terça-feira, janeiro 10, 2006

Despedidas ( o recordar)

Odeio despedidas, são coisas impessoais, um modo falso e alegre de deixar partir sem dor quem se gosta. Ninguém considera a partida do que não se perde nos seus pensamentos. Sem laços não existem despedidas.
As palavras saem cruas, apertamo-las nas mãos até as pontas dos dedos ficarem brancas, e o resto da mão adquirir uma tonalidade rosa, para não as deixarmos envolver quem parte,
(Não sou egoísta. Não sou egoísta. Não sou egoísta.)
Não queremos provocar dor naqueles que nos podem levar, na algibeira, na mala, ou mesmo no pensamento, ou em outros lugares mais profundos onde ninguém nos pode arrancar.
Senti-te a fugir, como se fechasses sem eu notar a porta aos poucos, agora só te consigo distinguir as formas na penumbra, não nos queremos comprometer com palavras, não queremos que seja assim.
(Leva-me contigo. Leva-me contigo. Leva-me contigo.)
Sei que não queres nada disto, é impessoal, tem de ser impessoal, não podemos deixar dor, não queremos deixar nada a doer, nada vazio, nada com vontade de ficar. Sei que não és assim, mas tem de ser. Apertas as palavras na mão como se tivesses as mãos a sufocar-te a garganta. Vou fazer o mesmo., por mim, por ti.
(Porque partes? Porque partes? Porque partes?)
Não sabes já qual das mãos me hás-de dar, sentes que preciso de amparo, mas tens as mãos ocupadas a segurarem-te a as palavras que não queres que saiam, tens as mãos a sufocarem-te o grito.
Não quero despedir-me de ti, não vais fugir, não vais morrer, não vais mudar de universo, vais de viagem. Comboio, avião. Muito diferente.
(Voltas? Voltas? Voltas?)
O relógio perde-se nas despedidas, prende-se com a tua partida, como se o sol trocasse o passo ao som de uma valsa, não sei quando voltas.
(Será que voltas? Será que voltas? Será que voltas?)
Espero. Desespero. Talvez.
Mas não me preocupo, a minha asa vai contigo, acabou de se esconder dentro da tua mala enquanto atento, os teus olhos seguiam toda esta reprodução de letras que se cospem uma a uma de forma a haver melodia. Harmonia. Poderás sempre voar se necessário, poderás sempre perder-te, poderás encontrar-te nesta viagem tão tua, só tua.

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