Continua a chover lá fora. Ainda não parou de chover hoje. Gostava que as coisas fossem diferentes. Não o tempo lá fora, que não é mais de uma extensão daquilo que sinto. Apetecia-me chorar desesperadamente, até secar tudo aquilo que existe cá dentro. De todas as dores que já fiz sentir, esta é a que me dói mais. Aquela que vejo doer mais.
Uma ferida sem corpo,
uma dor sem comprimento
e um espaço colossal entre as almas
um espaçamento entre duas pedras na calçada
um buraco suficientemente pequeno
e forçosamente grande para poder partir uma perna
e destruir uma pessoa inteira.
Nem por isso parou de chover. Da janela vejo lá fora as coisas molhadas, desfeitas e sem graça. Não dá vontade de sorrir é verdade. Ainda assim eu sei que faz parte do tudo. Depois dos erros, a reflexão e a limpeza. É por isso que choramos, não porque estamos tristes, nem magoados, nem mesmo porque sofremos, ou porque nos sentimos fracos, uns nadas. Choramos porque a alma precisa de ser limpa, de voltar a adquirir a nossa forma, de mostrar que nós não somos o ser amachucado e disforme em que nos tornaram, que somos mais. Mas custa sempre a tirar os vincos do linho, custa sempre imitar o traço das mãos do génio, custa sempre um dia de chuva sem parar. Mas ainda assim eu sei que um dia vai passar, que vai parar de doer, que as pessoas vão andar impecaveis de novo, com a alma nas costuras certas do corpo. Gostava de ver essas pessoas sem alinhavos já. Mas a vida ensina-me a ser paciente.
E chove. Até fazer sol.
4 comentários:
Há-de fazer sol, eventualmente... E aí, o arco-íris vai aparecer... e espalhar luz :)
P.S.: estranho mundo este o das solteiras mesmo. Mas agradavelzinho. Bom, tem dias...
dou t este meu texto da chuva...ve se gostas
Gosto de chorar quando chove, ninguem ouve ou nota... O nosso estado de espirito faz-nos ver num péssimo dia de inverno o mais bonito dos dias e vice-versa...
Chorar já nem sempre chega para lavar a alma, falta-me um elixir...
Cá estarei a seguir os teus blogs...
E se choramos porque precisamos de lavar e moldar alma,então estas vontade de chorar sem razão,ser
a minh'alma a dizer "Basta"
gostei dos textos, as fotos procuram o promenor incomum.
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