Observo-nos em outro momento,
que não este.
As mãos juntas e cansadas pelos dias.
A pele que deixou de estar engomada,
como hoje.
E as lentes dos oculos mais grossas.
Algo se mantem: continuas a não conseguir
ler as placas quando andas na estrada.
Continuamos juntos com a mesma intensidade
de hoje.
A minha cabeça cai sobre o teu ombro,
estamos pesados pelo tempo e
as conversas não são sobre futuro,
como hoje.
Vemos nos livros empoeirados
as fotografias de uma vida toda,
os sorrisos e a juventude,
os lugares e as histórias,
de hoje.
Reconhecemos nessas memórias que mudamos,
mesmo assim ainda vejo nos teus olhos
a luz de outros dias.
Ainda se sente o abraço apertado entre nós,
como o de hoje.
A certeza permanece intacta até ao final.
Como hoje e ontem, a tua rabugice
é a forma mais bonita de te contemplar.