração és tu!]

domingo, janeiro 13, 2008

Palavras com cheiro a tempo.

Incerteza. dúvida.pensamento que divaga ao sabor do que se quer,
do que nunca se terá, porque tudo se transforma quando é real.
Incerteza dos dias, se chove, se faz sol, se é hoje e amanhã.
Dúvida. mistério. Busca. procuro-te no tempo, no hoje e no ontem
(eu já me cruzei contigo e perdi-te por nada) no amanhã.
Nunca te encontrei perto da janela, encostado à ombreira da porta
com um sorriso solto deixando escapar gargalhadas mudas com os olhos.
E eu sei que não te consigo ler. No dia em que decifrar a tua linguagem
conhecer-te-ei como os dias conhecem as noites, amando-se demoradamente.
Busco-te em todas as linguagens, a das palavras, a dos gestos, a dos olhos,
a das mãos e a do silêncio.
Busco-te para que me preenchas os silêncios e os tornes preciosos.
Sem palavras, sem nada. com tudo.
Busco-te.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Somos


Aplico-te a minha literatura estranha sem pontuações.

Escrevo-te poemas com os olhos só para chamar a tua atenção.

Na ponta da caneta estrangulo palavras até ao último suspiro.

A última hipotese das minhas palavras são os teus olhos.

Tudo é confuso e indefinido entre nós.

Escrevo-te sem regras, agarro-te a mim sem costuras.

Somos mais que palavras ordenadas, somos o caus e a magnolia

que tudo suga e liberta.

Le Revenat, le Fantôme et le Fantasme


No meio de uma rua sem ninguém iam os meus medos.
Do lado direito do passeio ia o Revenant, no meio o Fantôme e na outra ponta o Fantasme.
Revenant tinha o seu rosto muito pálido e as olheiras bastante acentuadas que em tempos lhe deveriam sobressair imenso os olhos meio verdes. Usava uma boina de campones e em tempos fora uma pessoa muito bem disposta com tendencia para muitos sorrisos e lengalengas. Era um medo bem disposto, mas hoje somente restavam em si palavras que ficaram por dizer qm dias passados. A sua voz não pode ser mais ouvida e o seu corpo não consegue encontrar um lugar em mim onde encostar a cabeça e descançar.
No meio ia o Fantôme. Esse era o meu medo mau. Este era um medo muito muito misterioso que não se dava facilmente a conhecer, a menos que isso envolvesse muito sofrimento e esforço da minha parte. Era o único medo com o qual eu raramente falava, conhecia a sua existencia, mas sempre tive muita tendencia em ignora-lo durante os dias felizes. Sem duvida alguma, o Fantôme era o mais inoportuno de todos os medos e aparecia sempre sem avisar previamente. Visitava-me sem avisar e em alturas em que não era muito bem vindo.
Era um homem de estatura média e tinha o cabelo oleoso, muito agarrado à cabeça. A sua pele era grossa e brilhante, não tinha um aspecto bonito. Era um medo de poucas conversas, e o seus silêncios, pouco eloquentes, perturbavam-me a existencia.
No lado esquerdo, junto à beira da estrada seguia Fantasme. Este era um medo exibicionista por excelencia. aparecia muitas vezes junto a mim quando era apenas uma criança. Lembro-me das minhas amigas também me falarem da existencia dele, mas sempre com cotornos muito diferentes da precepção que eu tinha dele. Lembro-me que, a maior parte das vezes que me vinha visitar, trazia umas orelhas compridas muito grandes e escondia-se atrás da porta do meu quarto para a minha mãe não o encontrar.
O Fantasme é o mais cobarde dos meus três medos. É facilmente ignorado quando começamos a deixar de ter medo do escuro e começamos a perceber que afinal ele faz parte da nossa imaginação. Quando crescemos e isso acontece, o Fantasme pede ajuda ao Reverant e tenta socorrer-se dos seus poderes de metamorfose para nos criar situações complicadas. Este é o unico medo que me põe a rir, talvez por ser o mais antigo e ter mais histórias para contar.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Lixeiras sentimentais para Ama-dores




Quem não se entrega às palavras, não faz a digestão dos meus poemas.

domingo, janeiro 06, 2008

Ardes vagarosamente em mim




Deixa arder

Já existe dióxido de carbono a menos no ar

que as palavras que me deixas consomem-me sozinhas

Deixa que as frases fervam o sono até ele se evaporar

as pedras da sopa ficarão de fora só para eu ter que mastigar

a tua fome.

A cabeça evapora as minhas melhores ideias,

as menos frescas, as mascarradas, as terminais.

De ponta a ponta vejo que queima sem cessar,

silênciosamente.

Deixa arder em mim,

não há pressa, apenas mais fumo no ar.

Deixa ferver.

sábado, janeiro 05, 2008

- Era um Carioca de limão e uma boa conversa, sff.


Estavam sentadas numa mesa de um café de Lisboa igual a muitos outros. Um café da moda para onde os adolescentes correm depois das aulas para contarem o desastre que é as suas vidas e fumarem uns cigarros. Era um daqueles lugares cheio de cores e padrões, cadeiras de acrilico baratas e outras coisas que eram mera decoração.
Elas já não eram adolescentes, mas gostavam de se encontrar ali, já era quase um hábito. Não valia a pena discutir outro lugar.
Sentadas frente a frente, uma segurava um cigarro na mão direita enquanto roía as unhas da mão esquerda. A outra gesticulava e falava imenso sobre coisas que nunca tinha visto, sobre pessoas que provavelmente nem existiam, mas que ela gostava de acreditar que eram mais que a sua iamginação. Ambas acreditavam nessas coisas, quase em segredo e numa cumplicidade que se iria revelar aos poucos.
-Uma lareira, um livro e um ombro onde encostar, é pedir muito?
Riam. Mesmo quando o tom da conversa não parecia o mais recomendado. Pelo modo como falavam pareciam compreender-se. Havia nos seus olhos alegrias de meninas que cresceram depressa sem pedir mas que mesmo assim não o queriam parar de fazer.
Queriam sem saber, ser como os livros de que se gosta. Queriam passar devagar e com gosto pelas mãos, queriam que as suas palavras fossem compreendidas como se fossem poesia, verso em branco- diziam. E quando esse livro acabasse queriam deixar saudades nas mãos e no espirito de quem as teve.
Passado bastante tempo de estarem ali sentadas, um empregado aproximou-se para apontar os pedidos:
- Um chá de limão, um carioca.....e duas tostas!
Já estavam ali há tempo demais mas talvez por serem desajustadas ao lugar, ou não adolescentes, ninguém parecia notar a sua presença.
Conversavam sobre relações com prazo de validade, sobre pessoas demasiado importantes e sentimentos perigosos, sobre literatura de ombro que deve ser digerida a dois e com chá quente.
Apesar de estarem ali esquecidas, numa margem entre fumadores e não fumadores que é o mesmo que dizer, no limiar entre os adolescentes e os jovens adultos que frequentavam o lugar, os pedidos lá chegaram à mesa.
Carioca de limão com conversas sobre cinema e peças de teatro, tostas com desejos para o futuro, gafes no português e momentos esperados, chá de limão com pessoas simples e pessoas sensíveis.
Uma delas, de tempos a tempos, folheava o velho caderno e rabiscava umas coisas. Tinham as duas a mania dos cadernos e dos momentos imortalizados em palavras, assim como os desenhos sem sentido. A outra agarrava no telemóvel, uma vez e outra, para controlar o tempo que faltava para o autocarro ou para responder a uma conversa paralela que se intrometia entre elas.
Fumaram juntas aquele a que chamavam o "cigarro perfeito", momentos que dividiam muitas vezes e em que aquele ritual parecia fazer sentido.
Não chegaram a conclusão nenhuma sobre as suas vidas, talvez tivessem descoberto que o atendimento ali era mau e que não eram mais adolescentes,ou talvez ainda o que era uma relação à francesa, mas nada mais que isso.
Aquele era apenas mais um momento para cigarro perfeito, o carioca de limão e uma boa conversa e isso chegava.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Lugares meus

A minha alma tem mais um lugar no mundo para descançar.
[Paris]