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Pela boca morre o peixe.
Tantas vezes me disseste que eu me afastava e voltava a encostar quando precisava, frizando sempre que um dia não ficaria lá ninguém para me amparar a queda. Tantas vezes me disseste que era uma criança mimada viciada em sonhos, que não pensava, que me deixava levar demasiado pelo coração. E eu que sempre olhava para ti como se fosses uma força maior, alguém que pensa imenso e nunca vacila. Alguém que a vida crua tinha feito forte demais para um mundo que nem sempre tem a consistência certa. Eu admirava-te por isso: por não te deixares levar, por saberes que os sonhos acontecem com porporções certas, por teres sempre a palavra certa para cada momento. Ainda te conseguia admirar por saberes dar as belas das
chapadas sem mão como ninguém
. Pelos olhares, pelas palavras, pelos gestos.
Um dia disseste-me que não podia partir e voltar quando quisesse. A presença sempre tão valiosa para ti. E eu ia-me deixando estar, partindo somente durante instantes para não estranhares a minha falta.
Sabes o que odiava mais no meio disto tudo? Quando
afincavas o silêncio por orgulho e esperavas que eu desse o braço a torcer. Eu sempre foi uma marioneta na mão de quem gostava.Quando em certas alturas te tornavas escuridão para quando eu procurasse de novo a tua luz, tu me apontares o foco para os olhos.
Isto faz-me lembrar os miudos pequenos que nas suas mil e uma brincadeiras têm a mania de dizer "Eu disse primeiro". Tu és o meu "disse primeiro", porque
a apressada pergunta, vagarosa resposta e eu sou tão tola que nunca tenho resposta certa para ti.
E tudo se fica por aqui.
Estou farta de não ter respostas ou de as ter curtas. Estou farta de não ser sentida porque há fartura. Estou farta de ser posta de parte porque pareço atrapalhar o que negas existir.
Não sei bem o que isto significa, mas tou farta de levar e nunca dar.
As palavras voam, a escrita fica.